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"Ela era livre em sua selvageria. Ela era uma wanderess, uma gota d'água livre. Ela não pertencia a nenhum homem e a nenhum lugar."

Roman Payne – The Wanderess

Quando eu era criança, acreditava veementemente que as nuvens eram feitas de algodão doce. Não que isso me fizesse especial – a crença era comum entre os da minha idade. O que me fazia especial era algo bem diferente. E esse algo era o maior trauma da minha vida: a morte do meu pai.

Ele morreu quando eu tinha onze anos. Era muito nova, mas não o bastante para não ter lembranças dele. Tinha muitas, até demais. Tinha tantas que, quando ele se foi, elas me renderam meses de depressão.

Minha mãe e ele eram Almas Gêmeas. Eles se conheceram quando minha mãe tinha quinze anos, e ele, dezesseis. Quando ele se foi, minha mãe se fechou. O Relógio dela reiniciou, mas ela não fazia ideia de como conseguiria amar novamente alguém da forma como amava meu pai. Foi a primeira vez que eu vi o Relógio de alguém reiniciar, e foi muito estranho.

Não existe uma ciência exata para os Relógios. Eles simplesmente aparecem. Obra do Destino. Estão lá mesmo antes de você nascer, e marcam uma contagem regressiva até você conhecer a sua Alma Gêmea, alguém que você nunca viu antes na vida. Conheço pessoas que encontraram suas Almas Gêmeas com dois anos de idade, alguns até menos que isso. Mas, aos onze anos, descobrir que seu pai se suicidou, e ter que lidar com o fato de que em dois anos sua mãe traria um novo marido (ou esposa) para casa, definitivamente não foi trivial.

Minha mãe encontrou sua nova Alma Gêmea. Se chama Marc, e tem três anos a mais que ela. Ele é legal, até. Não legal como o meu pai, mas ele me trata bem e trata minha mãe bem também.

E, agora, é a minha vez. Tenho dezoito anos. Em menos de um dia vou conhecer a minha Alma Gêmea. Eu passei os últimos anos renegando a importância desse momento e falando para mim mesma que eu não dava a mínima para isso, mas, com a data tão perto, eu não consigo não indagar: será que é um homem? Será que é uma mulher? Será que é da minha idade? Será que ele ou ela vai morrer, e eu vou encontrar uma outra Alma Gêmea? Será que eu vou morrer e ele ou ela vai encontrar alguém novo?

"Ei", vejo dedos estalando bem em frente aos meus olhos, e recuo um pouco. Olho para o lado e vejo Liam. Nossa. Até esqueci que ele estava ali. "No que você estava pensando?"

Liam é meu amigo. Meu melhor amigo. Bem... Meu único amigo. Estamos juntos quase que desde o útero. Não, não somos irmãos. Nossos pais eram melhores amigos e ele nasceu dois meses depois de mim, e crescemos colados desde então. Ele é alto, forte, tem uma barba rala e um topete de quem passa horas em frente ao espelho (e ele realmente passa). Seu sorriso é encantador e sua voz é suave e...

"Lil? Tá chapada, cara?" Ele me questiona novamente.

"Ahn? Não. Só estava distraída. Deixa. Do que você estava falando mesmo?" Eu pergunto. Ele dá uma risada baixa e arqueia uma sobrancelha.

"Só perguntei como você estava se sentindo. Sabe, com o seu Encontro chegando. E aí você olhou para o horizonte e não disse nada, e eu só assumi que você tinha se drogado antes de sair de casa." Liam diz. Eu faço uma careta para ele.

"Não usei nada. Só estava distraída." Eu digo, tentando me concentrar mais no que estou falando do que em como o Liam fica bonito sob a luz do sol. Argh. O que está acontecendo comigo? Que saco. Liam é meu amigo. Ponto. Final.

"Hum, parece que alguém está nervosa, né?"

"Vai se f.oder." Eu respondo automaticamente.

"Não precisa ficar na defensiva. Eu também estaria nervoso." Ele diz, sendo fofo como sempre.

WANDERESS ➣ 1d fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora