Falling Skies

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Ela estava deitada. Ainda na cama como se o relógio não bradasse desesperadamente para levantar e ir ao hospital. Como se a claridade não invadisse as janelas e a chacoalhasse incessantemente. O travesseiro de plumas e os lençóis torturadamente macios a acariciavam, todavia o instinto falava mais alto e foi obrigada a acatá-lo. Ela se levantou, abriu as cortinas e se olhos na porta espelhada do guarda-roupas. Era hora de começar mais uma semana do que ela mais amava fazer: exercer a medicina. Depois de todo um ritual – acordar, fazer a higiene, trocar a roupa, se maquiar e tomar café – Anna estava pronta para ir para o hospital.

O sol estava brilhando, contrariando todas as expectativas de um temporal, as quais já haviam duas semanas que foram anunciadas. O tráfego até o hospital estava mais inerte que o normal, trazendo todos os nervos da cardiologista à flor da pele. Inquieta, ela colocava e tirava o Ray Ban, estressada, mexia no cabelo prendendo-o e olhava para o retrovisor, soltando-o novamente. O renque de carros a sua frente buzinava como se o barulho ensurdecedor fosse resolver alguma coisa. Já era possível ver as entradas platinadas do hospital refletindo a luz do sol, e a avenida de mão dupla era a única coisa que atrapalhava seu caminho. O contorno, o qual a permitiria chegar ao estacionamento particular do hospital estava a aproximadamente duzentos metros. No mesmo rumo da rua à direita da edificação hospitalar, a mesma onde a entrada da ambulância se localizava. Tirando o congestionamento e a movimentação típica de Malibu para uma segunda feira às dez horas da manhã, tudo estava perfeitamente normal. Tudo estava maravilhoso. Tudo igual a todos os dias.

Ignorando o brando trânsito e a vontade colossal de largar o Audi no meio da pista e ir logo ao trabalho, Anna conseguiu recuperar a pacatez que nem sabia que existia e estacionar o carro na vaga reservada a ela no estacionamento privado que era restrito aos médicos. Pegou o elevador cumprimentando todos ali. Desde pequena fora ensinada que o sucesso não era nada caso não fosse acompanhado de uma boa educação. Não adiantava ter mestrado, doutorado ou especialização e não cumprimentar as pessoas a sua volta. Desconsiderou o semblante constipado que Penélope tinha ao vê-la e segui para a sala de descanso, deixar os objetos pessoais e se preparar para a cirurgia que começaria dali quarenta minutos. Zayn já estava na sala, depositando o jaleco no porta-casacos e colocando a touca.

- Bom dia! – Anna bradou exultante.

- Bom dia, Anna. – O moreno cumprimentou-a com um beijo na bochecha, ignorando o fato de já tê-la beijado em lugares muito mais excêntricos que o rosto. – Pronta para a cirurgia?

- Sempre, Malik. – A cardiologista ostentou em uma falsa prepotência enquanto arrumava a gola da blusa polo do pediatra, que assim como ela, tinha a liberdade de não vestir o uniforme no trabalho. Passando a mão discretamente pela nunca dele e repousando em seu tórax, sorrindo em seguida e tomando o seu caminho para o quarto da paciente.

Esse seria o dia da cirurgia de Haley. Com muito esforço, Anna conseguira convencer Charlie a não filmar a operação, e não fora fácil já que traria grande credibilidade para o hospital, mas levando em conta que a maior cirurgia ainda estava por vir, a de Melinda Colleman, fora relativamente fácil persuadir o mais velho. O plano da intervenção cirúrgica fora todo pensado desde a última visita da menina. As veias comprometidas seriam trocadas por túbulos sintéticos e biocompatíveis. A garotinha teria novamente o fluxo sanguíneo restaurado, provavelmente seus rins voltariam a funcionar perfeitamente depois da cirurgia de reparação de Malik e, como toda criança normal, ela teria a escola como um ambiente regular, e não o hospital.

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