Capítulo 05 - Samantha

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O entardecer de domingo passou rapidamente. 

Minha irmã não me deixava sozinha nem por um segundo, eu desconfiava que ela tivesse medo de que quando eu ficasse sozinha meus pensamentos pudessem ser voltados a Bernardo ou as drogas.

Eu entendia totalmente o lado dela, até porque não era fácil tirar Bernardo da minha cabeça, muito menos à vontade de ter várias sensações que eu sentia quando me drogava, mas eu estava ciente de que se eu começasse uma batalha com as drogas novamente, era certeza de que dessa vez era ela quem iria vencer, pois eu não parecia ter mais forças para lidar com tudo aquilo de novo.

A companhia da minha irmã me distraia muito e eu não me sentia triste e nem perdida, era bom ter ela por perto, mas nem mesmo esse tesouro que era ela ali comigo, impedia do meu coração estar despedaçado pela falta de Bernardo, a imagem dele, seus olhos azuis e seu jeito marrento de ser... Isso tudo não saia de meus pensamentos.

No fim da tarde recebi uma ligação de meus pais, minha mãe tagarelava no telefone a respeito da noite anterior, falando que o que eu fiz foi uma injustiça com a família e que eu deveria estar agradecida pela festa e não tão aborrecida e revoltada. Tentei lhe explicar que tudo o que eu disse foi o que eu realmente estava sentindo, mas no fim das contas acabei concordando com ela para que a discussão não prolongasse. 

Já quando conversei brevemente com meu pai, ele me disse em um sussurro "Tudo bem por ontem, estou orgulhoso de você por dizer a verdade de tudo o que sente, só não deixe sua mãe saber disso, você conhece a dona Scarlete". As palavras do meu pai me deixaram extremamente feliz, afinal ele havia se orgulhado de mim depois de muito tempo de amargura.

Quando chegou a noite, enquanto eu tomava banho, fui pensar nos acontecimentos do dia. Em minhas atitudes com o ex-desconhecido. Eu estava grata por ele ter aparecido na minha vida, mas eu não conseguia demonstrar certos sentimentos da maneira certa e por isso às vezes parecia que eu não sentia nada. Ele ter aparecido foi algo bom, pois precisava substituir Simone e Gregório, eles eram meus amigos no meu antigo casulo, mas agora precisava de algum amigo no mundo real, sem ser da minha família, sem saber de toda a minha história.

Desliguei o chuveiro, me enxuguei e fui para o meu quarto, minha irmã havia colocado alguns conjuntos de roupas em cima da minha cama, olhei para ela em reprovação, onde ela ria empolgada por me ajudar nas vestimentas, olhei para as roupas e de todas que ela havia selecionado somente uma delas não era um conjunto com saia, peguei a calça jeans rasgada e a blusa azul marinho e me vesti. 

Não havia entendido do porque de Rafael ter pedido para que eu não usasse saia, mas não achei relevante na hora, afinal ele havia desligado o telefone na minha cara, sem a oportunidade de uma resposta.

Minha irmã insistiu para que eu me maquiasse e secasse os cabelos, pois assim eu pareceria uma mulher mais atraente e descolada para um encontro e não uma zé ninguém.

— Não ligo. Isso não é um encontro mesmo. — foi o que respondi.

***

21:32 horas em ponto a campainha tocou. Abri a porta e me deparei com um Rafael com os cabelos despenteados, mas todo perfumado, com uma jaqueta de couro marrom e uma calça jeans rasgada no joelho, ele sorria enquanto mascava um chiclete com cheiro de menta.

— Oi — ele disse mantendo um sorriso grande no rosto.

— Qual é o seu problema com horários? Agora são exatamente 21:32!

— Problema nenhum. Estou aqui no horário marcado.

— Mas porque uma pessoa que parece ser tão inteira como você gostaria de horários quebrados?

InconstanteOnde histórias criam vida. Descubra agora