Capítulo II

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Oriana's P.O.V:

- Au revoir! Não te esqueças de nada! - clico repetidamente no botão vermelho do ecrã tátil do meu telemóvel e, ao regressar ao ecrã principal, perco-me na imagem que logo me encara. Esta deveria ter sido das últimas vezes que ele me olhara daquela forma. Os seus olhos conseguiam refletir não só a estabilidade da nossa relação, como também o quanto me encontrava feliz na altura. Desde aí, sou constantemente bombardeada pelo meu subconsciente que insiste em questionar-me do porquê destes momentos se terem desvanescido ao longo do tempo. Porquê Calum?
   Sou interrompida pelo eco da voz autoritária do meu pai que me chama pela segunda vez (penso eu) consecutiva.
   -ORIANAAAA!
-JÁ VOOOUUU! - exclamo, ao mesmo tempo que retorno à realidade.
Colocos os meus pés de cinderela no interior das pantufas e, armada em James Bond, dirijo-me até às escadas desatando a descê-las com passadas leves, rápidas e curtas. Logo me apercebo que este se encontra à minha frente trazendo um expressão de quem já tinha proferido o meu nome pelo menos cinco vezes.
-Aquela louça é para ficar ali? - aponta para uma série de pratos empilhados à direita do lava louça. - e despacha-te que a Alina deve estar a chegar.
   Acinto com a cabeça e rapidamente me dirijo até à cozinha.
Mal ouço o trinco da porta da máquina de lavar louça trancar-se, segue-se o som da campainha que se propaga por toda a casa.
"Deve ser a Alina" - penso ao mesmo tempo que saltito em direção à porta da entrada.
Assim que abro a porta todo o meu contentamento se evapora e dou por mim a fixar o meu olhar com o dele.
   - Não queremos publicidade obrigada. - rosno entre dentes enquanto me preparo para fechar a porta.
- Oriana, espera! - suplica-me ao mesmo tempo que coloca subitamente o seu pé entre a porta de modo a impedir que esta se feche.
- O que é que estás aqui a fazer? - pergunto-lhe de sobrancelhas franzidas - como é que entraste?
- O teu pai abriu-me a porta. Mas porquê falar assim comigo, que eu saiba tenho mais motivos de estar aborrecido.
- Sem dúvida que a tua ingenuidade e desprezo são os aspetos que mais gosto em ti - argumento de forma sarcástica entrelaçando os braços.
- Desprezo ?!?! Que eu saiba foste tu que ignoraste as últimas três mensagens que te enviei ontem! - lembra-me Calum fazendo erguer a sua voz. Pelos seus movimentos gestuais consecutivos apercebo-me do quão ironicamente injustiçado Calum se sente.
- É só? - pergunto com orgulho subentendido na voz.
Calum fita-me agora surpreendido pela minha resposta (bem merecida).
De repente, apenas se ouve o soar de uma chave a rodar na ranhura da porta seguida de rodas a deslizarem sobre o soalho de madeira. " FINALMENTE ALINA". Solto um suspiro.
Desfocando a imagem de Calum ainda perplexo, deparo-me com uma rapariga morena, de cabelo escuro e liso que tenta ao máximo esconder a sua afro natural. Veste umas calças de cintura subida que se escondem atrás de um polo azul às riscas brancas. O seu modo desengoçado de rebocar a mala de pelo menos 19,9kg faz-me soltar uns risinhos e, chocando com Calum, dirijo-me ao encontro de Alina de modo a ajudar a suportar a sua grande bagagem.
- Desculpa o atraso!
Devolvo-lhe um sorriso amável e ajudo-a a carregar tudo o que traz. Ao chegarmos junto à porta, Alina, ao aperceber-se da estranha presença de Calum, não hesita em perguntar se estaria a interromper algo.
- Claro que não, aliás, o Calum estava já de saída!
Assim que digo isto, ele nem se atreve a olhar na minha direcção, limitando-se apenas a retirar-se civilizadamente e, ao descer do primeiro piso ao rés do chão, embate com a porta causando um silêncio agoniante.
- O que raio acabou de acontecer?


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