Coração Apertado

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Apesar de toda uma confusão está ocorrendo na fronteira as aulas voltaram normalmente para que os jovens e crianças pudessem se ocupar com os estudos e esquecer um pouco da saudade e da tragédia que poderia nos atingir a qualquer momento.

Quando deixei Anna em sua sala de aula notei que as outras crianças apesar de estarem notavelmente abatidas voltavam a brincar, a sorrir, elas não sabiam ao certo o motivo dos seus pais terem ido "viajar" mas começam a ocupar suas cabeças com outras coisas.

Ao chegar em minha sala de aula a professora já estava em sua mesa, porém nada de broncas pelo meu atraso. Todos presentes estavam abatidos, não faziam mais bagunça, não conversavam uns com os outros. Tudo aquilo era bem estranho, parecia que estávamos num funeral, mas era quase isso mesmo, sabíamos que poucos dos homens iriam voltar e por essa ser uma cidade pequena todos iriam acabar se sentindo abatidos e comovidos, pois quase todos se conhessem.

-Antes de voltarmos à aula gostaria de ter uma pequena conversa com vocês - a professora falava com uma voz calma e serena- Eu sei que estão abatidos com todos os atuais acontecimentos, porém sabemos que ficar assim não vai solucionar nem um problema. Ocupar a mente com outras coisas, como os estudos, pode ajudar de alguma forma. Espero que todos vocês consigam superar logo tudo isso.

Superar? Ela fala como se todos nossos pais estivessem mortos agora.
De repente um garoto entra em nossa sala, meio tímido, alto, cabelos lisos num preto intenso, pele alva e olhos negros como seu cabelo.

-Esse é o Liam, ele é novo nessa cidade e vai estudar conosco a partir de agora. -disse a professora apresentando-o -Sente-se, iremos começar a aula.

O Liam sentou-se em uma carteira vazia ao meu lado. Ele é quieto, não falou nada durante a aula, talvez estivesse triste como os outros.
As aulas passaram sem ânimo algum e finalmente chegou o intervalo. Saí da sala e me dirigi ao refeitório, seria a primeira vez ali sem o David, ele estava fazendo o terceiro ano mas foi obrigado a deixar a escola, mas quando ele voltar com vida de lá não irá precisar cursar novamente o terceiro ano.

-Posso me sentar com você? -era o Liam o que fez com que eu despertasse de meus pensamentos.
-Ah... Claro. -eu já estava com minha bandeija e ele colocou a sua na mesa.

Notei que o refeitório não estava tão cheio como de costume alguns garotos do terceiro ano estavam na mesma situação que o David, mesmo assim as pessoas ainda sentavam-se em grupinhos talvez seja por isso que o Liam se sentou comigo, eu e ele éramos os únicos fora das panelinhas. A final eu nunca fui de fazer amigos com muita facilidade.

-De onde você veio Liam? -perguntei pois aquele silêncio chegava a ser constrangedor.

-Area B36 -ele notou minha cara de espanto e logo falou- Sim, esse é o local para qual os recrutados foram, sou filho do Coronel Johnson Ledo, eu não morava exatamente lá, os homens mais importantes tem seus privilégios digamos assim. Bem próximo de lá existe uma vila onde algumas famílias moram.- ele falou calmamente e deu uma pausa me encarando- Qual é mesmo seu nome?

-M-Megan - não acreditará que ele estava tão próximo do que eu mais queria - Você tem tanta sorte -falei pensando alto.

-Porque sorte?

-Seu pai está vivo Liam, ele tem um cargo importante, você tem uma boa vida, não precisa se preocupar em quantos vão morrer durante a guerra...

- Ele não é um bom pai Megan- disse Liam, sua voz mantinha-se firme -Nem um bom marido, só pensa em vencer -sua voz era de raiva- me trata como se eu fosse um soldado que deve obedecer à suas ordens. -derepente ele calou-se.

-Me desculpe, é que -engoli em seco- tenho tanto medo de perder aqueles que amo na guerra, acabei me precipitando.-disse calmamente.

-Eu que peço perdão pelo meu desabafo ridículo -então ele levantou e se dirigiu à algum lugar qualquer.

A última aula chegara, eu estava com certa pena do Liam e não sabia o motivo de tamanha raiva, entendo que seu pai pode ser ruim mas pelo menos ele tem um pai, pelo menos ele não está recrutado para morrer na fronteira. Eu está com um pouco da raiva do Liam, porém sempre tento entender as pessoas antes de tirar minhas conclusões.
"ME ESPERA NO FINAL DA AULA- Megan. "

Mandei um bilhete para ele na intenção de resolver as coisas. Eu estava realmente interessada sobre oque ele sabia sobre a área de treinamento, mas ele não iria me contar se estivesse com raiva de mim. A aula acabou e arrumei minhas coisas sem pressa, e felizmente o Liam fez o mesmo, logo estávamos a sós na sala.

-O que você quer? - seu tom não era grosso.
-Só queria dizer que não quis te ofender. Eu julguei antes de saber oque acontecia de verdade, eu errei.
-Como consegue ser tão calma?- ele disse quase num sussurro como um pensamento alto.
-E que... Não tenho motivos para me estressar com você Liam. Eu entendo que deve estar sendo bem ruim pra você, mudar de cidade e tudo mais.
-Eu fui um grosso com você Megan, mesmo assim você ainda está aqui, obrigado. -eu apenas sorri.
Nos dirigimos à saída e próximo ao portão ele me perguntou:
-Posso acompanha-la até em casa como forma de agradecimento e pedido de desculpas?
-Claro. -a primeira coisa que veio à minha cabeça foi uma centena de perguntas a fazer para ele, mas decidi esperar um pouco não queria assusta-lo com tamanha curiosidade.-Liam?
-Sim?
-Porque veio para cá?
-Minha mãe estava cansada daquele lugar e disse para meu pai que vinha visitar uns parentes aqui, na verdade não tem parente nem um aqui, nem sei porque ela escolheu essa cidade mas está fazendo muito bem para ela.- ele disse com alegria nos olhos.
-Pelo visto esse General não é muito esperto. -logo tampei minha boca com as mãos quando pensei no que acabara de dizer, o Liam apenas sorriu.
Fomos conversando durante o caminho e Liam me contou que seu pai era bem rígido, o garoto fazia de tudo para agrada-lo mas nem sempre conseguia, sua mãe amava o General mas as vezes ele era muito duro com a família, senti pena do Liam quando ele me contou isso, logo notei algumas lágrimas em seu rosto, oque me fez pensar que a marca roxa em baixo da manga de sua camisa não fosse uma marca qualquer.
-Liam - ele abaixou a cabeça imaginando que eu não veria sua tentativa de parar aquelas lagrimas.

Me vi dando um abraço forte nele, por ele ser alto ouvi seu coração acelerado no peito, ele estava sofrendo por dentro e talvez também por fora. Passei minhas mãos sobre suas costas na tentativa de acalma-lo oque acabou funcionando porque logo ele parou de chorar. E me afastei.
Desculpe-me por tocar nesse assunto, era oque eu queria falar mas palavras não saíram da minha boca. Meu coração estava apertado, nunca gostei de ver ninguém chorar isso me dava um certo desespero por não poder ajudar de verdade.

Continuamos a caminhar sem dizer nada, passava pela minha cabeça que ele apanhava de seu pai, e não duvido que sua mãe escapava disso.

Ao chegar em minha casa Liam pegou minhas mãos e deu um beijo.

-Muito obrigada, Megan.
Fiquei sem palavras, apenas sorri e disse:
-Um dia seu pai vai ver seu valor Liam.

Quando entrei em casa mamãe estava com sorriso no rosto e com correspondências em mãos.
-Mandaram um presente pra você querida! -disse mamãe me entregando uma carta.

Quando olhei quem me mandara a carta meu coração saltou de alegria, lá estava escrito: David Martinez.

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Olá leitores e leitoras! Oque estão achando? Críticas construtivas são sempre bons incentivos então podem enviar à vontade! Digam as suas opiniões sobre os personagens! Esse capítulo foi praticamente a Megan e o Liam, mas oque tenho a dizer é que esses dois enfrentarão muita coisa juntos será que a Megan vai ficar confusa sobre seus sentimentos?

Borboletta: Caminho Para A VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora