Fugindo part. 1

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No meio da tarde, fui até a casa do Lance entregar à ele o presente que eu havia feito para ele depois que acabei o almoço. Enquanto eu caminhava, vi crianças correndo assustadas, mas não dei importância. Provavelmente elas teriam provocado um animal e fugiram temendo que ele dividia com outros três irmãos. Ele apareceu na janela e sorriu quando me viu. Eu também sorri. Lance e eu nos conhecemos na floresta quando ele "sem querer" me acertou com uma pedrinha. Desde então somos amigos. Estranho não? Eu o vi chorar quando seu pai morreu vítima de uma doença e ele me viu chorar quando meu irmão se foi. Esteve ao meu lado sempre, desde que tínhamos nove anos de idade. Sim. Ele é bonito, mas eu não sei se um dia chegaremos a ter algo mais que amizade. Sempre fomos unidos e está tudo bem pra mim dessa forma. Não sei pra ele. Mas acho que não é muito diferente de como eu me sinto. Não sou a beleza em pessoa, nem coisa do gênero. Garotas morenas não costumam chamar tanta atençao quanto as loiras e agradeço muitíssimo por isso.

- Oi. - eu disse quando ele apareceu na lateral de sua casa.

- Oi! - ele respondeu.

Caminhamos até os fundos de sua casa até chegarmos à uma pequena vegetação que estava ligada a floresta, enquanto ele dizia que a mãe dele o proibiu de ir caçar depois dele ficar na mira de uma arma. Eu conheço Lance, ele não vai parar de caçar.

Lance estava com o cabelo molhado e cheirava a sabão caseiro. O cheiro era bom. Muito bom. Ele me olhou e eu percebi que ele estava esperando que eu dissesse por que o chamei.

- Bom. Já que você enfiou na cabeça que vai ser coletado amanhã eu... Queria que você... Sei lá. Levasse uma coisa para se lembrar de mim. Quer dizer... Se você se lembrar de mim. - eu disse me lembrando do que ele me disse quando me deu a pulseira. Não a tirei desde aquela noite.

Enfiei a mão no bolso da calça preta que eu usava e tirei o colar que eu tinha feito. O colar era muito simples: era um fiapo de corda - muito filme por sinal - que se amarrava à uma pedra de coloração azul-escuro cintilante. Eu havia achado aquela pedra na água em uma madrugada em que fui caçar com Lance. Entreguei o colar para ele, que colocou no pescoço imediatamente dando dois nós cegos. Seria tipo... Impossível de tirar! Ele enfiou por dentro da camisa e olhou para mim. Eu fiquei parada enquanto via ele se aproximar de mim ainda mais. Seu olhar se desviava dos meus olhos para a minha boca freneticamente até que sua mão roçou minha nuca e seus lábios tocaram os meus. Imaginei que aquilo fosse a maneira dele me agradecer o presente (apesar dele nunca ter feito isso antes), então deixei. Minhas bochechas queimavam e minhas mãos faziam mesmo. Mas essas coisas cessaram rapidamente.

Era assim? Era assim que eu deveria me sentir? Como se não estivesse rolando nada? Que estranho. Que novo. Nunca beijei alguém e quando beijo... É assim. Tão... Normal?

Então Lance me solta como se eu o tivesse queimado.

- Nossa! Você está fervendo! - ele me olhou de forma estranha.

O queimei? De fato?

- Para de brincar. - eu ri. Ele riu também.

Como sou idiota. Claro que não o queimei.

- Isso foi... Novo. Desculpe o mau jeito. - ele disse.

Ele percebe minha cara de interrogação.

- Eu fiz isso por quê... Bom... Eu nunca beijei uma garota e não queria morrer sem fazê-lo. Como não tenho contato pessoal com nenhuma garota além de você, eu... Eu achei que... Pudesse ser com você. Somos amigos e não vi problema. - ele sorriu, claramente envergonhado.

- Tudo bem, Lance. - eu disse. - Não tem problema. E também foi novo pra mim...

E foi ai que ouvimos gritos de agonia, seguido por um estrondo, tiros e vidros se quebrando. Corremos para fora da vegetação em direção a frente da casa de Lance. Trombamos em pessoas que iam na direção oposta a nós, tentando encontrar refúgio na floresta. Meu Deus! Que caos! Vimos quando um guarda empurrou a mãe de Lance contra porta que se escancarou com o baque. Lance correu rapidamente até sua porta sem pensar duas vezes. Automaticamente comecei a correr em direção à minha casa.

Crianças e adultos corriam de um lado para outro enquanto vários carros, iguais aos que vimos escoltar o tal Sr. Wenes, paravam e caras armados saíram de dentro deles. Avistei de relance, pessoas sendo agredidas e me indignei quando vi alguém ser baleado. Fiquei tentada a intervir, mas precisava chegar até minha casa.

Coração De FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora