Capítulo 24 - Tortuosa poesia

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Eu poderia ser classificada como uma pessoa impulsiva em certas ocasiões, e aquele foi um momento do qual havia acabado de praticar um ato totalmente impensado, que poderia vir a gerar consequências não tão vantajosas em minha vida.

Na impulsividade, nossos atos e pensamentos não seguem a mesma linha de equilíbrio, desse modo, eu não havia conseguido assimilar o momento exato em que minha coragem foi maior que o meu estado de nervosismo, pois tudo o que queria era ir em busca do ponto final dessa tortuosa poesia.

Após a prática da atitude impulsiva, muitas vezes, podemos nos arrepender imperdoavelmente e lamentarmos muito por ter feito algo tão absurdo pelo calor das emoções, mas isso pode variar de pessoa para pessoa, e naquele momento, no meu caso em especial, o arrependimento não passava nem perto de meus pensamentos, mesmo com o ardor presente na palma da minha mão direita por conta do tapa certeiro que havia dado no rosto de Bernardo.

— Eu não sou a sua menina. Não mais. Nunca mais — eu disse pausadamente, na tentativa de controlar as lágrimas presas em meus olhos, e mesmo com a mão tremula, conseguia apontar meu dedo indicador em sua direção.

Enquanto acalmava e reorganizava meus pensamentos em meio a minha respiração acelerada, Bernardo colocou a mão na lateral de seu rosto, onde a vermelhidão já corava a sua bochecha, imaginava que um leve ardor podia ser sentido naquela região. Sua expressão surpresa se dirigia em minha direção e um riso divertido escapou por seus lábios, me causando uma pontada forte no coração.

— Tomar essa atitude faz você se sentir bem? O que eu faço com você Júlia? — ele questionou, enquanto alcançava sua mão livre até a minha que ainda apontava em sua direção — Não mudou nada, continua sendo a minha menina de tanto tempo atrás — ele continuava a rir, me levando para mais perto dele e para fora do elevador, agora era meu pulso que ele segurava com firmeza — Eu só preferia ter sido recebido com um beijo ao invés de um tapa na cara, mas você ainda tem tempo de voltar atrás...

— Isso não pode ser real — eu disse tentando me desvencilhar do seu toque e de sua boca que estava tão próxima da minha com nosso contato — É um pesadelo não é? Você aqui com essa cara de pau de agir como se nada tivesse acontecido?

— Prefiro pensar que é um sonho se tornando realidade Jú — ele disse contendo o riso estridente e afrouxando a mão que segurava meu pulso — Eu falo a verdade quando digo que senti a sua falta.

— Sentiu a minha falta? E ficou fazendo o que durante mais de dois anos? Somente sentindo a minha falta e não vindo atrás de mim? Gastando o dinheiro da minha irmã com drogas e mais drogas? Para que? Para aliviar a falta que eu fazia em sua vida? — atirei todas as perguntas de forma sarcástica, enquanto um riso nervoso escapava de minha boca.

— Respira Júlia. — ele disse me encarando — Gosto de você agitada, mas o momento pede calma. Uma coisa de cada vez, temos muito pra conversar — proferiu suas palavras, finalmente soltando meu braço e passando a mão por seu cabelos.

— Na verdade não, não temos nada para conversar, porque eu já sei de tudo o que aconteceu e não quero ouvir a sua voz, eu só quero que você saia daqui agora e volte para bem longe, de onde você não devia ter se dado ao trabalho de sair — eu disse com a voz acelerada em meio às lágrimas que não conseguia mais segurar somente em meus olhos, minhas mãos livres agora tampavam meu rosto na intenção de abafar meu choro.

— Ei, olha pra mim — ele se aproximou retirando minhas mãos de meu rosto e erguendo meu queixo em sua direção, fazendo com que eu encarasse seus olhos azuis — Eu estou aqui agora e quero te levar comigo.

— Me levar com você? Qual é o seu problema? Você não vai me levar para lugar nenhum — eu disse em meio aos soluços, tirando sua mão de meu queixo.

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