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LÍVIA FORKS

Estava chegando a hora do embarque e eu estava muito tensa. Algo ruim estava por vir, sentia isso.

O ônibus que nos levaria chegou e em pouco tempo, todos os instrumentos estavam bem ajeitados lá dentro.

Embarcamos. Sentei em um banco mais no fundo, na janela. Assim que senti A partida do ônibus, um calafrio percorreu meu corpo. Algo estava errado.

Encostei a cabeça na janela tentando abafar minhas sensações. Coloquei meus fones e fechei os olhos.

Algum tempo depois, umas 2h acho, alguém me cutucou. Lentamente virei a cabeça e abri os olhos. Tobias estava sentado ao meu lado.

Virei a cabeça e fechei os olhos, me encostando na janela.

Dois segundos depois, meu fone foi arrancado. Quem ele pensa que é pra arrancar meu fone?

- O que você quer? - perguntei sem fazer questão de ser gentil.

- Temos que conversar.

- Foda-se, eu não quero conversar.

- Por quanto tempo vamos adiar isso?

- Pra sempre é um tempo bom.

- Lívia, eu vou falar, independente da sua opinião.

- Você tem 2 minutos e 1 já passou.

- Aquela sexta-feira, eu ia te contar tudo. Ia contar que Rose e eu tinhamos voltado.

- Voltado?

-Sim, ano passado a gente já ficava.

- Hm.

- E então a gente voltou. Aquele dia, na biblioteca.

- Sempre soube que você não ia buscar livros.

- Desculpe. Eu ia te contar, mas você não me deu chance! Poxa Lívia, o que foi aquilo na segunda-feira?

- Aquilo Tobias, foi raiva. Você colocou outra garota no meu lugar, bastou eu virar as costas. E raiva porque era a menina que me odeia, porque você não se despediu de mim, porque não me contou antes, porque me deixou ir !! É por isso que eu tenho raiva de você Tobias!

- Ei, calma aí. Raiva porque ela usou sua cama?

- Eu nunca mais iria dormir em uma cama com cheiro de outra.

- Mas dormir com o cheiro de outro lhe pareceu uma boa saída?!

- Daniel tem um cheiro muito bom, sabia?

- Não quero saber, poha!

Ele estava começando a me irritar.

- Tem mais algo que queira me contar?

- Tem, mas não sei se posso lhe contar. Na verdade, não posso.

- Agora que falou vai ter que contar.

- Não, eu não devia ter dito isso.

- Então sai daqui e não olha mais na minha cara.

- Não posso.

- Por que não?

- Porque eu estaria quebrando a promessa que fiz ao seu pai.

- Peraí... Meu pai? O que?

- É uma longa história...

Tobias me contou tudo: como meu pai chegou até ele; a conversa; meu passado e por fim, a promessa.

- Você sempre soube tudo sobre mim? Esse tempo todo?

- Sim.

- Eu não acredito nisso. Eu vou matar meu pai. Acho que nunca me senti tão exposta assim... Mas bem, agora é sua vez. Me conte seu passado. Sem esconder nada.

Da mesma forma como contou sobre meu pai, ele contou sobre o próprio passado.
Seus pais são grandes empresários. Ricos pra caralho. Porém, um descuido deles fez com que Tobias nascesse. A mãe de Tobias tinha apenas 15 anos quando T nasceu. E desde então eles jogam na cara dele o quão indesejado ele é.
Na verdade, ele foi criado pela empregada.
Foram muitas e muitas brigas, discussões e sofrimento.

Assim como eu sofri pela depressão, ele sofreu pela crueldade dos pais.

- Ah nossa... Eu... Eu sinto muito, não sei nem o que dizer...

- Ah, tudo bem. Já estou acostumado. Não preciso da sua pena.

- Mas... ai. O que eu poderia fazer pra te ajudar?

-Continuar me ouvindo.

- Tudo bem.

- Eu terminei com a Rose hoje.

- Por que fez isso?

- Por você.

- Eu não entendo...

- Lívia, desde aquele tombo no pátio, eu sabia que ia me foder de mais, mas cara, eu não consigo mais pensar em algo sem que você apareça na minha cabeça. Poha, me desculpa por ser um otário, por não ser o cara que tu merece. Desculpa por ser tão eu. E ao mesmo tempo tão você.

- Muita calma nessa hora, acho que eu to entendendo errado.

- Não, não ta. É isso mesmo.

- Me explica melhor.

Sem nem pensar dua vezes, ele pos as mãos no meu rosto e se aproximou olhando firme em meus olhos. Finalmente, ele selou meus lábios e os dele, no primeiro beijo da minha vida.
Seus lábios eram finos e ásperos, mas extremamente convidativos.
Levei minhas mãos ao seu pescoço e fiz carinho no cabelo sedoso.
Era um beijo lento, daqueles que guardamos para um alguém em especial.
Então era isso: Tobias era meu alguém especial.

Como quem tem medo de perder o bem mais precioso do mundo, Tobias se afastou.
Permaneci de olhos fechados, com as mãos agarradas em sua camisa, sentindo minha respiração contra seu peito.

Muito lentamente abri os olhos, focando no tecido da camisa dele. Tobias ainda acariciava minha nuca com as mãos.

- Ainda precisa de explicação?

- De jeito nenhum, T.

- Então agora voltei a ser único?

- Você sempre foi.

Ergui os olhos até encontrar aquele azul irradiante dos seus olhos.

- Mais alguma revelação bombástica, Msr. Scott?

- Não, mas e você? Srt. Forks?

- Sim.

- Mesmo? Então revele.

- Você roubou algo de mim.

- O que?

- Meu primeiro beijo.

- Ah fala sério, você tem 14 anos e é, aliás, era B.V?

- Sim. Algo errado?

- Não. Mas sabe o que isso significa?

- Hm?

- Que eu sou um cara de sorte.

Rimos e eu me sentia no céu, em meio ao meu segundo beijo.

Acho que, enfim, aquele pressentimento ruim era apenas bobagem.


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