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A Livraria parecia ser pequena para quem via de fora, mas não deixei de ficar impressionada com o lugar assim que nos encontrávamos dentro do ambiente. Corredores apertados com prateleiras lotadas de livros com temas e títulos diferentes, reunidos em dois ambientes diferentes que foram transformados em um único mais espaçoso, citações em vários idiomas cobriam as paredes coloridas com canetas de cores diferentes e com caligrafias diferentes, algumas mais recentes e outras mais desgastadas, como se as pessoas pudessem realmente escrever suas ideias pelas paredes do lugar; desde pequenos textos e versos de poemas famosos até pequenas frases e míseras palavras soltas aleatoriamente, uma grande bagunça de palavras que parecia estar em perfeita ordem quando se chegava mais perto. 


Andei logo atrás de Luke pelos corredores que ficavam mais próximos da entrada do lugar, e percebi que os livros naquelas prateleiras em geral eram os mais conhecidos na literatura; O Morro dos Ventos Uivantes, O Pequeno Príncipe, Romeu e Julieta, O Médico e o Monstro, O Drácula, entre outros; além de muitas peças de teatro de Shakespeare, tais como Hamlet, Como Gostais e Sonho de Uma Noite de Verão. Minha mãe costumava admirar as obras de Shakespeare e sempre lia versos de Como Gostais para mim nas noites em que meu pai não estava em casa, já que o mesmo se incomodava com os monólogos e com as grandes expressões que até hoje são conhecidas por aqueles que verdadeiramente se aprofundam nas palavras escondidas nos menores dos livros. Talvez ele até pudesse gostar, mas recusava a dizer isso para a minha mãe, com medo de que ela perdesse um certo medo de tinha dele. 


Por impulso acabei pegando um dos livros presentes ali e admirei a capa da peça Como Gostais, lembrando de como o meu irmão era apaixonado por Rosalinda tal como eu era apaixonada por Orlando, e mesmo com tantos disfarces e personalidades abstratas que a peça retrata os dois sempre pareciam ideais um para o outro, e seus sentimentos iam muito além dos disfarces e das mentiras, e tudo no final das contas acabava se tornando algo divertido, tal como as coisas para Finn e eu; por mais ruins que elas parecessem ser, depois que o pesado se tornava leve nós dávamos boas risadas com as experiências enquanto escutávamos alguma música do The Smiths em nosso porão. Tudo, para nós, era sempre tão dramático e cativante como uma peça de Shakespeare, e como se não fosse uma mera coincidência, no final as coisas se tornaram mais trágicas do que poderíamos imaginar. 


"Gosta de Shakespeare, Garota da Morte?" A voz de Luke me despertou de meus pensamentos, e quando me dei conta estava abraçada com o exemplar da peça enquanto encarava as outras a minha frente. 


"Ah, sim, eu adoro Shakespeare. Minha mãe gostava bastante, então eu cresci apaixonada pelos mocinhos das peças e dos livros." Respondi tentando disfarçar a tristeza que me tomou em voltar a lembrar da minha família. 


"Gosta de teatro? Mais tarde meu amigo Willem vai fazer uma representação de Hamlet ao ar livre, nós poderíamos assistir. Pode acreditar, ele é muito bom como ator e conhece Shakespeare melhor do que qualquer um, veio da Holanda só para passar um tempo por aqui se apresentando." Luke sugeriu com um brilho em seus olhos, como se não pudéssemos de maneira alguma perder a apresentação. 


"Seria incrível ir assistir a peça. Nós vamos, com certeza." Afirmei e abri um sorriso para Luke que foi retribuído com um do loiro, que pegou na minha mão quando menos esperava e olhou para trás, como se estivesse conferindo algo nos fundos.


"Mas antes disso, eu quero te mostrar algo que pode ser muito melhor do que Shakespeare, dependendo do ponto de vista. Vem aqui." Dito isso ele me puxou dentre as estantes de livros para o fundo de A Livraria, e a cada passo que dava a olhar para os livros percebia o padrão no qual eles foram organizados; os mais conhecidos e os clássicos ficam mais à frente, enquanto os menos conhecidos e não tão famosos no meio literário ficam mais nos fundos. "Acho que nossas palavras estão escondidas em um desses livros nem um pouco famosos, só basta procurar."


Os livros eram totalmente desconhecidos pela minha pessoa, e por mais que eu tentasse lembrar o título ou o nome do autor de algum deles, é como se tudo aquilo fosse uma nova descoberta para a minha mente. Alguns nem sequer tinham título ou autor, e talvez as melhores palavras estivessem escondidas em meio as histórias de pessoas que nem sequer imaginam ter reconhecimento em um lugar como as Terras Ruins. Livros aleatórios e desconhecidos, muitos já velhos e usados, machados, rasgados, como se suas palavras não tivessem um verdadeiro significado, ou como se ele ainda não tivesse sido descoberto. 


Peguei um livro aleatório sem título ou autor, de capa com cor vermelho sangue e uma grossura razoavelmente grande para um livro não identificado. Abri em uma página qualquer e passei a ler, e por coincidência ou não, o livro se tratava sobre versos, poemas e frases que relacionavam vida e morte como sendo uma única coisa com faces diferentes, e ao ler algumas frases com atenção e refletir sobre as mesmas, percebi que talvez aquele livro pudesse esconder as nossas palavras, e depois de ler um trecho certo pude ter quase certeza disso.


"Luke, acho que posso ter encontrado nossas palavras. Na verdade é um trecho que significa algo que não sabemos o que é, tal como nós dois." Eu sorri em direção ao rapaz, que veio em minha direção e analisou o livro, porém sem ler o trecho que eu havia indicado.


"Pois, leia para mim. Só vou saber se são as palavras certas se ouvir pela sua voz." Declarou, entregando-me o livro e permitindo que eu divagasse as palavras. Limpei a garganta e encarei o trecho mais uma vez, antes de recitar as palavras para o loiro.


"Vida e morte, dois opostos que se completam e, por mais que neguemos isso, são a mesma coisa. Viver nos faz querer a morte e morrer nos faz querer a vida. O que seria viver caso não houvesse a morte? Não haveriam finais, não haveria a graça de viver independente de tudo, não haveria fé; mesmo que a temamos, a morte move o mundo tanto quanto o ato de viver, e a vida pode ser tão mortal quanto a própria morte. Vida e morte são um só ser, um só medo e uma só esperança. Unidas pela fé e pela curiosidade; ambas sem volta e sem raramente com finais felizes." Recitei as palavras do livro, e ao levantar o meu olhar para encarar Luke, percebi que o mesmo me olhava fixamente com aquele mesmo brilho de admiração em seu olhar. "É isso que somos afinal, não é? Vida e morte?"


"Não, Faith, você está tremendamente engana. Eu até posso ser a vida, mas você não é a morte, apesar do seu apelido. Você é nada mais do que você, Faith; fé. E como você mesma leu, vida e morte são unidas pela fé, precisam dela. Como o Chris disse, você é a minha fé. E eu preciso de você." Respondeu o rapaz de olhos azuis, puxando-me para si e beijando meus lábios calmamente e de forma rápida, como se quisesse dizer algo a mais. "E não se preocupe com a falta de fé das pessoas por aqui. Vamos ver Hamlet essa noite, depois vamos jantar em algum lugar e depois podemos ir e fazer o que você quiser. O que sugere?"


"Qualquer coisa que envolva ficarmos bêbados, ouvirmos boa música e precisarmos um do outro." Sugeri a sorrir, recebendo um sorriso parecido de Luke em troca junto com o brilho de seu olhar cheio de ideias.


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DESCULPEEEM PELA DEMORA!! EU ESTAVA VIAJANDO E SEM INTERNET! enfim enfim, duas da manhã e mais uma vez eu to atualizando enquanto revejo skins, é a vida e insônia e talvez as férias snhdksdks well, devem ter percebido que eu gosto de Shakespeare, então vou colocar algumas frases e algumas influências das obras dele aqui :) obrigada por tudo amores <3


ily all - Mari xx


If I Die Young + lrhOnde histórias criam vida. Descubra agora