Capítulo 5

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Os dois seguiram rua abaixo, seguiriam por uma longa reta a passos curtos e tranquilos, sem que percebessem de repente chegaram à casa de Arthur.

Por sorte, meu bom leitor, Arthur teve que esperar meia hora na casa de Corrêa, pois se ele chegasse mais cedo, minutinhos antes, teria a infelicidade de encontrar as três distintas senhoras ainda fofocando. Ainda bem que neste momento já estão dormindo!!

Antes de começar a contar o que aconteceu ao chegarem em casa, devo dizer que já é meia noite, ou seja, começa agora o segundo dia de amor: Segunda, dia dois de julho de 1920, dia em que se comemora a independência da Bahia.

- Entre, fique à vontade! – diz Arthur ao abrir a porta e acender as luzes – Eu vou preparar um banho para você.

O escritor foi ao banheiro e cuidadosamente preparou um banho morno para Julia, ela agradeceu pelo carinho e relaxou depois de um dia bastante agitado.

No outro cômodo, o jovem escritor trocou os lençóis de sua cama e arrumou para a sua amiga dormir. Feito isso se dirigiu a um sofá velho que estava acomodado no canto da sala e caiu num sono profundo.

Após o banho, Julia se dirigiu para a sala e para a sua surpresa encontrou Arthur se revirando em um pequeno sofá no canto da sala.

- Ei! Arthur! – ela cutucava ele com a ponta dos dedos - Você está acordado?

Poucos segundos depois preguiçosamente ele responde – sim...

- Por que está dormindo aí? Sua cama já está pronta. Eu é que vou dormir aqui!

- Não, obrigado! Eu fiz a cama para você.

- Mas...

- Nem mas, nem menos, nem talvez, muito menos entretanto. Você vai dormir na minha cama... - sem esperar resposta ele se vira dando às costas para ela.

Julia sorri, e fica parada olhando o seu amigo que em poucos segundos, ao que parece, já estava dormindo. Depois de observá-lo por alguns instantes, ela beija a fronte do escritor e agradece baixinho, quase como um balbuciar.

Quando a amiga entrou no quarto Arthur abriu os olhos e se certificou de que ela não estava na sala. Então levantou.

- Não queria preocupá-la, mas estou sem sono e é por uma coisa tola - pensa ele – Eu conheço ela, Julia ficaria acordada até eu dormir. Preciso ideias! O amor! Este é uma dor! Não! Não posso pensar assim, senão as idéias não virão...

O poeta pegou uma folha de papel e começou a rabiscar algumas coisas. A medida em que escrevia, a letra ficava tortuosa, as palavras ficavam confusas e o texto parecia uma colcha de retalhos... Não estava se concentrando. Ele olhava para cima, coçava a barba rala, passava mão pelo pescoço. Esfregava os olhos. Algo parecia incomodá-lo até que...

- Chega! – extravasa com um berro, mas logo em seguida tapou a boca imediatamente... Tinha esquecido de que não estava só.

Voltou para o sofá e lá voltou a se remexer para tentar dormir. Julia tinha visto tudo, estava atrás da porta olhando de soslaio. Ela esperou ele cochilar, mas não demorou muito para isso, uns três minutos depois e ele já estava sonhando.

Após ver o amigo dormir, ela foi direto para escrivaninha para ver o que ele tinha rabiscado. Na mesa ela encontrou papeis riscados, alguns rasgados, mas foi uma bola de papel amassado, cujo texto estava manchado de lágrimas que lhe chamou atenção. Era uma poesia que em letras tortuosas assim dizia...

"Digo aos românticos boêmios:

Podem viver milênios!

Que a verdade nunca terão,

Sete dias para o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora