—Esse será o seu novo irmão... —A mãe de Amélia anunciou ao revelar o mais novo membro da família. Havia alguns meses desde que ela mencionara que estava namorando, mas até aquele momento, o dito namorado permanecia um mistério. A agenda apertada de Amélia, repleta de escola, aulas de línguas e de arte, a tinha distraído da curiosidade sobre o novo romance da mãe. Isso até serem convidados para um jantar que anunciou também um noivado.
"Um casamento? Nova família? Novo irmão? Como assim?" Amélia estava atordoada. Pouco antes, ela estava mais ansiosa para experimentar a culinária sofisticada do restaurante em Bear Creek, um dos bairros mais elegantes da cidade, do que para conhecer o misterioso namorado de sua mãe. Agora, ela nem conseguia focar no cardápio, tampouco na decoração neoclássica do salão onde estavam.
—Amélia, diga alguma coisa! —Sua mãe implorou, seu tom de voz marcado pela súplica. Amélia disparou um olhar gélido. Que resposta sua mãe esperava? Um sorriso e congratulações? Ela não só havia escondido o noivado como também nunca apresentara o namorado anteriormente.
—Ele não será meu irmão, e nem você será meu pai, — Amélia finalmente respondeu, encarando o homem e seu filho ao seu lado. Captou o olhar penetrante do jovem que, ao que tudo indicava, deveria ser seu "irmão". Teria ela ouvido um rosnado? Impossível. Não poderia negar, no entanto, que ambos eram impressionantemente belos. O mais velho, Arthur Dracorions, tinha longos cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo e olhos azuis intensos. Aqueles olhos pareciam escrutinar a alma. Enquanto Arthur emanava uma aura de refinamento e cortesia, o mesmo não poderia ser dito de seu filho, Alex. Ele mantinha um silêncio carrancudo, lançando olhares furiosos e resmungando palavras ininteligíveis que apenas seu pai parecia compreender.
— Amélia, tenha modos! O que o Arthur vai pensar? — Sua mãe lançou um olhar repleto de ansiedade para o homem à sua esquerda, que agora era, de fato, seu noivo. Arthur, por sua vez, apenas presenteou a sala com um sorriso enigmático.
— O que o senhor Dracorions irá pensar é que eu não serei a filha dele. Francamente, mãe, sejamos racionais! Eu mal o conheço; não posso simplesmente chamá-lo de pai. E esse garoto..." — ela apontou para Alex, indiferente ao seu olhar azedo — não será meu irmão. Como espera que eu aceite tudo isso de uma hora para outra? Semanas atrás você anunciou que estava namorando e agora, quando finalmente tenho a chance de conhecer esse misterioso cavalheiro, você me surpreende com notícias de casamento?
— Não jogue toda a culpa em mim, Amélia. Você também não mostrou nenhum interesse no meu namoro. Quando eu tentava falar do Arthur, você simplesmente me ignorava, — rebateu a mãe.
— Mãe, vou ser direta: seus relacionamentos anteriores mal duraram um mês. Como eu iria imaginar que este seria diferente? Evitei criar expectativas para me proteger, — Amélia respondeu. Ela talvez estivesse sendo dura, mas não apreciava a insinuação de sua mãe de que estava sendo descuidada ou frívola. Afinal, esses estranhos tinham entrado abruptamente em sua vida familiar.
Neste momento, Arthur interveio. — Senhoritas... Seu tom buscava apaziguar as emoções acirradas. Amélia olhou em volta e percebeu, talvez pela primeira vez, o quão se destacavam no ambiente sofisticado do restaurante. Este não era um local qualquer; era um ponto de encontro para a elite de Bear Creek, decorado com cristais cintilantes e tapeçarias opulentas, onde se degustavam pratos da alta gastronomia. Os murmúrios vindos de outras mesas se mesclavam com olhares que oscilavam entre curiosidade e desaprovação. A jovem sentiu suas bochechas se aquecerem.
— Compreendo o seu ponto de vista, Amélia, — disse Arthur, ainda sustentando um sorriso cordial. — Não tenho a intenção de me colocar no lugar do seu pai.
— Minha mãe te contou que eu nem conheço o meu pai? — Amélia interrompeu, ignorando o olhar reprovador de sua mãe.
— Sim. Ela me contou a história de vida de vocês. Olivia, sua mãe, tinha apenas 15 anos quando engravidou de você. O seu namorado da época, que era seu próprio professor, a abandonou, assim como o bebê que ainda não havia nascido. Sua mãe sofreu muito, Amélia; teve que amadurecer precocemente, abandonar os estudos e dedicar-se inteiramente à sua criação.
Amélia mordeu internamente as bochechas, um sinal tanto de nervosismo quanto de irritação. Ela já sabia dos sacrifícios que sua mãe havia feito. Olivia poderia ter optado pelo aborto, mas escolheu enfrentar as adversidades e criá-la sozinha.
— Eu a admiro. Ela é uma mulher forte, e foi isso que me fez apaixonar por ela. Sei que tudo pode parecer apressado, mas asseguro-lhe que minhas intenções são as melhores. Quero fazer sua mãe feliz e protegê-la. E isso se estende a você. Não pretendo substituir seu pai, mas poderíamos começar com uma amizade, — Arthur propôs.
Amélia ficou em silêncio, ponderando. Ele parecia sincero, uma raridade entre os antigos namorados de sua mãe. Arthur era o único que aparentava querer assumir responsabilidades e manter um compromisso sério. Ela decidiu que poderia, ao menos, dar a ele uma chance.
— Que papo mais fresco! — Alex falou pela primeira vez. — Essas humanas deveriam se sentir gratas que meu pai esteja oferecendo uma oportunidade como esta! Se ela não quer aceitar, que seja tola então! Por que precisamos nos humilhar e...
Um som alto ressoou pelo restaurante, ecoando por todo o ambiente. Amélia havia se levantado e desferido um tapa vigoroso no rosto do outro jovem. Não foi um tapa qualquer; ela aplicou toda a sua força, deixando a bochecha de Alex visivelmente avermelhada.
— Humanas? Você é o quê, um alienígena? Seu pai está sendo educado e levando em consideração os nossos sentimentos. Ele não está se humilhando; pelo contrário, está agindo com honra. Diferente de você. Cresça! — Amélia disparou, autoritária.
— Como você ousa... — rosnou Alex. E, sim, Amélia tinha certeza de que era um rosnado. Ela até juraria que a íris de Alex mudou do seu tom azulado para um rubro incandescente por um breve instante. Mas antes que pudesse confirmar sua observação, Arthur interveio, segurando o braço do garoto.
— Ela está certa, Alex. Peça desculpas, — ordenou Arthur.
— Você quer que eu peça desculpas... a uma humana... quer dizer, a ela?— Alex parecia incrédulo, ainda massageando a bochecha que Amélia tinha atingido.
— Sim. Se você deseja respeito, deve respeitar os outros. Agindo dessa forma, você parece apenas um filhote imaturo, — rebateu Arthur.
"'Filhote? Humana? Que terminologia estranha é essa? Será algum tipo de gíria regional?' Amélia ponderou, observando a interação entre os dois homens. Ela também notou um sotaque peculiar neles; talvez fossem do leste europeu ou de algum lugar ainda mais exótico.
Alex se levantou e deu a volta na mesa, ficando diante de Amélia. Ela engoliu em seco, sem saber o que esperar. Agora, percebendo sua altura e porte físico, ela avaliava o quanto ele era imponente—algo que não havia notado enquanto ele estava sentado. Se ele resolvesse revidar, ela tinha certeza de que o resultado seria bem mais marcante do que a vermelhidão que ela deixara em sua face.
— Peço desculpas, — disse Alex, ajoelhando-se e tomando a mão de Amélia, levando-a aos seus lábios para um beijo leve.
— O que você pensa que está fazendo? — Amélia tentou retirar sua mão, mas Alex a segurava com uma força quase sobre-humana.
— Ora, agora você não aceita minhas desculpas?
— Por que não se desculpa de uma forma mais convencional? — Amélia não conseguiu esconder o rubor que tingia suas bochechas. Para seu horror, Alex pareceu perceber seu constrangimento e lhe lançou um sorriso provocador.
— Você se envergonha com um simples beijo na mão... Será que você é virgem?
Olivia conteve um riso; aquele jovem claramente não tinha noção com quem estava lidando. Arthur, por sua vez, balançou a cabeça em um gesto claro de desaprovação.
— Seu grande idiota! — Amélia não hesitou e desferiu um chute no rapaz à sua frente. Naquele momento, concluiu de uma vez por todas que o detestava.
Se este era o início de uma nova família, Arthur já previa que as coisas não seriam tão pacíficas quanto ele inicialmente tinha planejado.
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Fogo e Escamas (Em processo de edição)
FantasyLendas e mitos antigos falavam sobre seres místicos capazes de destruir vilas inteiras. Sua forma era semelhante a um imenso lagarto. Com grandes asas. Escamas duras na qual espadas e outras armas era impossível de perfurar. Chama e terror eram asso...