Capítulo sem título 5

1 0 0
                                    


Preparou a partida. Separou algumas poucas roupas que tinha, lavou, passou e colocou dentro de uma bolsa, o resto que tinha estava dentro de um embornal que levaria no ombro e onde poderia colocar qualquer coisa durante a caminhada.

Foi na prefeitura pedir uma passagem de ônibus para São Paulo, a mandaram ir ao setor de triagem, depois a mandaram para o centro social, até a câmara dos vereadores foi e nada da passagem, percebeu que não iria conseguir, e o tempo estava passando, resolveu que iria caminhando mesmo, uma carona aqui, outra ali, iria em frente, o importante é que somente sentissem a sua falta no dia seguinte, na hora do almoço, era somente nesta hora que sentiam sua falta, e a esta altura já estaria bem longe.

Quatro horas da manhã, lua cheia, noite bonita e estrelada. Dona Célia resolveu que iria embora sem se despedir de ninguém, nem mesmo de sua vizinha e única amiga, Lourdes, não podia arriscar. Colocou tudo em sua bolsa, o que tinha de comer colocou no embornal, olhou para seu atual marido que dormia a sono solto, não olhou muito, apenas lembrou-se dos momentos bons que passaram, e foram poucos, olhou para seu filho, ficou com pena de tanto desperdício, seu destino era incerto, saiu em silêncio de casa, seria livre.

Olhou a última vez para trás, lá ficaria seu passado, pela frente somente esperanças. Passou pelo mercado, viu suas amigas catando os restos dos outros, também ficariam para traz, teria vida nova, era só chegar à estrada, e ir em frente.

Cinco da manhã, já estava na beira da estrada e começou a andar decidida, teria de manter um ritmo, andar somente na hora de sol fraco, nunca exceder, foi quando teve medo pela primeira vez, de enfrentar sozinha aquela situação, aquele novo desafio, mas sabia que daria certo, seria uma vitoriosa, um dia voltaria feliz com o sonho realizado.

Seis horas, e o sol estava saindo, prometendo fazer um lindo dia. Imaginou que poderia arrumar carona no Posto da Polícia Rodoviária Federal, mas teve um grande desapontamento quando leu uma placa verde no posto do guarda rodoviário:

"PROIBIDO PEDIR CARONA NA ÁREA DO POSTO".

Na guarita estava somente um patrulheiro de plantão, bateu na janela e perguntou ao guarda se realmente era proibido pedir carona ali.

-Claro minha senhora, todos os dias temos problemas com pessoas que são atropeladas, mas não é só aqui não, em todo o país é proibido pedir carona ou mesmo que o guarda peça a carona.

Ali começaram seus problemas, e iniciava sua caminhada.

Andou a manhã toda sem parar, mantendo o ritmo estabelecido, havia muito tempo que estava caminhando, mas havia caminhado poucos quilômetros e carona não apareceu nenhuma. Já sentia falta de um banho, era pobre, mas sempre tomava banho todos os dias, e sabia que naquela situação não seria possível.

Andou mais um pouco e avistou um posto de gasolina, e parou para, bebeu água gelada, e como ainda estava com uma roupa limpa, entrou no restaurante. Haviam muitas pessoas naquela hora, era hora do almoço, outras faziam lanche, sentiu muita fome, saiu e comeu um pedaço do pão que tinha na sacola, e ficou um tempo descansando. Naquele dia teve sorte, arrumou uma carona em um, o caminhoneiro a levou até onde podia e a deixou em terras estranhas e bem longe de casa, muito diferente de sua realidade. Já estava escurecendo e a noite caiu rápido, dormiu em um posto de gasolina abandonado na beira da estrada, não tinha água para beber, e estava com muita sede, precisava arrumar uma vasilha para colocar água e seguir em frente.

Dormiu enrolada em uma toalha que tinha na bolsa, e adormeceu. Sonhou com sua casa, seus dois filhos felizes como se não houvesse ocorrido a fatalidade com o mais novo. Acordou com o sol em seu rosto, e com um grande susto, um homem a olhava com cara de poucos amigos, ainda deu tempo de pegar a bolsa e se encolher em um canto, o homem disse:

- Me dâ sua bolsa que te deixo em paz.

- Não, por favor, a bolsa não, aqui só tem minhas coisas, por favor.

- Me dê logo, mulher.

Ela entregou a bolsa, o homem olhou, mexeu, pegou o pedaço de pão que ainda tinha e comeu. Levou tudo, a toalha, as roupas tudo que restava, olhou para ela e deu uma risada e foi embora, deixando a mulher sem nada, se já não tinha nada, agora é que nada tinha, restou somente chorar.


Caminhante das EstradasWhere stories live. Discover now