Capítulo 2

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     O dia seguinte começou cedo como os outros, a diferença é que não foi o despertador que me acordou e sim o Caio pulando como um louco na minha cama.
- Sai, Caio! Para! Para! - Gritei tentando segurá-lo.
Minha mãe estava na porta e ria como se houvesse algo engraçado na chatice do meu irmão, já estava me perguntando se ela realmente ia ficar ali parada rindo, esperando o Caio quebrar minha cama ou um dos meus ossos, quando ela se aproximou e tirou ele pelos braços.
- Hora de levantar, Valéria! O Caio está tão eufórico com a partida de amanhã que deixei que ele viesse te acordar.
- Valeu Caio, tô bem acordada agora, muito obrigada! - Disse ironicamente.
Me levantei e fui logo levar meu irmão ao treino, ele realmente estava eufórico e me puxava pela rua como um cachorro grande preso na coleira puxa o dono quando vê um gato.
Dessa vez nem precisei chegar ao portão do campo, assim que chegamos na calçada o Caio disparou para dentro. Aproveitei e fui embora dali mesmo, vai que meu pai me veja e me chame de novo, melhor não arriscar.

     Cheguei em casa, fui para meu quarto, peguei um livro já lido centenas de vezes e me deitei na cama.
- Preciso de livros novos. - Pensava enquanto lia a história já tão conhecida.
Era minha ultima sexta-feira de férias e algo me diz que eu deveria estar lá fora ao sol fazendo algo divertido e empolgante como uma adolescente normal. Ainda assim fiquei ali na cama deitada esperando as horas passarem. E as horas passaram...
Acordei com minha mãe me chamando para o almoço e percebi que havia cochilado com o livro na mão, levantei e mesmo sem fome almocei. Era comum para mim fazer coisas sem vontade para agradar os meus pais, eu não era boa em esportes, não era boa em música, não era boa em culinária, e apesar de sempre conseguir passar de ano, eu não era tão boa aluna assim. Para compensar eu tentava ao menos ser uma boa filha.
- Vou ao supermercado e depois vou passar na casa da sua tia Ivone, quer ir? - Perguntou minha mãe, enquanto eu terminava de guardar a louça do almoço.
- Não, vou ficar em casa mesmo. - Respondi.
 - Você deveria sair um pouco, passou as férias inteiras entocada dentro de casa.
Talvez ela tenha razão e eu deveria sair mais, mesmo assim ir ao supermercado e depois na casa da minha adorável e fofoqueira tia Ivone para ouvir as ultimas notícias da vida de todo mundo não eram passeios que eu tinha em mente para fazer nas férias, sinceramente seria melhor ficar em casa.

Estava pensando no que fazer para espantar o tédio quando a campainha tocou. Provavelmente era uma das amigas da minha mãe com uma nova receita de bolo, ou um dos colegas do meu pai para comentar sobre a formação dos times do campeonato brasileiro. Pensei em deixar tocarem a campainha até perceberem que não havia ninguém em casa, mas quem quer que fosse era uma pessoa bem insistente.
- Já vai! Já vai! - Gritei indo em direção a porta.
Ao abrir fiquei surpresa quando vi a Luana, uma das minha poucas e melhores amigas.
- Vaaal! - Ela gritou e me abraçou. - Quanto tempo!
- Oi Lu! Pensei que você não voltaria mais - Abracei ela de volta.
- Eu pensei nisso, mas meus pais quiseram voltar, fazer o quê né? - Disse ela rindo.
A Luana viajou para uma cidade litorânea assim que recebemos os resultados finais da escola. Desde então as únicas noticias que eu tinha dela vinham de fotos de biquine e praias ensolaradas postadas nas redes sociais. Agora ela estava ali, ainda queimada do sol, mais loira e mais histérica do que nunca.
Puxei ela para dentro e já estava fechando a porta quando ouvi uma voz conhecida vindo da rua.
- Vaaal espera! - Olhei e vi o Luis, meu outro melhor amigo, vindo correndo.
- Luis, você também voltou! - Disse sorrindo.

  - Ainda bem! Não aguentava mais ficar na casa daqueles meus parentes do interior. - Ele chegou na porta ainda correndo e me abraçou quase me derrubando no chão. - Que saudade de você!
Já dentro de casa a Luana tossiu para chamar atenção.
- De mim você não sentiu falta né? - Disse ela fazendo bico.
- Claro que senti também - Ele entrou e a abraçou.
E estava formado meu circulo de amizades. Minha "dupla LuLu" como eu costumava chamá-los. Os dois tinham várias histórias das férias para contar e passamos a tarde jogando conversa fora.
Já era quase noite quando minha mãe chegou em casa.
- Luana e Luis! Que bom ver vocês! - Disse minha mãe cumprimentando os dois enquanto colocava varias sacolas de supermercado sobre a mesa da cozinha. - Já não aguentava mais ver a Valéria sozinha nessa casa, deitada em algum canto ou andando de um lado para o outro de pijama e descabelada parecendo um zumbi.
- Valeu mãe! Também te amo! - Eu disse ironicamente enquanto a Luana e o Luis riam, minha mãe era uma grande ajudante quando o assunto era me fazer passar vergonha.
- Pode deixar que a gente vai dar um jeito na Val. - Disse a Luana ainda rindo - falando nisso, amanhã de manhã eu vou no shopping e depois vou naquele parque que a gente foi ano passado, eles estão com uma promoção ótima de fim de férias, vamos?
 - Amanhã a Valéria não pode porque tem jogo final do time do Caio campeonato infantil. - Minha mãe respondeu por mim, detestava quando ela fazia isso.
- Ah mãe, eu tenho mesmo que ir? - Perguntei, no fundo já sabendo a resposta.
- Claro que tem, você sabe como é importante para seu pai e seu irmão que estejamos todos juntos em momentos assim. - Ela respondeu exatamente como pensei que responderia.
Revirei os olhos e suspirei, minha única chance de fazer algo legal nas férias foi por água abaixo.

- Tudo bem outro dia você vai Val, o parque ainda vai ficar um bom tempo na cidade. - Disse a Luana como se tentasse me consolar - Você vem comigo, Luis?

- Ah também não vou, tenho bastante coisa da escola para arrumar para a segunda feira. - Respondeu o Luis.

- Poxa.. - Depois da resposta do Luis a Luana pareceu realmente decepcionada - Vou arrumar alguém pra ir comigo então. Falando em ir, é hora de irmos embora né Luis?
- Mas já? - O Luis e eu falamos quase ao mesmo tempo.

- É, a Val amanha tem que acordar cedo pra ir para o super jogo do irmão dela, né Val? - Disse a Luana rindo, claramente tirando sarro da minha cara.

O Luis também riu e os dois foram embora.

Naquela noite eu realmente dormi cedo, nem tanto pela final do campeonato do Caio na manhã seguinte, mas porque ouvir a tarde toda aqueles dois falarem sem parar havia, ao que parece, cansado meu cérebro. Minha vida altamente parada não era compatível com a vida altamente movimentada que eles tiveram durante as férias.
Antes de fechar os olhos me perguntei se seria sempre assim, ou se um dia apareceria algo para me tirar dessa eterna mesmice, eu desejei que esse algo viesse logo e adormeci.  

Verde e RoxoOnde histórias criam vida. Descubra agora