Capítulo 4

6 0 0
                                    

Dia 25 de dezembro. Ontem fizemos um jantar em família, trocamos presentes (menos o papai, ele não gosta de ser presenteado) e fomos felizes por algumas horas. Rendidos pelo cansaço, dormimos até às dez horas de hoje, e enquanto eu termino de me arrumar, minha família está lá embaixo decidindo qual o passeio de natal, todos jogados no sofá. Desço correndo e entro na cozinha na tentativa de passar despercebida, e obtive sucesso. Preparo um sanduíche de queijo e tomate, e pego um suco de laranja na geladeira. Alguém bate na porta, e papai corre para atender. Reconheço a voz desbocada da Cecília, e corro como se não houvesse amanhã para abraçá-la. Até esqueci o meu café da manhã, estava muito feliz por vê-la depois de dias.

- Por que você não me ligou? – reclamei, envolvida no abraço da minha melhor amiga.

- Sei lá, achei que deveria deixar você curtir seus pais, mas pensei melhor e vi que não consigo ficar longe de você – ela respondeu, com os olhos marejados.

Meu pai interrompeu confuso:

- Há quanto tempo vocês não se veem?

- Uma semana – falei, rindo.

- Essa juventude de hoje... – ele brincou.

Decidimos ficar em casa e curtir o feriado de um jeito mais familiar e caseiro, e meu irmão como sempre o melhor em festas deu a ideia de uma festa na piscina. Ele e Theo limparam o quintal atrás da casa, enquanto eu e Cecília limpávamos a piscina. Mamãe e Elise foram para a cozinha e papai subiu para encontrar sua playlist de músicas favoritas. Subimos para colocar nossos biquínis e os meninos foram ligar para nossos convidados.

- Nicole Whitaker, o que aconteceu com aquele seu irmão quieto, tímido e estranho? – ela provocou. Caiu na gargalhada e comentou o quanto ele estava diferente, até mais bonito.

- More longe dos seus pais, e os veja de dois em dois meses. Quando for a hora, você até arruma seu quarto – falei, ironizando.

- Ele agora está bem mais animado, estou gostando de ver. Até a Elise está mais liberal.

- É aquela coisa, ela tenta ser uma boa irmã mais velha, mas agora que eles estão aqui, a coitada pode finalmente descansar. E olha que maravilha, - pisquei o olho – agora Elise Whitaker está oficialmente de férias. Viva a festa da piscina! – Cecília riu e disse que eu estava maluca. Olhei-me no espelho, e desci atrás dela.

Fizemos um churrasco e convidamos uns amigos, algumas pessoas da família e alguns vizinhos. Foi um dia agradável, não me importei com coisas que não merecem nem o meu desprezo. Matamos a saudade de comemorar tudo com grandes festas, e festejamos a chegada, mesmo que temporária, dos meus pais. Um dos dias mais divertidos ultimamente.

[...]

Estou prestes a gritar quando Theo me segura e evita que eu escorregue. Ele me olha, sorri e deposita um beijo em minha testa, reclamando por eu ser tão distraída. Grito sorridente um 'obrigada' e volto a correr pela areia. Se não fosse realmente desastrada talvez não tivesse caído mais umas duas vezes só tropeçando em mim mesma enquanto corro pela praia. Mas eu não estava me importando, afinal nem doía.

Então para minha infelicidade, eu acordo. Fito o teto, decepcionada por não ter sido real, apesar de parecer muito. Hoje é dia quatro de janeiro. Menos de um mês para começar as aulas, e menos de dois dias para meus pais terem que voltar pro Canadá. A casa estava estranhamente silenciosa, e já eram quase dez da manhã. Geralmente aqui todo mundo acorda cedo.

Desci para tomar café, e para minha surpresa, minha família saiu e me deixou sozinha em casa. Escuto alguém assoviando uma canção, e reconheço o toque do meu celular. Uma mensagem do Theo me convida para me juntar com ele e família, e avisa que todos da minha casa também estão lá. Então porque me deixaram? Continuo a ler e ele diz que tem uma surpresa para mim, e pede para eu estar pronta em quinze minutos. Respondo um 'entendido', acabo de comer e vou me arrumar. Visto um vestido azul e um colar desses que a gente compra na praia. Prendo o cabelo num rabo de cavalo e espero.

DefeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora