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- Faith - 

O porão estava exatamente do jeito que eu havia deixado, com as coisas que Finn organizara ainda no mesmo lugar, um dos únicos lugares da casa que não me dói passar o tempo. Os melhores momentos da minha vida aconteceram nesse espaço, e talvez todas as memórias ocultem a dor que costumo sentir a toda hora. Luke é a primeira pessoa que tive coragem de trazer aqui, talvez fosse pelo momento em que estávamos ou por outros motivos quaisquer, mas eu sinto como se essa fosse a coisa certa a se fazer.

O loiro parecia estar totalmente impressionado com o lugar, tal como eu desde a primeira vez que meu irmão mostrou-me o porão. Antes o cômodo era só um deposito de coisas sem uso, mas Finn sentiu que precisava transformar um ambiente esquecido em um lugar para ele, que com o tempo, se tornou nosso. A decoração era mudada a todo o momento, e me ainda lembro dos nossos últimos planos do que mudar por aqui. 

A ideia do meu irmão era colocar um grande mapa do mundo na parede do fundo, onde ele marcaria os lugares por onde gostaria de viajar, e, se tudo desse certo, o mapa se tornaria uma grande lista de desejos, que seria completada aos poucos. Infelizmente, nada disso irá acontecer. Me dói em pensar na animação do meu irmão no dia em que compramos o mapa, no mesmo dia do acidente. Eu certamente teria fixado o mapa, mas ele rasgou com o impacto e desapareceu depois que o carro capotou. 

Apesar de tudo, a decoração que ainda está presente é maravilhosa. Os quadros de nossas bandas preferidas estão decorando as paredes, junto com as nossas fotos aleatórias e desenhos que Finn costumava fazer nas aulas de arte. Letras de música estão na pequena mesa de centro, organizadas impecavelmente e com as palhetas em volta, tudo isso misturado causa-me a sensação de conforto, como se aqui fosse o lugar certo para estar no momento. 

"Garota da Morte, esse lugar é simplesmente demais. É como se as coisas mais importantes do mundo estivessem aqui, em perfeita harmonia. O mundo definitivamente precisa de mais lugares iguais a esse." Luke divagou seus elogios totalmente impressionado, dando alguns passos me direção ao meio do cômodo, um pouco hesitante em tocar ou chegar perto das coisas. 

"Eu concordo com você. Existem lugares tão desnecessários por ai que podem facilmente serem desmontados e transformados em algo legal como eu e o meu irmão fizemos aqui." Afirmei e Luke concordou com a cabeça, olhando deslumbrado para todos os quadros e discos, até finalmente deixar que nossos olhares se encontrassem.

"Mas, não foi para isso que você me trouxe aqui, não para me impressionar com a sua caverna pessoal, mas sim para me contar certas coisas. E eu estou realmente querendo saber." Sorriu, colocando as mãos nos bolsos da calça jeans e me encarando, como se estivesse esperando por uma resposta da minha pessoa. 

"Tudo bem." Suspirei, dando os ombros e olhando em volta em seguida, indicando para Luke o lugar onde poderíamos nos sentar. "Ali, eu sempre costumava me sentar naqueles pufes com o meu irmão. O verde é meu e o amarelo era dele, mas hoje ele pode ser seu, Luke." Afirmei e o de cabelos loiros sorriu, mais uma vez, e me acompanhou até o meu lugar de costume, onde sempre me senti mais confortável. 

Ambos caímos nos confortáveis pufes e ficamos mais relaxados estando daquela maneira, sem precisar manter uma postura ou algo do tipo. Encolhi as minhas pernas da mesma maneia de sempre, abraçando uma das almofadas jogas ali em volta e soltando um ar pesado, mordendo o lábio e em saber o que dizer em seguida. 

"E então?" Luke perguntou, tentando atrair a minha atenção. "Conte o que quiser, demore o tempo que precisar e pare quantas vezes for preciso. Não te garanto que sou bom com conselhos, mas sou um excelente ouvinte." 

"Eu não sei por onde começar, na verdade." Dei os ombros com timidez.

"Bem, eu particularmente nunca gostei de histórias perfeitamente lineares, com os perfeitos começos, meios e fins. Comece por onde achar melhor, por onde tem certeza que vá doer menos." Luke sugeriu, e mais uma vez eu só poderia concordar com as palavras dele. 

"Certo." Suspirei mais uma vez. "Todos tinham a impressão que minha família era a típica família perfeita; dois filhos responsáveis e com futuro promissor, pais que se amam e que tem uma boa renda, com viagens, presentes e fotos que mostravam a felicidade. Mas isso nunca foi verdade." Comecei, pensando no que dizer a seguir. "Meus pais nunca se amaram de verdade. Minha mãe foi obrigada pela família à se casar com o meu pai, tudo por causa de uma festa e uma gravidez inesperada. Ela não era tão jovem, mas ainda não estava pronta para ser mãe." 

"As pessoas, na maioria das vezes, pensam no que querer acreditar, mesmo nem sempre sendo verdade. Na maioria das vezes elas reclamam de seus problemas sem ter noção do que está acontecendo de pior na casa ao lado." Luke falou.

"Exatamente." Concordei de novo. "Enfim, eles se casaram, tiveram dois filhos e moravam juntos, desde então. Mas os problemas cresciam todos os anos, com brigas e mais brigas, que pioravam cada vez que aconteciam. Gritos se transformavam em berros, coisas quebradas acabavam sendo pisoteadas, e com o tempo, começaram as agressões físicas. Minha mãe não tinha como se defender, e mesmo que eu quisesse fazer algo, o medo que tinha do meu pai era maior que a minha coragem, então eu simplesmente me trancava no meu quarto com os fones de ouvido no máximo para não ouvir nada. Eu sempre amei os meus pais, eles eram amorosos e carinhos quando separados, mas quando estavam juntos eu simplesmente os odiava." 

"Esse tipo de coisa acontece nas melhores famílias. Ou nas famílias que aparentam ser as melhores." O rapaz de olhos azuis comentou, dando os ombros e mudando sua posição no pufe. 

"Sim, e nós sempre éramos obrigados a parecermos felizes com outros em volta. Minha mãe cobria as marcas roxas com maquiagem e meu irmão inventava desculpas para estar tão machucado. Sabe, ele se colocava na frente do meu pai para ele não bater na minha mãe, mas acabava apanhando, muito mais do que merecia. É por isso que eu odeio aquele escritório do meu pai. Era naquele cômodo que tudo acontecia, todas as brigas e todas as agressões. Finn insistia que eu ficasse aqui, foi por isso que passamos a compartilhar esse lugar. Por isso que eu amo esse espaço, me sinto segura aqui, mesmo sempre cuidando das feridas feias do meu irmão. Ele chorava aqui comigo, mas no dia seguinte convidava amigos e trocavas as lágrimas por sorrisos."

Luke estava pensativo enquanto eu falava, mas ainda prestando atenção, e assim que terminei de falar, ele soltou o ar e abaixou o olhar, pegando o pufe que costumava a pertencer ao meu irmão e aproximando-se de mim.

"Faith, esse lugar é incrível. Eu simplesmente amei. Mas acho que você realmente precisa sair daqui, pelo menos por um tempo. O mundo é um lugar tão grande, com tantos lugares bons para se descobrir e pessoas incríveis para conhecer, e acho que é um crime ficar sempre no mesmo lugar. Eu sei que você tem raízes e quer mantê-las, mas também pode deixar seus galhos crescerem, não vai fazer mal." Ele pegou nas minhas mãos com timidez, olhando-me nos olhos. "E por enquanto você é só uma linda plantinha, e se quiser, eu posso te ajudar a crescer, estender os seus galhos e, ao mesmo tempo, manter suas raízes."

"Acha mesmo que eu sou apenas uma plantinha?" Questionei com humor, vendo o sorriso de Luke surgir novamente. 

"Uma planta maravilhosa, com flores e folhas perfeitas, mas com galhos ainda curtos. E eu posso ser o adubo certo para ajudar com o seu crescimento, ou só mais uma planta querendo crescer também. O que acha, garota da morte?"

Eu sorri. Não um sorriso discreto e confuso. Um sorriso aberto e, finalmente, alegre. Talvez eu realmente precise estender os meus galhos, nem que para isso seja necessário cortar as raízes mais profundas. 

"Tudo bem, você me convenceu. Me ajude a crescer, que ajuda a estender os meus galhos."

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nossa to apaixonada por essa fic <3 espero que vocês estejam gostando tanto quanto eu!!

SEXTA É MEU ANIVERSÁRIO SJDKSJDS SE QUISEREM FALAR COMIGO NO DIA CHAMEM NO TWITTER (@/ broknmuke) OU POR AQUI MESMO AHKAJSA

ily all - Mari xx


If I Die Young + lrhOnde histórias criam vida. Descubra agora