Capítulo 08 - Silêncio

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Os minutos passaram rapidamente enquanto eu e Rafael estávamos deitados no terraço admirando o céu e suas grandezas. Compartilhamos da paixão pela vida em pleno silêncio. 

Eu adorava o silêncio, ele era acolhedor, sem pontadas dolorosas nos ouvidos, ou até mesmo no coração, era calmo e breve, como uma massagem relaxante na alma.

Rafael, é claro, quebrou o silêncio. Ele nunca conseguia ficar quieto por um longo tempo, parecia ter a necessidade de se expressar a todo o momento.

— No que você está pensando? — ele perguntava mantendo os olhos na direção do azul escuro do céu.

— No quanto gosto do silêncio — respondi olhando para ele.

— Então você gosta do silêncio Júlia Medeiros? Você já parou para pensar que o silêncio nunca é tão silencioso? — ele dizia enquanto levantava do chão e batia as mãos em sua calça.

Eu não o respondi. Somente me sentei no chão enquanto o observava andar de um lado para o outro desatando a falar.

— Por trás do silêncio sempre existe um som querendo soar, um barulho querendo surgir. Por trás do silêncio sempre tem um sinal de vida. Pelo menos é o que eu penso. — ele dizia estendendo sua mão para me ajudar a levantar.

Peguei sua mão como apoio e me levantei, enquanto ele ainda a segurava e continuava a dizer agora com o rosto próximo ao meu.

— No silêncio podemos ouvir o som de uma respiração lenta ou ofegante, o barulho de um coração acelerado ou calmo, o tilintar da nossa mente sempre pensando, pensando e pensando... Talvez em palavras que não foram ditas, em sentimentos que estão sufocados, em sonhos que não deixam de ser sonhados. Meu Deus, a gente nunca para.

— Você nunca para Rafael. Você. — Eu disse enquanto colocava minha mão em seu peito. — Você pensa em algo e desata a falar. Você tem palavras e justificativas até para o silêncio. Tudo para você parece virar poesia. Seu coração e você inteiro são totalmente acelerados. Você é sinônimo de barulho Rafael, sinônimo de bagunça. — respirei fundo quando parei de falar e encarei aquele sorriso que se abria em seus lábios.

— Você gosta de bagunça Júlia Medeiros? — ele perguntou mantendo o seu sorriso.

— De vez em quando sim — respondi enquanto ele ainda segurava minha mão que não havia soltado desde o momento em que me ajudou a levantar.

— Isso é bom. Significa que você gosta de mim... pelo menos de vez em quando. — Ele continuava sorrindo, me puxando em direção as escadas externas do prédio. — Vamos, preciso te mostrar mais uma coisa.

***

Entramos no "MUSIC HOUSE" e tive uma imensa surpresa. O local era espaçoso e maravilhoso. Na entrada havia vários discos de vinil presos a uma parede laranja, na lateral havia um balcão com várias camisetas de bandas e personagens de desenhos animados expostos.

No centro existiam várias prateleiras de CDs de todos os gêneros espalhados por todos os cantos, andei por todas as prateleiras, agora com as mãos livres das de Rafael e enquanto me perdia em tantas opções pude ver um pouco mais à frente um palco improvisado com vários instrumentos musicais, me atrevi a subir no palco e me atentar em cada detalhe dos instrumentos ali presentes, até me exibir fingindo tocar em cada um deles.

Rafael sempre me seguia com seus olhos escuros e com um sorriso torto sem mostrar seus dentes brancos, e eu, apesar de estar de pijama de bolinhas e com uma super jaqueta de couro, estava me sentindo totalmente à vontade naquele lugar.

— Vem, tem outra sala legal ali. — ele dizia enquanto se dirigia a outro cômodo, que era separado por uma cortina de miçangas pretas.

Segui Rafael até onde ele estava indo e quando atravessei a cortina me deparei com um ringue que estava no centro do cômodo, sim, um ringue de luta e logo na parede branca que estava de fundo, havia os dizeres "Cante, dance, lute, liberte-se, faça o que quiser" na cor vermelha.

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