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{Liz}

Eu e a minha irmã voltamos par casa, visto que as aulas ainda não começavam naquele dia e nós não estávamos minimamente interessadas em fazer parte de uma fraternidade. Até imaginava o que aquelas miúdas fúteis faziam nas delas. Achava aquilo simplesmente ridículo, não precisava de uma fraternidade para me achar superior aos outros como o outro idiota. A sério mas como é que ele tinha ido lá parar? O mundo é mesmo pequeno.

- Queres fazer alguma coisa para o almoço ou pedimos? – A minha irmã acordou-me dos meus desvaneios.

- Melhor pedir, não estou com apetite nenhum de cozinhar... - Afirmei, subindo até ao meu quarto para pegar no meu bloco de desenho. Quando voltei a descer, ela tinha acabado de desligar a chamada – O que pediste?

- Pizza! – Informou, atirando-se para o sofá toda lontra, ligando a televisão baixinho.

- Que planos tens para de tarde? – Perguntei para decidir os meus também.

- Vou às compras, mas tu não podes ir! – Ela respondeu muito rápido.

- Porquê? – Guinchei indignada.

- Depois vês... - Ela afirmou com um grande sorriso.

- Está bem, então vou dar uso àquele atelier! – Apontei com o queixo o atelier no jardim que os meus pais tinham mandado construir para mim. Sabia que era uma espécie de maneira de me comprar para me convencer a gostar de estar ali. Tinha sido uma benesse, sem dúvida, agora que tínhamos uma casa maior, havia espaço para o atelier que eu tanto tinha pedido e desejado. Já estávamos ali e, quer eu gostasse quer não, era ali que íamos ficar, portanto mais valia aproveitar o meu presente mesmo.

- Acho que fazes bem! – Ela disse com um sorriso e eu fui dar-lhe um abraço fofo. Ficando assim abraçada a ela até ouvirmos a campainha com a nossa pizza.

- Eu vou lá. – Informei, levantando-me e indo até à minha carteira buscar dinheiro para pagar a pizza. Em seguida, fui abrir a porta e recebi a pizza, deixando o troco como gorjeta para o estafeta. Fechei a porta de entrada e fui pousar a pizza na mesa de centro, caminhando depois para a cozinhar para pegar em copos e bebidas. Quando as encontrei, voltei para junto da minha irmã e as duas começamos a comer sem demoras, olhando a televisão à nossa frente. Senti-a pegar no telemóvel dela e começar a ver as novidades. Passado um bocado, manda um guincho do tamanho do mundo, tal era a sua indignação.

- O que é que aconteceu? – perguntei assustada com a mão no peito. Ela virou o telemóvel para mim, mostrando-me uma foto.

- O Enzo anda a sair com a cabra da Priscille! – Ela explicou com uma voz esganiçada, o que me fez rir. Enzo era o ex namorado dela, apesar de já terem acabado há algum tempo, continuavam a ver-se. No entanto, quando tínhamos vindo para os EUA isso deixou de ser uma possibilidade e sabia que tinha sido difícil para a irmã despedir-se dele. Também eu deixara Romain para trás, amava-o. Tinha sido, sem dúvida, o amor da minha desde sempre. Conhecíamo-nos desde miúdos, as nossas famílias eram amigas e ele sempre gostara de mim. Eu apenas me apercebi mais tarde que também gostava dele. Tinha sido horrível ter de dizer adeus, em parte, era por isso que odiava ter de estar ali. Mas acabei com ele, achei que tinha sido a melhor opção. Não era justo para ele ter de esperar por mim e não acreditava em namoros à distância. Portanto, cortei relações para não ser tão difícil de suportar toda aquela separação. Não procurava saber dele, sabia que só lhe ia custar mais. Tanto quando sabia, ele podia andar com uma morena, uma loira ou uma ruiva, mas sabia que ele não andava. De vez em quando ainda chegavam mensagens dele com declarações de amor. Doía-me o coração e tinha de ser forte para não lhe responder, dizer-lhe que também o amava.

- Esquece isso, mana... É o melhor! Essa já não é a nossa vida, a nossa vida agora é aqui... - Murmurei num tom triste e levantei-me. Peguei no meu bloco e caminhei para o meu atelier. Entrei no mesmo pela primeira vez e olhei estupefacta a toda a sua volta. Não era muito grande, mas era tão acolhedor, toda a decoração tinha a minha cara. Isso fez-me sorrir, apesar de tudo, os meus pais conheciam-me tão bem. Instalei-me na cadeira e passei uma mão sobre a secretária de madeira branca à minha frente. Sorri mais por cheirar a novo e pousei o meu bloco por cima da mesma com cuidado. Rodei a cadeira a rir de felicidade até parar virada para a janela em vidro que ocupava uma parede. Estava atrás da minha secretária e tinha uma vista sobre o nosso maravilhoso jardim. Depois, reparei na máquina de costura que estava ao canto e mandei um grito de excitação. Era nova, a máquina que eu tanto queria, não me contive senão ter de abraçar-me a ele. Voltei a sentar-me na cadeira e abri o meu bloco, peguei na minha grafite e comecei a desenhar um vestido para a minha irmã. Sabia que a razão de ela ir às compras e não me deixar ir, era porque estava a preparar uma surpresa para mim e o nosso aniversário, não estava assim tão longe.

Estava toda entretida a trabalhar quando ouvi o meu telemóvel apitar com uma sms. Bufei, não me estando nada a apetecer ser incomodada agora e peguei no mesmo. Abri a sms e fiquei intrigada ao ver que era um número americano e que eu com certeza não conhecia. "Parque ao fundo da rua. T." Olhei para aquilo incrédula, levantei-me e peguei no meu casaco, furiosa.

{Tom}

Sorri matreiro depois de confirmar que a minha sms tinha sido enviada. Guardei o telemóvel no bolso e sentei-me nas costas de um dos bancos de jardim que por ali estava. Agora era esperar, o pior era se ela não aparecia, mas se bem a conhecia, ela vinha até ali para me confrontar e tirar justificações. Isso fez-me sorrir, nem queria acreditar que a minha francesinha estava ali. Tudo o que lhe assaltava à memória era a sua rebeldia e desenvoltura, sempre metida em sarilhos. Aquela miúda só representa isso, sarilhos! Mas aqui estou eu a tentar voltar a dar-me com ela. Não sei o que eu quero exactamente, o certo é que nunca mais me tinha esquecido daquele verão. Ouviu os seus passos ainda antes de a ver aparecer à sua frente. As faces estavam ligeiramente avermelhadas, da fúria que sentia, calculava. Isso fez-me rir e descer do banco para cumprimentar. Fiz para que o primeiro beijo calha-se perto do seu canto dos lábios, mas o seguinte já foi mesmo parar aos seus lábios. Ela empurrou-me logo, visivelmente mais furiosa do que antes.

- Mas estás parvo ou quê? – Ela atirou com ar de mázona. Oh eu adoro quando fazes esse arzinho!

- Talvez! – Brinquei e ela fez um movimento como quem se ia embora. Agarrei-lhe o braço para não a deixar ir –Calma, desculpa, eu prometo que me porto bem... - Prometi e voltei a sentar-me onde estava, apontando o lugar ao meu lado. Ela olhou-me desconfiada, mas depois descontraiu quando viu que eu estava a falar a sério e fez por se sentar ao meu lado.

- Diz lá o que queres... - Ela atirou, sem muita paciência. A gatinha está chateada! Sorri e tirei um canhão do bolso, mostrando-lhe, ao que ela sorriu também, mais animada.

- Relaxa, francesinha! – Disse, preparando-me para pegar no isqueiro que estava no bolso. Ela mandou um soco no meu braço, fazendo-me rir. Ela odiava que a chamasse assim.


The Heart Wants What It WantsWhere stories live. Discover now