A tarde eu estava organizando uns cds velhos que não escutava a séculos, quando ouvi minha mãe chamar.
- Valéria! Seus amigos estão aqui!
Desci as escadas correndo e vi a Luana e o Luis já acomodados na sala.
- Oi gente! - Eu disse cumprimentado os dois.
- Muito bonito né, dona Valéria? - O Luis levantou-se e me olhou com expressão séria.
- O quê?
- Você abandonando seus amigos por causa daquele garoto estranho.
- O Denis não é estranho - Disse eu levantando um pouco o tom da voz, não queria brigar, mas de certa forma o comentário do Luis me irritou.
- Claro que é, a gente não conhece ele.
- Eu conheço ele. Dá pra parar de implicância com o Denis, Luis?
- Só tô tentando te proteger.
- Me proteger de que? Eu já sou bem grandinha tá? Além disso já tenho proteção até demais do pessoal aqui dessa casa - Falei sem me lembrar que minha mãe provavelmente ouvia tudo do cômodo ao lado.
- Quer saber? Faz o que você quiser então...
- Óbvio que eu vou fazer o que EU quiser - Falei a palavra "eu" propositalmente mais alto.
- Ótimo, vai lá com seu novo amiguinho então, espero que ele valorize a amizade de vocês e não troque você por alguma garota estranha.
Antes que eu pudesse responder, o Luis foi embora batendo a porta de entrada. A Luana ainda estava no sofá me olhando com os olhos arregalados.
- O que deu nele? - Perguntei ainda nervosa.
- Sei lá, ele ficou chateado por que você não deu nem um "oi" hoje de manhã na escola. Olha, eu vou atrás dele tá, depois a gente conversa.
- Tá.
- Ah, depois quero saber todos os detalhes dos seus altos papos com o Denis hoje, viu? - Disse ela, piscando pra mim enquanto saia pela porta.
Me senti mal por ter discutido com o Luis, mas também foi ele quem começou. Ficaria tudo bem depois, pelo menos eu esperava que ficasse.
A noite eu estava ajudando minha mãe na cozinha enquanto meu pai e o Caio jogavam vídeo game na sala.
- Quem é esse Denis que você e seus amigos estavam falando hoje a tarde. - perguntou minha mãe, eu bem que desconfiei que ela havia ouvindo toda a conversa.
- É um garoto novato da minha classe.
- hm, é bonito? - Fiquei vermelha, não acreditava que minha mãe havia perguntado aquilo.
- É, até que sim. - Respondi sem graça, olhando para baixo e minha mãe riu.
- Você gosta dele? - Fiquei mais vermelha ainda.
- Ele é bem legal, mãe.
- O Luis não acha ele tão legal assim.
- O Luis parece que endoideceu.
- Não fique tão brava com ele filha, o ciúmes faz as pessoas falarem bobagens mesmo.
"Ciúmes? Por que o Luis teria ciúmes de mim ué?" pensei comigo mesma mas não falei mais nada.
No dia seguinte como em todas as manhãs fui levar o Caio no treino, mas dessa vez o Denis me viu. Ele estava em um canto do campo rodeado de outros meninos e apenas sorriu e acenou, notei quando os garotos ao redor dele me olharam, o empurraram brincando e trocaram risadinhas.
"Será que ele andou contando o que aconteceu entre a gente?" pensei e fiquei envergonhada, só esperava que aquilo não chegasse aos ouvidos do meu pai.
A tarde na escola não sentei perto do Denis, e ele pareceu entender mesmo eu não tendo contado nada sobre a discussão de ontem. Também não sentei perto do Luis. Juro que eu tentei conversar com ele e até estava disposta a pedir desculpas, por um erro que não havia sido meu, mas ele me ignorou o tempo inteiro, e, sinceramente, não tenho vocação para ficar conversando com o vento. Acabei sentando em uma das fileiras do meio, a esquerda da Luana, com o Luis a direita dela, e fiquei conversando com ela a maior parte do tempo. A Luana disse que tentaria fazer com que o Luis parasse de birra, e eu esperava que ela conseguisse.
Era difícil ficar sem falar com meu melhor e quase único amigo, eu e o Luis nunca havíamos brigado assim antes. Tínhamos aquelas briguinhas de amigos por assuntos bobos que logo se resolviam e acabavam em risadas.
Na saída, A Luana não me acompanhou, preferiu ir com o Luis e eu não questionei. A poucos metros da saída da escola o Denis me alcançou.
- Você e aquele seu amigo brigaram?
- É... Tipo isso.
- Mas não foi por minha causa, né?
- Não, relaxa Denis. - Eu menti, não querendo que ele se sentisse culpado. - É besteira do Luis, já já passa.
Fomos caminhando juntos até a esquina da minha rua, a partir dali me dirigi sozinha para casa e o Denis seguiu seu caminho. A tarde e a noite nós sempre conversávamos por mensagem de texto, embora o Denis parecesse sempre cheio de coisas para fazer.
Durante o resto da semana o Luis continuou me ignorando e eu continuei esperando para saber até onde iria aquilo na esperança que ele cansasse logo dessa birra. A Luana, ao contrario falava comigo todos os dias, principalmente querendo saber das minhas ultimas noticias sobre o Denis, noticias que na verdade não existiam pois durante toda a semana nos tratávamos como amigos normais.
"Talvez isso mude amanhã", pensei comigo mesma, e não consegui evitar um sorrisinho. Amanhã estava tudo acertado para irmos juntos ao cinema, poderia acontecer muita coisa e inclusive nada, procurei não criar tantas expectativas, mesmo assim a ansiedade me corroía o estômago. Aquela noite pareceu mais longa que as outras e a insônia colaborou para isso, quando finalmente o sono me alcançou havia um rosto na minha mente e um sorriso nos meus lábios.
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Verde e Roxo
Roman d'amourAssim como duas cores completamente diferentes podem se unir e gerar outra cor, duas pessoas completamente diferentes podem se unir e gerar algo... Talvez até amor.