O passado e o presente

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–Ele é tão estranho... –Sussurrou uma criança a outra.

–Perguntaram sobre os pais deles e ele não soube responder... Como se tivesse escondendo algum tipo de segredo!

– Mas isso não o faz estranho mesmo, querem saber o que é realmente estranho? Tenho certeza que o ouvi rosnar! Como um cachorro!

–Pois, eu vi os olhos dele mudarem de cor... Tipo assim, do nada! Uma hora eram verdes e na outra vermelhos!

–Realmente, ele vai ganhar o prémio de esquisitão do ano!

–Devíamos fazer um troféu ou uma coroa!

–O rei esquisitão!

Os garotos começaram a rir com a sugestão... Pareciam não se preocupar com a possibilidade do dito "esquisitão" os escutasse.

Felix tentava ignora-los olhando para sua tarefa em branco de matemática. Porém, tudo parecia ser escrito em grego ou em outra língua indefinível, sua concentração estava, obviamente, em outro lugar.

–Eu acho que os pais deles não o queriam, afinal...Quem iria querer um bebê demoníaco! –Ao falar isso, as crianças riram ainda mais, eles sabiam que Felix os escutava, mas isso não impediam de tecer comentários cruéis.

–Meus pais...- Felix sabia que deveria se sentir irritado com aquelas calúnias, pois a verdade é que nem se lembrava de como eram seus pais, a única coisa que sabia era que eles tinham morrido tentando protege-lo... Não tinha fotos e nem nada... Difícil criar laços afetivos com uma sombra de seu passado. Além disso, o que mais lhe doía não era os comentários maldosos em si, mas sim a verdade escondida por trás daquelas palavras proferidas por seus colegas de classe: por mais que tentasse nunca poderia ser uma criança normal, eles estavam certos, era um estranho e esquisitão. Afinal, não era totalmente humano e com o passar dos anos sua outra natureza se manifestava... O único legado de seu pai: ser um dragão, ou pelo menos meio dragão, tendo em vista que sua mãe era humana. Todavia, isso gerava outro problema: como se controlar? Ninguém nunca lhe ensinou nada a respeito dos dragões, de modo que as mudanças que ocorriam em seu corpo sempre foram recebidos com bastante surpresa e desespero... Quase tivera um ataque cardíaco ao ver seus olhos mudarem subitamente de cor, adquirindo uma coloração avermelhada. Pensara que ficaria cego, porém o efeito logo passou, mas agora aprendeu que qualquer flutuação de humor poderia ocasionar essas estranhas consequências. Uma vez acordou com escamas negras cobrindo o seu braço, teve que usar camisas com mangas compridas e luvas durante dias, em pleno verão, alguns alunos começaram a espalhar um boato dizendo que Felix estaria com uma doença de pele contagiosa, de modo que todos passaram a evita-lo, tornando o garoto ainda mais solitário. Outra vez, tivera enjoou por não conseguir controlar o seu sentido de olfato, podendo sentir todos os cheiros advindo da cantina da escola, odor do lixo misturado com a comida que estava sendo servida o fez vomitar. Fora alvo de risadas e provocações por parte de seus colegas durante semanas...

Sua tia o pedia para se controlar, temia que tais manifestações de sua descendência draconiana chamassem atenção de um seleto e perigoso grupo. Outros dragões poderiam descobri-lo e logo seria perseguido e provavelmente morto, assim como seus pais. Porém, a questão persistia: Como se controlar? Ultimamente outros questionamentos surgiam em sua mente... Será que queria mesmo saber mais sobre sua outra metade dragão? Talvez, se ignorasse seus poderes, com o tempo, eles sumiriam e assim poderia ser um garoto normal.

–Normal...-Sussurrou, pensativo. Estava tão confuso... Queria ter alguém que pudesse conversar e revelar suas dúvidas e inseguranças. Sua tia o ajuda, isso era verdade, todavia ela também tinha suas próprias dúvidas e medos...

Fogo e Escamas (Em processo de edição)Onde histórias criam vida. Descubra agora