Capítulo 2 - Que olhos grandes você tem

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VOCÊ NUNCA ESTARÁ SOZINHA

Notei que o lobo me encarava no mesmo lugar, ele não recuara um único centímetro. Continuará fitar de maneira estranha e arrepiante, de repente virou-se adentrando na floresta do outro lado, não sem antes olhar-me mais uma vez. Eu sabia que ele queria que o seguisse. E aquilo estranhamente não me pareceu anormal, mas o fiz.

Durante nossa caminhada, ele por diversas vezes virava-se para ter certeza de que, eu o acompanhara, para guiar-me. Chovia já torrencialmente fora da floresta, mas dentro as árvores diminuíam o fluxo das águas. Mesmo assim, o lobo cinzento adentrou em uma caverna. Logo ao enxergar a entrada, vi a grande matilha. Haviam pelo menos dez lobos por toda a parte, sentados de modo natural, olhavam a chuva e a entrada, mas nem sequer me olharam quando passei em meio a eles.

Perdida pela a imagem do fogo que crepitava no meio das pedras, notei o sinal que o lobo fizera para que me sentasse perto. Minhas roupas estavam ensopadas e notei que tremia. Sentei sentindo-me grata. O lobo cinzento que me guiara se prostrou ao meu lado, passei a mão em seu pelos fofos e quentes. Ele sentou-se perto, me esquentando enquanto os olhos azuis brilhavam de maneira enigmática diante do fogo. De repente o corpo quente e felpudo ao meu lado ficou tenso e ergueu-se.

Um homem de apareça gentil apareceu do nada arrodeado por uma escuridão.

Havia algo familiar ali, naquele homem, mas não pude distinguir e isso me desagradava.

- Acautele-se - ele falou de repente, com uma voz familiar e rouca. A frase era estranha, absurda para mim. -Acautele-se - Ele repetiu, e então ouvi os rosnados.

Virei-me a tempo de ver a matilha avançar pela caverna, com suas presas afiadas e caninos expostos na direção do homem.

O lobo cinzento se prostrou de maneira protetora em minha frente, rosnando, protegendo-me. Mas o homem continuava parado, só assistindo.

- Cuidado ao andar com lobos garotinha - falou de maneira agourenta.

Os rosnados estavam pertos e altos, ensurdecedores e eu se quer conseguia dar um passo para fugir.

- É melhor você ir agora. -

Assustei-me, não era mais o homem que falava, mas meu lobo cinzento. Não mexia a boca, mas o escutara na minha cabeça. O homem se transformou em um enorme lobo negro. Meu lobo estava em posição de ataque enquanto o lobo negro e bem maior avançava rapidamente, pulando pronto para agarrar a minha jugular.

-Acorde!! - Gritou o cinzento, com sua voz quase humana. E no momento em que os animais se chocaram, acordei no chão. Caíra da cama durante o sono.

Levei a mão ao pescoço automaticamente e procurei pelos rosnados ao redor. Fora um sonho, e não consegui mais dormir naquela noite. Não era a primeira vez que sonhava com lobos, mas mesmo assim, aquilo me abalara. Tudo se passara em pouco tempo desde a hora que me repousei, mas parecera eternidade! No mais, fico com a impressão angustiante e até mesmo insana que estou deixando algo passar. Mas o que seria?

Já havia me despertado para um novo dia, por mais que estivesse cansada e dormido quase nada na noite anterior. Um novo dia estava a gritar pela fresta de minha janela; quase como um pequeno milagre, uma mínima iluminação natural do raiar do sol, que passara em meio de madeiras e barras de ferro.

- Valentina! Desça querida. Venha comer alguma coisa. - Gritou mamãe. A mesa estava posta, não tinha muito, não era nenhuma mesa de rainha, mas era o suficiente para nós duas. A vida não estava boa, pois toda a vila estava passando por uma colheita escarça.

Chapeuzinho Vermelho - A verdadeira históriaOnde histórias criam vida. Descubra agora