Livy, o caçador

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Nicoli correu pelas ruas escuras e frias. Ali na area 5 do distrito de Pandora da provincia sul, a modernidade se misturava com o antigo. Nao era como na área 1 que tudo era moderno e cheio de pessoas nas ruas. Aqui quase todas as casas e comércios estavam abandonados. Tudo era cinza e sem cor, interrompido de vez em quando por pichações coloridas. Só as familias mais pobres vinham para áreas como essa.
Nicole se viu em uma velha vitrini. As orelhas, os olhos, as unhas e presas. Essa era sua aparência agora. Quase um animal. Nicoli chorou copiosamente. Justo ela que sempre temeu os multantes era um deles agora. Ela pegou uma pedra no chão e destruiu a vitrine junto com a imagem do seu eu indesejado.

Na noite fria Nick andou sem rumo, a cada barulho seu coração ia a mil. Nick olhou para sua mão e lembrou do telefone embutido. O mesmo que continha seus dados e um rastreador. Ela tinha que tira-lo se não eles a localizariam. Ela não duvidava que seu padrasto ou sua "mãe" a denuciariam para o COM(caçadores oficiais de multantes). Então ela seria caçada e morta ou presa em uma de suas prisões subterrâneas para servir de cobaia para o governo.

Nick cortou a palma de sua mão com suas garras afiadas e tirou o chip, sua mão latejou de dor, ela jogou o chip ao chão e esmagou com seu tênis. Assim não teria como a encontrarem. As câmeras da rua haviam sido destruida por gangues de mutantes. Menos uma preocupação. Nicoli pegou um lenço de sua mochila e enrolou na mão do melhor jeito que pode.
Agora ela tinha que arranjar algum lugar pra dormir. Casas abandonadas é o que não faltavam, o problema eram as patrulhas de caçadores arrombando esses lugares a procura de mutantes como ela, quase que diariamente. Nicoli escolheu uma casinha mais escondida cuja porta estava aberta. Ela entrou sem fazer barulho e fechou a porta atrás de si delicadamente. Nick tirou da sua mochila, e acendeu sua pequena lanterna digital. Não iluminava grande coisa, mas tinha que servir. Dentro do lugar, tudo estaca desarranjado. O pouco de coisa que havia sobrado estava quebrado ou rasgado. O lugar fedia a mofo e urina, havia sugeira por toda parte. Nick odiou o lugar, mas não tinha pra onde ir. Nick subiu para o segundo andar pela escada que rangia a cada passo. Abriu a porta do que outrora devia ter sido um quarto. O lugar estava sujo, mas não imundo, como os cômodos inferiores. Dentro do cômodo pequeno, um colchão rasgado e um guarda-roupa sem portas com alguns trapos velhos. Em um canto da parede um espelho rachado e sujo, a janela estava sem vidro.
Nicoli se aproximou do colchão e se sentou sobre ele.
- Pelo menos não cheira a mijo. Murmurou tirando a mochila das costas. Nick olhou para o espelho e resolveu ver de novo sua aparência.
- Será que eu vou ficar assim para sempre? Contornou com o dedo sua presa branca olhando seu reflexo.
- Se essa transformação ficou escondida até hoje, deve haver um jeito de voltar a esconde-la. Nick passou a mão sobre suas orelhas felinas enquanto pensava.
- Talvez se eu me concentrar. Nick fechou os olhos e respirou profundamente.
- Some, some, some, some. Recitou como se fosse um mantra, mas quando abriu os olhos nada mudara.
- Droga! Talvez não seja mental, seja físico. Disse ela com otimismo. Nick fez força nas mãos e enrugou a testa até cansar e nada.
- Droga, droga! Gritou chateada, pensou até em quebrar o espelho, mas desistiu. Ela não podia quebrar tudo que refretisse sua feia imagem de agora.
- Quem sabe é fisico e mental. Nick fechou os olhos e tensionou os músculos, por um minuto nada aconteceu, mas depois começou como se fosse uma pressãonzinha no seu corpo. Nick continuou com os olhos fechados por uns instantes, depois os abriu lentamente. Quase deu um pulo de alegria quando viu sua aparência despida de sua transformação animal. Apolpou o rosto feliz.
- Consegui. Sem cauda, sem orelhas, sem garras sem presas. Agora ninguém pode dizer, só de olhar, que eu sou uma mutante. Nick concluiu feliz. Mas também pensou que tinha que ter cuidado. Ela não sabia como se dava sua tranformação. Qual era o gatilho para tal mudança? Seria a raiva, o medo, será que poderia aprender a controlar esse fenômeno?
Nick espantou esses pensamentos. Estava cansada e queria descansar. Procurou e achou um pequeno banheiro no fim do corredor. O banheiro estava imundo e fedorento. Nick testou a torneira e havia água, era uma daquelas casas que tinham caixa de coleta e filtragem anti ácido da chuva. Isso era muita sorte a maioria desses lugares abandonados tinhas as torneiras secas. Não dava para garantir que a água era própria para consumo, levando em consideração que esses sistema não obtinha manutenção a anos, mas era o que ela tinha. Nick bebeu a água meio amarga, avidamente, depois usou o banheiro e voltou ao quarto.
Nicoli escolheu o cobertor menos rasgado que havia no guarda roupa, se enrolou no cobertor e deitou no velho colchão e pegou a foto com sua irmã. Nela três poses distintas das duas se sucediam.
- Irmazinha, amanhã eu tenho que me distanciar ainda mais de você. Já sinto saudades. Nicoli abraçou a foto e dormiu.

Nicoli acordou cedinho pela manhã. Seu estômago roncava de fome.
Ela desceu até a cozinha e abriu a geladeira, nada. Vasculhou cada armário até encontrar uma lata de picles em conserva. Nick achou uma faca enferrujada em uma das gavetas, abriu a lata e comeu tudo.
Nick pegou sua mochila e saiu rapidamente da casa.
"Vai saber se eles já estão me procurando." Pensou consigo mesma.
Nick andou furtivamente pelas ruas. O sol brilhava forte, deixando o ar abafado. Nick suava e seu estômago começou a reclamar.
- Acho que aqueles picles não me fizeram nada bem. Ela andou até onde pôde, mas seu estômago se embrulhou e ela correu para um beco onde vomitou todo seu café da manhã.
- Ai, nunca mais como picles. Disse respirando pesadamente sentada no chão do beco imundo.

Depois de descansar um pouco Nick continuou sua caminhada. Ela tinha que botar distância entre ela e seu antigo lar. Andou e andou até o entardecer. Ela se sentia fraca, não havia comido nada depois de vomitar, apenas bebeu água. Já anoitecia quando Nick sentou em um velho banco de madeira, não se aguentando mais nas pernas, fraca pela falta de comida. Se encolheu abraçando as pernas longas. Nick cochilou, mas abriu os olhos quando ouviu um barulho. De um beco escuro surgiu um mutante andando em passadas silenciosas. Ele era dirente dela, sua cara parecia com a de um lobo toda coberta com pelos pretos. Ele estava sem camisa e seu tronco e braços eram cobertos do mesmo pelo da face, tinha garras sujas e compridas e presas enormes.
- O que faz uma garotinha como você aqui sozinha a noite? Falou com voz fina que não combinava com seu corpo enorme.
Nick não respondeu, apenas se levantou do banco. A cada passo que ele dava em sua direção ela dava dois para trás.
- Qual seu nome garotinha? Disse ele sorrindo revelando mais de seus dentes enormes e amarelados. Nick engoliu em seco.
- Eu só quero conversar. Eu não sou o lobo mal. Falou o mutante estendo a mão em sua direção.
Nicoli não pode mais conter o medo, se virou e correu. O mutante correu atrás dela de quatro, imensamente mais rápido. Nick pensou que aquela hora era perfeita para sua transformação, mas ela se sentia muito fraca. O mutante a alcançou em um instante, deu um pulo e a derrubou no chão com um baque seco. Nick sentiu o seu bafo podre no rosto, fechou olhos temerosa de olhar para o rosto do lobo.
- Te peguei garotinha. O lobo segurava suas duas mãos e sentou com seu corpanzil enorme sobre as pernas da menina. Nick se debatia, mas não era forte o suficiente para se opor a força do mutante.
- Garotinha, eu não sei se a devoro agora ou se eu me aproveito desse seu corpinho lindo, humaninha. O mutante lambeu os beiços para salientar a ameaça.
Nick abriu os olhos desesperada.
- Não por favor. Chorou ela em desespero.
- Me dê um motivo para não fazer isso.
- Eu sou da mesma espécie que você. Sou uma mutante. Nick tinha esperança de que isso o parasse.
O mutante riu uma risada rouca e cavernosa.
- Garotinha se você fosse uma mutante de verdade, saberia que me dizer isso não adiante de nada. Nas ruas o mais forte manda mutante ou humano.
- Por favor me deixa ir, senhor.
- Senhor? Quanto respeito. Deixe eu me apresentar sou Luno lider do grupo mutante de lobos, meia lua. Qual o seu nome?
- Nicoli.
- Bom Nicoli, chega de conversa.
O lobo se aproximou de Nicoli com avido desejo. Nick sentiu aqueles labios secos e asperos pressionarem os seus. Nick teve asco ele era fedorento, selvagem e vil. Ela se debateu mais ainda tentando escapar.
- Acho melhor você cooperar. Avisou o mutante segurando com mais força seus braços. Nick não deu ouvidos e tentou com mais impeto se soltar. O mutante levantou sua maozarrona e atingiu Nick com um tapa, mas Nick não se rendeu, ela já levara tapas piores de Lucio. O lobo pressionou seu corpanzil sobre Nick e ela pensou que era o fim. Ela seria violada e talvez morta por esse sujeito.
- Parado aí seu mutante. Nick ouviu uma voz masculina gritar. Ela sentiu uma lufada de esperança. Seu agressor se virou para olhar de onde vinha voz e levantou seu corpo para melhor ver.
- O que você quer moleque? Gritou o mutante com voz trovejante, mas ela viu seu olhar se tranformar mostrando uma expressão de medo. Nick não conseguia vislumbrar o dono da voz.
O outro cara não respondeu, Nick apenas ouviu um barulho e uma luz branca atingiu o mutante e ele caiu para tras morto. Nick ficou paralizada ali deitada do lado do cadáver. Então um garoto se aproximou com os cabelos negros voando ao vento, seus olhos azuis eram lindos, ele estava vestido todo de preto.
- Olá, esta tudo bem com você? O garoto perguntou estendendo a mão para Nick. Ela confirmou com a cabeça e aceitou a mão do garoto que a levantou.
- Qual é o seu nome? Perguntou o garoto sorrindo para ela.
- Nicoli, Nick. Respondeu a garota timidamente.
- Prazer, eu sou Olivie, mas todos me chamam de Livy. Sou oficial do COM. Um caçador. Contou com orgulho.
Nick empalideceu e engoliu em seco. Se ele descobrisse o que ela era, Nick seria mais um cadáver caido no chão.

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