Capítulo sem título 8

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Depois de alguns dias e com muita fome, avistou ao longe na beira da estrada, uma barraca de lona azul e outra cinza, parecia um acampamento, tinha um homem sentado em um banco, com as pernas cruzadas e olhando para estrada, resolveu pedir um copo de água, não tinha muito sol, mas estava cansada e qualquer ajuda seria bem vinda. O acampamento se aproximava, era um lugar improvisado, as coisas estavam arrumadas no alto de um barranco todo gramado, e ao fundo muitas árvores, era um lugar limpo, devia ser a casa daquele homem, mas ele não se mexia, estava com o olhar fixo na estrada, sentado na beira do barranco somente olhava a estrada.

Quando se aproximou, perguntou:

Bom dia meu senhor, poderia me dar uma ajuda?

-Não!

Foi a resposta que recebeu.

Já ia seguindo seu caminho quando o homem perguntou.

-Tá indo pra onde mulher?

-São Paulo, mas estou perdida, peguei uma carona no começo da viagem e nem sei mais em qual estrada estou.

- A senhora esta na Br 381, também sai em São Paulo.

-Ainda bem, respondeu aliviada.

-Pela outra estrada seria mais rápido, mas andando fica tudo igual.

Ela olhou para aquele homem barbudo e de cabelos brancos sentado em um acampamento na beira da estrada na parte mais alta.

-Muita gente passa aqui e quer tomar meu lugar, já lutei muito, mas pode vir aqui que te dou um copo de água.

Ela subiu o barranco que separava a estrada do acampamento, do outro lado logo abaixo ficava uma pequena cidade de Minas Gerais, o local proporcionava uma visão privilegiada, e de noite a vista que se tinha deveria ser linda.

-Pode me chamar de Eremita Urbano. Disse.

- Parei aqui há alguns anos, uns cinco mais ou menos e também já andei muito pelas estradas, mas tenho medo dos carros, eles andam em alta velocidade, ultrapassam de qualquer maneira e não dá tempo de sair da frente deles. Antes de parar aqui, perdi uma mulher nesta estrada, ela ia atravessar a pista e um infeliz veio em alta velocidade e a atropelou, eu vi tudo, tentei a segurar, mas não entendeu e correu ainda mais, o carro nem parou para tentar socorrer a Penha que morreu ali mesmo. Ninguém sabe ninguém viu quem foi até hoje. Eu anotei a placa do carro, mas ficou faltando uma letra. Ninguém interessou em saber quem foi, por isso procuro ficar longe deles, e aqui no alto me sinto seguro.

O lugar ficava mais elevado que a pista, e havia grama da beira da estrada até o alto, ele tinha duas barracas que foram montadas perto de uma árvore frondosa, um pé de jambo, que proporcionava sombra nos dias de sol e na época dos frutos oferecia um fruto delicioso. A barraca do acampamento ganhou de um morador da cidade, a lona azul foi um caminhoneiro que deu, depois montou um fogão à lenha já que madeira para queimar tinha em abundância na região e assim se mantinha o ano todo, somente ficando à margem da rodovia olhando os carros passarem, bem longe deles.

-Quando estou sem alimento, atravesso a pista e vou na cidade, a distancia é pequena e as pessoas são bondosas e ajudam, todos me conhecem e me chamam de Eremita Urbano, agora meu nome é este. O verdadeiro não interessa.

-Eu não costumo receber ninguém, mas a senhora pode ficar uma noite, sou de paz e não gosto de confusão. Pode descansar um pouco, mas só uma noite, amanhã segue seu caminho.

Caminhante das EstradasWhere stories live. Discover now