Gunn colocou um prato que tinha acabado de enxugar dentro do armário e suspirou. Aquele, felizmente, era o último. Se perguntava se alguém no mundo sentia-se feliz em realizar tarefas domésticas, ele obviamente não. Mas não daria mais o gostinho à Greta de dizer que ele não fazia nada em casa.
Esse não era o único motivo para seu rompante doméstico; estava preocupado e queria se distrair.
Já fazia algum tempo que as pessoas próximas a Annika haviam percebido a mudança da menina. Isso provavelmente começou com a morte de seu pai, por mais ausente e frio que o velho fosse ainda era o pai dela.
Pequenas coisas haviam mudado: estava desatenta, sensível, dormia pouco... Chegaram a ser chamados na escola graças à queda de suas notas. Greta marcou uma consulta com um psicólogo infantil e agora o loiro esperava pelo regresso de ambas.
Enquanto enxugava a pia ouviu a porta da sala denunciar a chegada das duas e foi ao encontro delas, encontrando apenas Greta se jogando no sofá cansadamente.
– Onde está Nikka? – se jogou em uma poltrona que ficava ao lado do sofá onde Greta estava esparramada.
– Subiu, disse que estava com sono – massageou suas próprias têmporas. – Vou te dizer, essa consulta foi horrível.
– O que aconteceu?
– Nikka ficou irritada por ter levado ela lá, então já sabe que a colaboração foi zero né? Bom, o doutorzinho lá disse o óbvio: depressão por causa da morte do papai e blábláblá. Até eu podia dizer isso.
Gunn esperou pela continuação, mas como ela demorou a chegar chamou a atenção da ruiva.
– Alô, terra chamando! E então? Ele disse mais alguma coisa?
–Ai é que está, ele quer que ela tenha mais consultas. Aquele mercenáriozinho de uma figa quer é arrancar dinheiro da gente. Vamos fazer do modo antigo: a guria está triste? Mimaremos até que passe e ponto.
– Isso tudo é porque não foi com a cara do médico ou é mesquinhagem mesmo?
Trocaram farpas com o olhar até que Greta desviou o olhar e se pôs a procurar o controle remoto da televisão. O achou e começou a zapear pelos canais obsessivamente.
O celular do rapaz começou a tocar.
– Alô?
– Gunn? Aqui é Erland falando.
– E ai? O porquê da ligação?
– Estou saindo da faculdade e estava pensando em passar aí. Vamos para minha casa, pegamos uma pizza no caminho e assistimos a um filme. Colocar a conversa em dia, sabe?
– Ah seria ótimo... quanto tempo até você chegar aqui?
– Uma hora talvez... Esteja pronto. Até!
– Tchau.
Desligou o aparelho e viu que a ruiva esteve prestando atenção na conversa, mas provavelmente só escutou as suas respostas.
– Quem era? Era Kurt?
Gunn entendia o porquê de sua irmã achar isso. No natal, enquanto sua família passou uns dois dias na casa dele, Greta e Erland encontraram o loiro sendo prensado no batente da cozinha por Kurt. Eles provavelmente não foram muito além disso por que sempre havia alguém para atrapalhá-los, tanto que ele chegava a desconfiar que isso era proposital.
– Não, era o seu namorado. Ele vai passar aqui para termos uma "noite de garotos" na casa dele.– Kurt está lá?
Olhou para ela um pouco irritado.
– E se estiver? É impressão minha ou você está encrencando com ele?
Ela estava séria e ponderando sobre o assunto.
– Olhe, eu no final das contas sou sua irmã mais velha não é? Me preocupo com você.
– Pensei que gostasse dele...
– Eu até simpatizo com o Kurt, mas... Gostar não significa que confio nele. Sua personalidade é muito instável e acho ele meio perigoso. Sinceramente, o guri me dá arrepios!
– Eu não acredito que logo você está acreditando nesses rumores estranhos--
– Eu não acreditava. Mas um dia quando eu estava na casa deles em um momento ele estava tão agradável quanto sempre e no outro estava tendo um briga sem sentido com Erland. E não me refiro a discussão verbal esperada entre irmãos, mas corporal mesmo, e ele é do tipo que bate para valer sem hesitação.
– Isso não é o bastante... – sua voz falhou.
– Não, não é. E eu não acredito que todos os rumores sobre ele são verdadeiros, sabe como esse povo gosta de inventar e exagerar. Mas sabe o que dizem?
– O quê?
– Onde há fumaça a fogo.
O loiro olhou com abatimento para a irmã e ficaram se encarando. Ele sabia, lá no fundo, que ele e o moreno nunca dariam certo. Mas ele pensava que talvez, e só talvez, ele pudesse fazer a diferença na vida dele. Ser aquela pessoa a quem Kurt se abriria e seria sincero. A pessoa que iria mudar os seus maus hábitos e fazer sarar as suas feridas. Era bem utópico e era uma ilusão. Ele sabia, mas preferia ignorar aquilo por enquanto.
– Não se preocupe, não estou levando a sério o que eu e ele temos – forçou um sorriso. – Estou indo me arrumar, não quero deixar o Erland me esperando.
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Sant Tveksamt [ Romance Gay ]
RomanceVoltando a cidade onde nasceu Gunn reencontra não só família e amigos, mas também alguém que costumava admirar a distância. Deveria ele se aproximar? Deveria ele se permitir arriscar? Deveria acreditar em seu instinto, em seu coração ou nas pessoas...