Capítulo 9

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     Disse para o Denis que precisava mesmo ir para casa e me despedi. Ainda estava sorrindo quando cheguei no portão de casa.
- Cheguei mãe! - Eu disse pra minha mãe que estava varrendo a calçada.
- Oi filha, como foi a escola hoje?
- Ótima!
- Alguma novidade?
- Não, não! - Eu disse entrando casa adentro.

Fui para o quarto, me joguei na cama e fiquei ali pensando sobre o que tinha acontecido. Será que ele também está pensando na gente? Como se respondendo a minha pergunta o meu celular tocou sinalizando uma mensagem.
"Oi, chegou bem em casa?" - O Denis me perguntou por mensagem de texto.
"Oi, sim já cheguei"
"Eu queria te pedir desculpas pelo beijo, sei lá... Não quero que você fique com raiva de mim.""Não precisa pedir desculpas, eu quis também, e eu gostei..."
"Eu também gostei... Muito"
"Rsrs"
  A noite passou entre várias trocas de mensagens nossas, não falamos mais do beijo e sim sobre coisas aleatórias, como os filmes que ele gostava, e a propósito, ele me convidou para ir ao cinema no fim de semana e eu obviamente aceitei.


Na manhã seguinte acordei como quem acorda vendo passarinhos verdes, minha mãe notou minha estranha empolgação para levar o Caio no treino.

- O que te deu menina?
- Nada mãe, só acordei bem!
Ela me olhou com um ar desconfiado mas deu de ombros continuando suas tarefas domesticas, enquanto eu puxava o Caio porta a fora. Cheguei no campo, parando em um dos carros do estacionamento para verificar rapidamente minha aparência, era uma coisa estranha para mim, certamente parar na frente de carros para olhar o próprio reflexo seria um comportamento mais apropriado e típico da Luana, não meu. Dessa vez fiz questão de entrar com o Caio e deixá-lo a beira do gramado, enquanto olhava ao redor procurando alguém.
   Então eu o encontrei. Com suas chuteiras inconfundíveis lá estava ele, corria de um lado para o outro do campo fazendo algum tipo de exercício, ou aquecimento, ou sei lá o quê. Eu quis chama-lo, mas ele estava tão concentrado naquilo que não quis atrapalhar, e além disso meu pai estava a poucos metros observando a movimentação no campo com braços cruzados e olhar sério. Meu pai era o homem mais doce do mundo na posição paterna, mas eu sabia bem que ali no campo ele era bem diferente, e apesar de tratar aqueles meninos como filhos ele não dava moleza pra nenhum, sendo até exigente demais com eles.
  Fiquei um pouco ali, de pé na beira do gramado, com as mãos nos bolsos e observando o Denis, tinha esperança de que ele levantasse os olhos e me visse, isso não aconteceu então após algum tempo fui embora. Eu veria ele a tarde no colégio de todo jeito.


Mais tarde, quando cheguei na sala ele já estava lá, sentado em sua mesma cadeira rabiscando alguma coisa no caderno. Fui até ele e sentei na beirada de sua mesa.

- Como você tem tanta disposição depois de correr tanto?
- Ele fechou o caderno rápido e olhou para mim meio que assustado.
- Err.. Oi! Desculpa não te vi aí, tava concentrado aqui.
- Você se concentra muito nas coisas né? - Eu disse rindo, e ele pareceu não entender bem - Vi você hoje no campo.
- Mesmo? Não te vi.
- Pois é, você se concentra muito nas coisas - Dessa vez ele riu.
   O professor chegou na sala e me apressei para sair de cima da mesa e ir para meu lugar de costume. O Denis segurou meu pulso.
- Ei, senta aqui - havia uma cadeira vazia do lado dele.
    Olhei para minha cadeira também vazia do outro lado da sala, a Luana observava atentamente as pontas do seu próprio cabelo e o Luis me encarava sério, quase como se tivesse irritado. Mesmo assim me sentei ao lado do Denis e fiquei ali no resto das aulas, incluindo o intervalo. A conversa entre a gente fluía tão bem que não dava vontade de sair dali nem para comer as porcarias deliciosas da cantina, a maça colocada pela minha mãe na minha mochila serviu, e o Denis ainda me elogiou pela "escolha saudável" para o lanche.
    Ao final das aulas fomos caminhando até a rua próxima a minha casa, descobri que o Denis não morava muito longe, apenas alguns quarteirões de distancia. Dessa vez não teve beijo, só um tímido beijinho no rosto e aquele sorriso de sempre. Mas teve a mesma estranha felicidade de antes, a mesma sensação de borboletas no estômago. Os mesmos passarinhos verdes.

Verde e RoxoOnde histórias criam vida. Descubra agora