Acordei cedo pois havia recomeçado o castigo de ter que levar meu irmão para o treino de futebol. Quando cheguei ao centro de treinamento o Caio começou a reclamar que tinha uma pedra em sua chuteira.
- Fala sério - Pensei.
Me abaixei e enquanto ele se apoiava nos meus ombros tirei a chuteira dele e sacudi até uma pedrinha minúscula sair de dentro dela.
- Pronto! - Disse recolocando a chuteira nele.
Então eu vi um par de chuteiras conhecidas passar por trás do meu irmão em direção ao portão do centro de treinamento, eu quase nunca me esquecia de uma vergonha que eu tivesse passado, e não havia me esquecido daquele par de chuteiras verde e roxo. Levantando do chão olhei para o dono daquelas chuteiras que estava no portão conversando com outro garoto. Não acreditei no que vi.
- Denis! - Não consegui evitar e chamei o nome dele, ele olhou disse algo para o outro garoto e veio em minha direção
- Oi Val! - Disse ele com o sorriso tímido de sempre.
- Então... Era.. Você... Mas... - Eu não sabia o que dizer e ele apenas ria.
- Foi uma esbarrada em tanto né - Ele riu mais ainda. - Senti uma mistura de vergonha e raiva.
- Então era por isso que você ria tanto quando olhava pra mim? - Disse com raiva me virando e saindo rápido. Nem pensei em olhar se o Caio já tinha entrado no campo, só queria sair dali.
Cheguei em casa rápido e me tranquei no quarto, estava com tanta raiva que tinha vontade de bater em alguém ou chorar, fiquei com a segunda opção.
Logo chegou a hora de ir para a escola e eu não acreditava que ia ter que ir lá e dar de cara com o Denis e aquele sorriso. Mesmo assim fui. No caminho passei pela casa da Luana que notou que eu estava calada demais.
- O que você tem? - Perguntou ela.
- Nada. - Disse secamente.
- Nossa... O encontro de ontem não foi legal?
- O que??
- Passei na sua casa de manhã e sua mãe disse que você tinha saído pra fazer um trabalho com um colega de classe, passei de novo a tarde e você ainda não tinha chegado. - Ela deu um sorrisinho malicioso.
- Não teve encontro nenhum. E vamos logo que eu não quero chegar atrasada.
Cheguei na escola pouco antes do inicio da aula e vi o Denis conversando com uns garotos em um canto, sentei no meu lugar de sempre e tentei fingir que ele não estava ali. Ele não colaborou muito com meu fingimento e logo se aproximou e sentou na minha frente, no lugar que originalmente é do Luis. A Luana se afastou quando ele chegou me olhando com aquele sorriso malicioso dela.
- Oi - Disse o Denis. Não respondi, apenas olhei rapidamente para ele. - Tá com raiva de mim, moça?
Ele percebeu que eu não iria falar e era inteligente o suficiente para saber a resposta sem que eu precisasse responder.
- Eu só queria te mostrar como ficou o trabalho, eu.. - Ele foi interrompido pelo barulho do sinal tocando e a professora chegando na sala, vi que o Luis havia sentado na cadeira ao lado e encarava o Denis com a cara fechada.
- Você quer ver o trabalho? - Perguntou o Denis.
- Não precisa, pode entregar assim mesmo. - Eu respondi secamente e o Denis retornou ao seu lugar.
Consegui manter o autocontrole e não olhar para ele durante a aula. Logo chegou a hora do intervalo, saí rapidamente da sala e disse pra Luana e pro Luis que queria procurar um livro na biblioteca, não queria. Na verdade era uma desculpa porque não queria que o Denis me encontrasse pela escola e viesse forçar conversa, a biblioteca era o esconderijo perfeito, quase ninguém ia ali. Peguei um livro qualquer de pequenas cronicas, sentei numa mesa afastada e fiquei por lá.
Algum tempo depois a Luana e o Luis chegaram, o Luis me entregou um lanche da cantina enrolado em um saco de papel e fiquei grata por isso, já estava ficando com fome.
- Então era esse o grande e interessante livro que você veio procurar aqui? - Disse a Luana apontando para o livrinho na minha mão. - Tem certeza que não tá fugindo de ninguém?
- Não! - Respondi rápido.
- Fugindo de quem? - Quis saber o Luis.
- De ninguém Luis, de ninguém - Eu respondi e comecei a comer meu lanche.
O segundo tempo das aulas passou rápido, na saída o Luis disse que iria no shopping comprar alguns games e nos convidou para ir, eu recusei, além de não entender nada de games eu realmente estava querendo ir para casa e hibernar no meu quarto. A Luana porém se ofereceu prontamente para ir, achei estranho porque a Luana não era do tipo de menina que se interessava por games, mas deixei pra lá. Eles foram ao shopping e eu fui caminhando sozinha até minha casa.
Já estava quase na minha rua quando ouvir alguém me chamar.
- Val! Val espera!
- Ai não... - Pensei, reconhecendo a voz.
- Preciso falar com você - O Denis chegou correndo onde eu estava.
- Não precisa, já terminamos o trabalho, não temos nada mais pra conversar.- Temos sim, eu não sei porque você ficou com raiva de mim e...
- Como assim não sabe? - Interrompi a frase dele - Você tava esse tempo todo rindo da minha cara e ainda não sabe porque eu estou com raiva?- Mas eu não tava rindo de você, eu tava rindo pra você. Sei lá, me sinto feliz feliz e bem do seu lado então eu sorrio. Sinto isso desde que esbarrei em você lá no treino naquele dia, primeiro eu tive curiosidade pra saber o que uma garota tão bonita fazia ali, depois quando te vi na sala fiquei surpreso e com vontade e me aproximar de você mas não sabia como, e depois de ontem que eu te conheci melhor você não sai mais da minha cabeça. Desculpa se eu te fiz pensar que eu estava rindo de você, eu nunca faria isso.
Ele falava rápido e eu ouvia calada, quando ele terminou eu não sabia o que dizer.
- Ok, tudo bem, Denis. Olha.. Eu vou pra casa, a gente conversa depois. - Eu consegui falar e fui me virando pra sair.
- Espera Val - Ele me segurou pela mão. - Tô desculpado?- Tá, tá tudo b... - Não consegui terminar a frase, o Denis me puxou pela cintura e me beijou.
Era um beijo suave e ao mesmo tempo intenso, quase sem perceber retribui o beijo, colocando as mãos em volta do pescoço dele. No final do beijo, olhei pra ele e vi aquele velho e lindo sorriso em seu rosto, e dessa vez eu sorri também.
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Verde e Roxo
RomanceAssim como duas cores completamente diferentes podem se unir e gerar outra cor, duas pessoas completamente diferentes podem se unir e gerar algo... Talvez até amor.