Jantar com os Slavas

114 10 2
                                    

10 de fevereiro ainda.
-Lucas, tira essa garota daqui agora!- A mulher parecia um gorila se atirando pra cima de mim.
-Não vou sair, eu quero carona!- Eu sei que não devo ser mal educada e acomodada. Mas fazer o que? Eu nasci assim.
-Você acha que é quem, garota?- A mulher soltou o cinto e começou a tentar pular pro banco de trás.
-Quer brigar? Eu arranco seu cabelo com os dentes!- Eu também sei que não devo ameaçar as pessoas, mas é o que eu aprendi em casa.
-PAREM AS DUAS! MÃE SE VOCÊ NÃO DER CARONA PRA ELA, EU VOU A PÉ! E AMÉLIA, PARE DE AMEAÇAR A MINHA MÃE OU TE AMARRO NO PARACHOQUE E DOU A PARTIDA!
Sim, diário, o Lucas gritou isso.
Eu fiquei um pouco, digamos, impressionada.
-Tá legal.- Eu e a Gerda dissemos em coro e ela ligou o carro.
O silêncio reinou a viajem (Se é que podemos chamar 12 minutos de viajem.)
-Tá entregue.- Disse Gerda. Na verdade, ela parecia que tava me expulsando do carro, tipo: "Saí daqui seu despacho de encruzilhada!"
Eu saí calmamente e quase caí de cara no chão, mas isso foi mera coincidência.
-Tchau, Lucas! Obrigada pela carona!- Eu acenei "alegre" e entrei pra dentro de casa.
-TÁ NAMORANDO! TÁ NAMORANDO!- E você deve se perguntar, diário: Será que é a Luciellen? A prima chata e maluca da Jully? Não. Não era a Luciellen. Por incrível que pareça era minha mãe.
-Mãe, para pelo amor de Deus! Era só o Lucas!
-O SLAVA?- Ela parecia que estava numa competição de grito com a Melody. É uma pena, Melody, pode dar o troféu pra minha mãe.- ELE TÁ GATOOOOOO.
Eu nem liguei e subi.
-VEM ALMOÇAR, SUA DESENCALHADA!- Eu já estava a ponto de novamente ligar pra polícia e dizer que minha mãe estava me ameaçando, mas eu não fiz isso.
Eu troquei de roupa, desci calmamente, passei na cozinha, peguei uma frigideira e fui pra sala.
-I CAME IN LIKE A WRECKING BAAAALL!- Ela estava se esfregando no puff lá de casa, com certeza pensando que estava arrasando igual a Miley Cirus. Miley, sinto muito se você estiver tentando se matar nesse momento.
-Mãe.- Chamei ela e ela virou. Só peguei e acertei a frigideira bem na testa dela.
-I will always want you...-E então ela caiu desmaiada.
-Graças a Deus!- Sentei na mesa e fui almoçar.
O que tinha pro almoço era:
-Arroz
-Bife
-Salada
-Farofa.
O que parecia que tinha pro almoço era:
-Brita
-Papelão
-Mato
-Terra do cemitério.
Eu não aguentei e liguei pra uma moça que faz marmitas.
-Dona Neide, faz uma marmita completa pra mim e vem entregar aqui.
-Ok, Jully! O que quer de carne? Temos...- Não deixei ela terminar e interrompi.
-Qualquer coisa melhor que um bife com gosto de papelão.
E então desliguei.
Enquanto eu esperava eu fui arrumar a sala.
Guardei o puff, passei uma vassoura na casa (Acho super engraçado dizer isso, tipo, eu não varri, eu passei a vassoura KKKKK, vou tomar meus remédios.) e por fim coloquei minha mãe deitada no sofá em uma posição um tanto desconfortável.
-Vai ficar assim mesmo!- Disse quando desisti de colocar os braços dela pra baixo.
- Entrega de marmita.- Disse alguém batendo na porta.
-Tem campainha seu idiota!
Abri a porta e me deparei com o Rafael.
-Rafael? O que tá fazendo aqui?
-Vim entregar sua marmita, idiota!- Disse ele gargalhando. Mas só pra explicar ele falou e depois gargalhou, não foi algo do tipo:
"Vim kkkkk entregar kkkkk sua kkkkk markkkkmikkkkta."
-Você é entregador? Desde quando?- Diário, eu não acredito que ele escondeu a verdade de mim! Nada contra ele ser entregador, mas eu era a futura esposa dele! Como ele quer que eu mantenha o casamento?
-Não sou entregador, eu ia comprar uma marmita quando ouvi a Neide xingando, e como ela é muito calma eu estranhei e logo deduzi que era você.
-Nossa, bom saber que a Neide me ama!- Feel the sarcasm.
-E então eu vim almoçar com você. Não foi certo eu dizer que não queria vir, eu gosto de estar com você!- Eu fiquei realmente tocada com as palavras dele, eu ia abrir a porta, eu ia deixar ele entrar... Mas, eu tinha uma mãe caída no sofá com um galo enorme na cabeça.
-Não vai dar.- Disse e o empurrei para fora.
-Mas...
-Nada de mas, vai embora e me dá essa marmita. Perco você mas não perco a comida.
Ele arregalou os olhos e tentou entrar pra dentro de casa.
-Tem outro cara aí, não tem?
-Que outro...- Eu não consegui terminar a frase pois fui interrompida pela Gerda.
-É assim que estão os adolescentes de hoje, né? Se agarrando com os namorados na porta de casa!
Diário, não me culpe, mas eu queria uma serra elétrica pra matar ela e depois eu jogaria os restos mortais dela no poço pra Samara comer.
-Oi, dona Gerda.- Eu tentei parecer uma pessoa normal. Pera aí, eu sou uma pessoa normal.
-Cadê a sua mãe?- Eu quis me matar, diário. Primeiro o Rafael e agora a louca da Gerda. O que tá faltando?
-O QUE O LUCAS TÁ FAZENDO AQUI?- Olha que lindo, o Rafael descobriu quem era meu mais novo vizinho.
-Sou vizinho da Jully.- Diário, me permita dizer que o Lucas parecia que tinha acabado de tomar banho e me permita dizer mais uma vez que ele estava super gato de cabelo molhado.
-Júlia Amélia Mackenzie, porque você escondeu isso de mim?- O Rafael começou a apertar um pouquinho meu braço.
-Era importante pra você?
-Muito!- E ele apertou ainda mais.
Diário, você sabe que eu sou um pouco impulsiva.
-Vai apertar o braço da sua avó, e se não confia em mim. Acaba tudo aqui.- Ele me encarou uns minutinhos e eu meio que pensei: Tudo o que? A gente tem alguma coisa?
Preciso dizer que a Gerda não parava de me encarar.
E preciso dizer que o Lucas estava com um sorriso lindo nos lábios? Ou é meio desnecessário?
-Amélia meu pé de cabra...- Diário, quando fui ver quem falou isso eu quase levei um susto! Minha mãe estava em pé atrás de mim com um galo enorme na testa.
-Suzy, eu acho que nos conhecemos de uma maneira meio ruim...- Quando Gerda falou isso ela olhou diretamente pra mim e eu sorri.- E queria convidar você e sua família pra jantar hoje na minha casa.
Tudo estava certo e nos conformes, se minha mãe aceitasse, nós iríamos lá, jantaríamos normalmente e faríamos as pazes.
Mas minha mãe estava um pouquinho alterada e ela falou umas coisas bem sem-noção!
-Lua de cristal que me faz sonhar, e todos amigos vamos encontrar no beco escuro lá de casa azul da cor do céu e o fel e o mel e todas as coisas verde e amarela.
Eu tinha que fazer alguma coisa.
-Ela aceita, dona Gerda. E isso é efeito colateral de um remédio controlado dela.
O dragão assentiu e fingiu que acreditava.
E caso se pergunte, o Rafael tinha ido embora.
Entrei pra dentro de casa e arrastei minha mãe até chegar no quarto dela.
-Seu pai quis que você nascesse, eu queria um dog.- Ela parecia que tava drogada. Mas ela não tava. Eu sabia disso porque ela fez um pacto com a sociedade nem tão secreta das irmãs da igreja.
-Eu também iria querer um cachorro.
Arrastei ela e a deitei na cama.
-Agora dorme.
-Sabia que a Sandy e Júnior é casada e não é com o Júnior, eu gosto do Psirico.
Eu então tive a doce ideia de amarrar ela na cama. Era isso ou eu ia ter que aguentar ela.
Um tempo depois meu pai chegou e me disse que isso era efeito colateral de um remédio.
Ou seja, eu acertei o que eu disse pra Gerda.
Depois meu pai me perguntou o que era aquele galo na cabeça da mamis e eu disse que ela tava loca e se jogou na nossa mesa de vidro.
Ele acreditou.
Aí eu contei pra ele sobre o jantar na caverna do dragão e ele disse só um: Ok!
Êta homem seco! Como mamãe gostou disso? Mas não reclamo, porque ele me quis quando mamãe queria comprar um cachorro.
Subi e fui me arrumar.
Tomei banho e todas aquelas higienes chatas que eu vou privar você de saber, ou você quer saber sobre eu ter passado uma escova de dentes de marca desconhecida com as cerdas mais duras que o arroz da minha mãe?
Depois fui escolher uma roupa, e peguei a mais pobre que eu tinha.
Um vestido com umas flores super horríveis e uma sapatilha branca que já nem cabia mais no meu pé.
-É isso que dá só comprar tênis e salto alto.- Murmurei enquanto tentava enfiar a bosta daquela sapatilha no meu pé.
Me olhei no espelho e percebi:
Mais bonita que isso só milagre!
Desci e esperei minha mãe e meu pai terminarem de se arrumar e fomos pra casa da Gerda.
Vou cortar por aqui, o resto te conto depois.
Beijos, da sua dona, rainha, diva, maravilhosa, senhora de si, espada de He-man, a criadora da renew: Júlia Amélia Mackenzie, ou Jully ❤️

Diário de uma conquista fracassadaOnde histórias criam vida. Descubra agora