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{Lea}

Acordei com o despertador do meu telemóvel a apitar aos altos berros e grunhi, tentando alcança-lo com a mão para o desligar. Que porra de vida! Olhei as horas só com um olho aberto e sobressaltei-me, se não me despachasse iria chegar atrasada. Olhei a cama da minha irmã e ela ainda continuava imóvel na mesma. Bufei e atirei os meus cobertores para trás, abrindo as cortinas do quarto para deixar o sol entrar. Caminhei até à cama da minha irmã e destapei-lhe um pouco a cabeça, depositando-lhe um beijo na testa.

- Liz, acorda, vamos chegar tarde! – Murmurei ao seu ouvido para que ela não acordasse mal disposta.

- Já vai... - Ela resmungou debaixo dos cobertores e encolheu-se mais contra a roupa. Encolhi os ombros e fui para a casa de banho despachar-me. Era o nosso primeiro dia na universidade, estava nervosa porque não sabia o que me esperava e principalmente, não me apetecia nada ir. Eu não queria estar naquele país, no qual eu mal sabia falar a língua deles. Inglês nunca tinha sido o meu forte, apesar de me conseguir desenrascar. Liz era muito melhor do que eu, por isso evitava sair sem que ela estivesse ao meu lado. No entanto, como tínhamos escolhido cursos diferentes, iria ter de me desenrascar sozinha quando a altura chegasse. A sorte é que no primeiro dia, a apresentação era em conjunto de toda a universidade e isso deixava-me um pouco mais tranquila. Tomou um duche e, depois, voltou ao quarto para escolher a sua roupa. Liz estava exactamente no mesmo sítio onde a deixara.

- Liz, vamos chegar tarde! – Eu resmunguei novamente.

- Já estou a ir! – Ela resmungou enquanto saltava da cama com o seu habitual mau humor matinal. Ri-me baixinho dela e cuidadosamente. Se havia coisa que eu gostava de fazer era cuidar de mim, adorava andar bem vestida e arranjada. Em seguida, caminhei para o nosso toucador para colocar a minha maquilhagem.

{Liz}

Odeio este país, odeio estar aqui! Só quero voltar para França para junto dos meus amigos! Entrei no duche com os nervos à flor da pele e deixei que a água quente me relaxasse. Aproveitei para lavar os dentes e, em seguida, embrulhei-me numa toalha e caminhei para o quarto. Olhei a roupa da minha irmã e tentei encontrar algo parecido no meu guarda-roupa. Nós não andávamos vestidas de igual, apenas num estilo parecido, apesar de Lea ser bastante mais chique por não dispensar os seus saltos altos. Eu não, preferia mil vezes andar de sapatilhas, mas por vezes lá me deixava convencer por ela. Quando encontrei que fosse parecido, vestido e fui para o lado dela maquilhar-me. Ela perfumou-se e pôs cheirinho em mim também, fazendo-me sorrir pela primeira vez naquele dia. O que é que eu faria sem ela? Ela tornava as coisas muito mais suportáveis... Quando estávamos as duas prontas, cada uma pegou na sua mala, meteu o seu iPhone lá dentro e a Lea pegou nas chaves do nosso . Tínhamos carta as duas, mas Lea conduzia melhor que eu. Não que eu conduzisse mal, apenas era mais distraída, portanto preferia que fosse ela a fazê-lo. Os nossos pais também nos obrigavam a partilhar carro, não que eu me importasse porque andávamos sempre juntas e acho que também não havia necessidade de termos as duas carro. Entramos as duas para o nosso jipe e colocamos o cinto. Lea pôs o carro a trabalhar enquanto eu me entretinha a pôr uma música a dar. Drake! Para alegrar o meu dia, pelo menos isso era uma vantagem de estar neste inferno, podia ir a muitos mais concertos do que os que ia lá em Paris. Peguei no meu telemóvel e comecei as ver as novidades pelo facebook dos meus amigos e família, até que eu sinto o carro abrandar e olho Lea que está com um ar confuso.

- Então? – Perguntei, não percebendo porque ela tinha parado.

- Acho que me perdi! – Ela disse com um ar trapalhado mas ao mesmo tempo de cachorrinho para que eu não me chateasse com ela. Não ia, eramos novas cá e era normal que ela não soubesse para onde tinha de ir.

- Não faz mal, eu pergunto a alguém... - Tranquilizei-a e abri o vidro, chamando um rapaz que estava encostado à parede a fumar um cigarro. Lá lhe pedi informações e agradecia, explicando à minha irmão o caminho na nossa língua. Passados uns 20 minutos, estávamos a entrar no parque de estacionamento da universidade e eu dei graças por isso, estava farta de andar às voltas e estar dentro do carro. Lea desligou o carro e as duas saímos do mesmo. Eu não estou nada pronta para isto!

- Pronta? – A minha irmã perguntou-me e eu fiz um meio sorriso e assenti. Ela deu-me a mão e caminhamos as duas para a entrada, ficando tudo a olhar para nós à medida de entravamos. Pois, pois, somos novas, get over it! Não devíamos ser a única novidade por ali certamente, já podiam parar com aquilo, era incomodativo. Até que reparei que as miúdas estavam todas a olhar-nos para a roupa e afins.

- Ai elas vão levar! – Eu disse irritada com os dentes semicerrados para que só a minha irmã ouvisse.

- Tem calma, Liz... - Ela murmurou e olhou em volta – Estão só com inveja!

- Parolas! – Eu funguei , fazendo a minha irmã rir-se divertida.

- Vá anda, vamos tomar o pequeno-almoço. – Ela quase ordenou-me, guiando-me pelo braço até ao bar da universidade.

{Tom}

Acordei com a minha mãe toda stressada aos berros do andar debaixo para que eu e o meu irmão nos levantássemos.

- Despacha-te senão ela não se cala! – O meu irmão pediu enquanto se enfiava dentro de um par de jeans meios rasgados nos joelhos. Levantei –me e fui para a cas de banho tratar da minha higiene toda e só depois escolhi uma roupa, perfumei-me e desci as escadas até ao andar de baixo. Bill já estava sentado à mesa, bem como a minha mãe e o meu padrasto.

- Bom dia família! – Disse animado ao contrário da cara de enterro deles. Eles retribuíram enquanto eu já pegava nas minhas torradas. Deitei leite e café numa chávena, começando a comer rapidamente para não me atrasar. Bill fazia exactamente a mesma, como se estivéssemos coordenados. Acabamos de comer e despedimo-nos dos nossos pais, caminhando para a garagem com os nossos capacetes debaixo do braço.

- Mais um ano! – Ele resmungou desanimado. O crânio da família, o orgulho da mamã, o meu gémeo ia ser médico, estava no segundo ano, assim como eu. Mas eu gostava de coisas mais... físicas. Estava a tirar desporto, apesar de ainda não saber muito bem o que iria fazer com isso depois.

- Anima-te, pode ser que haja caloiras giras! – Afirmei divertido com um sorriso matreiro nos lábios. Essa perspectiva era o que me tinha feito acordar bem-disposto. Ele riu-se e colocamos os dois o capacete enquanto a porta da garagem se abria. Pusemos as a trabalhar e arrancamos a toda a velocidade. Eu e o meu irmão eramos parecidos em quase tudo, gostos, feitio, apenas alguns traços da personalidade eram diferentes. E, bem, o meu irmão não se fazia à descarada às miúdas como eu, gostava de apreciar. Achava piada ao facto de acharem que ele era gay! Só eu sabia das suas aventuras, ele apenas era bem discreto e bom acreditava nessa treta do amor. Apenas nunca encontrou alguém que o chamasse realmente à atenção. Já eu, fazia tudo às claras, não me importava que soubessem, mas também não andava para aí a gabar-me. Os meus amigos da fraternidade faziam mais isso por mim, tal como quase tudo.

Entramos no estacionamento da escola e estacionamos as nossas motas no nosso sítio do costume. Tirei o capacete e desmontei a moto, sendo chamado à atenção pelo jipe que acaba de entrar na escola e depois pelas donas do mesmo. Obrigado, senhor! Pensei com um sorriso estampado no rosto. As duas eram boas como tudo e ainda para mais pareciam ser gémeas, mas como estavam ao longe e meio de costas, não lhes consegui ver bem a cara.

- Mano, deus foi grande! – Chamei-o a atenção e apontei com o queixo as duas. Ele olhou para lá e até baixou os óculos de sol para ver melhor aqueles rabinhos empinados que mesmo tapados com os casacos, a sua forma sobressaía.

- Amen! – Ele disse com um sorriso e voltou a colocar os óculos direitos.


The Heart Wants What It WantsWhere stories live. Discover now