•O fruto do verdadeiro amor

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"Estava se despedindo, e nem sabia"
-A menina que roubava livros

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Sentamos em um banco de madeira na praça perto da fonte decorada enquanto eu relatava com detalhes dos incidentes que ocorreram após as cartas, deixando de lado apenas minha pequena invasão não planejada ao palácio, o que definitivamente me renderia uma repreensão e uma chance a menos de ter autorização para ir ao baile esta noite.
"Então, o que acontece agora?" - Quebrei o silêncio que se estendeu por minutos depois que terminei. Mamãe permaneceu parada ao meu lado com os olhos focados em algum ponto inexistente nos meus olhos, levei minha mão por reflexo até meu rosto apenas para me certificar que não havia algo de anormal, o movimento deve ter a despertado pois ela sorriu suavemente divertida por minha reação e balançou a cabeça em um gesto de negação.
"Não se preocupe, querida, não há nada em seu rosto" - Corei um pouco e deixei cair minha mão de volta ao meu colo.
"Então, o que está pensando, mãe?" - Perguntei enquanto cruzava meus braços.
"Você o ama?" - Sua questão foi tão repentina que quase me fez parar de respirar.
"Sim, mas não devo, afinal, amor é uma coisa terrível que te deixa fraca e te faz fazer coisas ruins, não há nada de glorioso nele, papai já me disse antes" - Informei automaticamente.
Mamãe suspirou pesadamente e pegou minha mão entre as suas enquanto me olhava fixamente nos olhos.
"Não querida, o amor verdadeiro não é nada como ele disse a você, amor é a magia mais poderosa do mundo, tão poderosa e rara que pode destruir qualquer maldição, ele gera felicidade" - Ela explicou pacientemente e eu entendia suas palavras com cautela e quando a olhei, só vi a mais pura sinceridade brilhando lá.
"Eu o amo" - Afirmei antes que me arrependesse.
"Maravilhoso, mas saiba que nada que vale a pena vem fácil" - Ela piscou e eu concordei.
"Agora vamos, temos um Rafael Lambert para enfrentar" -Ela levantou e me ofereceu o braço, o segurei e fomos para casa em silêncio cada uma com seus próprios pensamentos.
Chegamos em casa rápido e meu pai já nos aguardava sentado em sua poltrona de couro, sentamos em silêncio por alguns segundos enquanto ele nos avaliava. Fui a primeira a quebrar o silêncio.
"Pai, quero pedir sua permissão para ir ao baile no palácio esta noite" -Pedi tentando parecer indiferente, porém respeitosa.
"E o que a faz pensar que deixarei minha filha chegar próxima a qualquer lugar daqueles reais estúpidos?" -Perguntou calmo como sempre.
"Pai, por favor...o príncipe me convidou pessoalmente para ser sua acompanhante" -Respondi implorando com os olhos.
"O príncipe?" -Ele perguntou levantando-se e caminhando pela sala pensativo, quase como se já soubesse que aquilo aconteceria.
"Sim, ele acha que sou o suficiente para ele" -Eu me segurei naquela pequena centelha de esperança que era seu pensamento no assunto.
"É o que veremos. Levante-se" -Ele ordenou e eu o fiz rapidamente enquanto ele se aproximava até que ficasse a cerca de 5 passos de distância de onde eu estava, ele me analisou calmamente e então inesperadamente ergueu sua mão direita e a enfiou firme e rápido em meu peito esquerdo, engasguei na dor repentina e sento apavorada sua mão adentrar minha pele e segurar meu coração com força.
"Papai" -Gritei na dor que se apoderava de cada pedaço em mim, quase como se meu corpo estivesse sendo lentamente partido em pedaços me impedindo de respirar e de pensar, o senti puxar o músculo batendo e naquele momento tudo o que consegui pensar foi como eu queria que a dor parasse e que ele deixasse meu coração. Então o inesperado aconteceu, tão de repente quanto a dor chegou, ela se foi, a mão de papai foi lançada do meu peito como se uma força invisível a tivesse empurrado de mim, houve uma pequena rajada de vento e uma Rafael Lambert de olhos arregalados me olhando.
"Amor verdadeiro" -Ele sussurrou, metade impressionado e metade furioso, no final de seu conflito emocional, a fúria venceu.
"Ele estava certo" -Ele declarou mais para si mesmo do que para mim- "Você não serve" -Ele gritou, agora para mim.
"Papai, do que está falando? Quem é ele? Por que quer me machucar?" -Gritei apavorada, ainda me recuperando da dor de antes.
"Você está terminantemente proibida de ir até aquele baile ou a qualquer lugar próximo a realeza, e se ousar me desrespeitar aquela dor não será nada comparado a que farei você sentir, Ashley" -Ele rosnou e saiu da sala, pegou seu cavalo e foi embora.
"Ashley querida" -Mamãe começou a falar, sua voz rouca pelo choro incontrolável.
"Não." -A parei com um aceno de mão- "Guarde sua pena, eu não preciso dela" -Rosnei calma e subi as escadas entrando em meu quarto e trancando a porta.
***
Não sei quanto tempo fiquei lá, sentada na varanda olhando o céu, me recusando a deixar qualquer lágrima cair dos meus olhos, mas quando dei por mim já era quase hora do baile, olhando a janela vi que não havia nenhum sinal de papai ou seu cavalo, hesitei por alguns segundos até que olhei o espelho do canto determinada.
"Se passarei o resto da minha vida aqui fazendo aquilo que me mandam fazer, por que não fazer o que eu quero pelo menos uma vez?" -Me perguntei e sorri friamente enquanto ia me arrumar. Eu iria ao baile, e nada poderia me parar.
Eu finalmente me tornaria aquilo que fui destinada a ser.

The Queen (REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora