Fogo e Escamas (Em processo de edição)

Gelo

Silêncio.

Amélia tinha certeza que podia ouvir a própria respiração e até mesmo os próprios batimentos cardíacos. Diante de si, via com apreensão, os dois dragões negros se entreolharem receosos. Do outro lado da penumbra azulada que os envolvia estava o inimigo: o dragão verde. Ele parecia ser o único relaxado sobre tudo aquilo que ocorria. Brincava com o dispositivo semelhante a um celular e que agora sabiam que se tratava de um detonar de bombas que estariam dispostas pelo armazém. A situação minimamente pode ser descrita como crítica.

–Ele pode estar blefando...-Sugeriu Felix em um sussurro.

–Você quer testar essa teoria? –Inqueriu rangendo os dentes Alex.

Definitivamente era melhor que não testassem aquela possibilidade. Amélia sentiu os pulsos doerem e formigarem, só então se lembrou que ainda estava presa.

–Er... Será que enquanto vocês discutem um modo de escaparem deste problema, poderiam me soltar?

–Não teríamos que pensar em uma solução se você não tivesse causado esse problema... –Resmungou baixo o dragão negro mais novo, contudo sua fala não fora o suficiente baixo para que a garota não ouvisse.

–Desculpe se eu estava tentando ajudar!

–Que bela ajuda...Imaginando como seria a nossa situação caso você não tivesse tentando ajudar.

–Se não fosse por mim ele estaria morto! –Indicou com a cabeça o homem desacordado, no chão, ao seu lado.

Alex apenas deu os ombros, ignorando-a.

–Pessoal...Acho que não é o momento adequado para discutirmos isso. –Felix se aproximou de Amélia e com um movimento rápido rompeu as cordas que a prendiam. A garota sentiu seus braços caírem pesadamente ao seu lado.

–Realmente, não é o momento adequado para discutirem. Eu posso explodir tudo em questão de segundos. –Falou o dragão verde em tom que indicava enfadamento –Na verdade eu nem sei por que estou ainda falando com vocês... Acho que devo ir embora e explodir o armazém. Desta forma não preciso sujar as minhas mãos.

–Se isso fosse mesmo verdade, você já teria feito. –Falou Amélia –Como também poderia ter me matado junto com o seu alvo...Mas não o fez. Você quer algo mais.

Pelo menos, desta vez, o semblante entediado e tranquilo do dragão inimigo se alterou, fazendo que surgir um vestígio de irritação, isso demonstrou que a humana tinha acertado em cheio.

–O que você quer, de verdade? – Questionou Felix.

Como resposta o dragão atacou o campo de força com suas garras. Alex soltou um gemido baixo, suor escorria do seu rosto e uma fumaça branca começava a sair de sua boca, Amélia percebeu que a temperatura dentro daquela espécie de bolha de proteção estava baixando, era indicação que Alex estava chegando ao seu limite.

–Dragões negros são tão fascinantes quanto perigosos... –Murmurou o dragão verde – Os dragões negros mostraram o seu verdadeiro poder a anos atrás, durante a guerra. Conseguiram colocar um clã de dragão contra o outro... São os únicos que podem copiar os poderes de outros dragões e além disso cada indivíduo habilidades especiais e únicas. Vocês representam a união de todos as raças, como também podem ser o instrumento de nossa queda...

–Que papo de doido é esse? –Cortou Felix – Você é mais um daqueles dragões que acham que os dragões negros devem ser eliminados pelo o que ocorreu na guerra?

–Eliminados? Não...- Sorriu sinistramente – Não se deve temer o poder e sim doma-lo e controla-lo.

– O que... – A pergunta a ser formulada por Felix nunca chegou a ser terminada pois um subitamente um ar gelado os envolveu. A bruma azulada agora mudava de formato, parecia se solidificar, na verdade a palavra certa seria congelar. Alex estava arfando. O seu limite tinha sido alcançado. Amélia olhou, nervosamente, para Felix.

– Um dragão mestiço... – O dragão verde demonstrou uma expressão impressionada e também divertida –Você também é um azul? Que interessante...

–Felix...-Amélia sussurrou –Não pode assumir o controle deste campo de força?

–A magia foi iniciada por ele, e só ele tem que termina-la. Só depois de terminado a magia é que posso iniciar a minha. –Explicou rapidamente.

"Mas quando ele terminar a magia ficaremos desprotegidos..." Amélia não quis expressar em fala a sua insegurança.

Alex praguejou em uma estranha língua, a cúpula de proteção conjurada pelo o jovem dragão já estava praticamente toda congelada. O dragão verde gargalhou.

–Parece que nem precisei usar os explosivos, no final.

Felix sussurrava algo, talvez formulando alguma magia. Amélia não sabia se a melhor estratégia seria o ataque...Deveriam fugir! Aquele inimigo já demonstrou ser muito perigoso, mesmo que seu objetivo, aparente, não seja mata-los, mas isso não significa que não irá machuca-los da forma mais dolorosa possível.

–Desculpem...- Alex se deixou cair de joelhos. Estavam envoltos em uma espécie de iglu de gelo.

Felix não respondeu, a garota, por outro lado, quis ampara-lo. Mas um forte soco desferido a estrutura logo a fez se despedaçar.

Felix aproveitou o momento para lançar o que parecia um jato de fogo. Contudo o golpe não acertou o seu alvo, pois o dragão verde não estava a vista.

Um tiro foi desferido. Felix gritou e tocou o seu ombro agora ferido. O rapaz tombou no chão, estava agonizando devido a dor. Aquelas balas não deviam ser normais...

–Acho que a brincadeira terminou...- Disse exibindo um torto sorriso enquanto apontava a arma agora para Alex –Foi bom brincar de luta com filhotes, mas eu tenho muita coisa para fazer. Meu senhor irá ficar extremamente contente ao ver o que trarei comigo...

Amélia se lançou à frente de Alex, o protegendo.

–Oh...Que fofo! Mas sinceramente, não tenho tempo para essas frescuras.

A adolescente sabia que ele iria atirar, mas não iria se afastar. Era por sua culpa que tudo aquilo estava ocorrendo. Felix ter se ferido... Alex estar agora fraco para lutar. E até mesmo aquele homem ferido com queimaduras a qual não pode salvar. Tudo aquilo era sua culpa.

–Não...Não de novo...-Sussurrou Alex.

Amélia pode sentir como uma vibração no ar envolvia o ambiente, como se o ar tivesse se tornado mais pesado e rarefeito, contudo não tivera muito tempo para analisar esse fenômeno pois também ouviu o som do tiro... Esperava pelo impacto. Este, entretanto, não veio. Virou o rosto para trás, para sua surpresa como também do dragão verde, a bala que deveria tê-la atingindo, estava flutuando no ar. Na verdade... Estava paralisada, como se alguém tivesse dado pause na filmagem.

Alex a abraçou e puxou para o lado. A bala congelada no tempo, logo retornou a vida e retornou o seu trajeto. Mas agora atingindo a parede, logo atrás da dupla.

–Alex... Isso... –Balbuciou a garota, mas o jovem dragão negro não poderia responde-la, pois o rapaz estava desmaiado.

"Essa é a habilidade dele?" Pensou, abismada.

–Não terão tanta sorte de nov... – O dragão verde farejou o ar e fez uma careta, logo depois praguejou em sua estranha língua.

–Parece que terei que usar as bombas, no final. –Disse por fim.

Amélia mordeu o lábio inferior. Depois de tudo que tinham passado... Seria esse o fim?