XIV

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A voz de Paul ecoou pelo quarto mesmo na tentativa de abafar os sons

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A voz de Paul ecoou pelo quarto mesmo na tentativa de abafar os sons.

— Majestade, as notícias são terríveis.

Glacia o fitou séria, as orbes gélidas.

— O que aconteceu agora? Diga-me antes que eu me preocupe desnecessariamente. Tenho coisas pendentes para o resto do dia.

Devicci assentiu, sentando-se em uma cadeira próxima à janela. Glacia escovava os cabelos brancos, trançando-os em uma trança fina e que corria pelo topo da cabeça. A coroa repousava sobre a madeira da estante, sombria.

— Um corvo chegou hoje de tarde; Aliceth está preparando a armada.

A rainha se virou.

— Armada? O que queres dizer com isso?

O conselheiro se aproximou, mostrando para ela uma carta marrom; o selo de Aliceth preso ao objeto, arrancando uma expressão de repulsa da jovem.

— Bruxos e feiticeiras estão sendo convocadas para a corte dela. Todas as pessoas próximas à estrada da rainha, às vilas de Hórus e Grimor estão dizendo que perderam seus curandeiros e moradores da floresta para Aliceth. — Uma gota de suor escapou da testa brilhante do homem. — É mais agravante do que imaginávamos, Majestade.

As orbes azuis prolongavam o olhar à carta, arrancando um grunhido da jovem, que se levantou. O vestido correu pelo quarto quando ela se virou abruptamente, e disse:

— O que nós podemos fazer, sor?

Paul se ergueu, o lenço no pescoço simbolizando seu dever, pesando-lhe como nunca imaginara. Tomar decisões era algo difícil, complicado e cruel. A habilidade de ser conselheiro exigia cumprir todos os requisitos com êxito, sem pestanejar. Devicci não imaginava como deveria ser o papel de rainha, não na pele.

Os olhos verdes do homem correram o aposento, as ideias flutuando ao redor dos dois.

— Não devemos demonstrar medo nem nenhum tipo de receio perante aos fatos novos — O sol sumia no horizonte das janelas, deixando o quarto em uma gênese de escuridão. — Devemos prosseguir os preparos para o solstício, e ignorar essas notícias perante à corte. Talvez assim, nós possamos…

— Estás sugerindo que simplesmente esqueçamos o fato de Aliceth O'bern estar reunindo todos os indivíduos praticantes de magia de todo o continente para nos atacar? — Glacia bufou, os ombros acompanhando-a. — Sor, de acordo com esta carta, Aliceth prepara um ataque. Se ela direcionar um ataque contra nós, é declaração de guerra.

O estômago de Paul se revirou.

— Guerra? — O homem parecia prestes a se jogar no chão e orar para todos os deuses que conhecia e os que não conhecia. — Não há guerra desde o reinado de seu pai, e…

Não fale assim dele! — o grito de Glacia reverberou pelo quarto. — Ele não é meu pai, e nunca considerarei-o como tal. Que ele prossiga morto e enterrado.

— Mas o legado dele…

— Também não me importa. Vivemos o presente. Temos um prisioneiro em nosso castelo, o sul ameaça nos bombardear, e o solstício é daqui a dois dias. — Ela fincou a máscara gélida e fria no homem. — Não temos tempo de pensar no legado de mortos.

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O castelo ainda parecia extremamente exuberante para Focus, mesmo que estivesse observando a mesma parede há duas horas. O quarto em que se encontrava era relativamente grande, quase do tamanho do que tinha em Grimor. A diferença eram as persianas, cortinas, móveis, pinturas, quadros… absolutamente tudo.

Focus passara um dia em Invernum, e já vira tantos detalhes que divergiam do seu reinado. Os criados, por um exemplo, se vestiam suficientemente bem para a condição servil em que se encontravam. Apesar de não achar que alguns se agradassem disso, muitos pareciam à vontade e cumprindo seu dever com esmero.

Talvez fosse a aura de Glacia.

A rainha tinha algo… especial. Focus ainda não sabia discernir, mas o modo com que andava, e até o modo que movia as mãos, era diferente. Delicada, voraz, sutil e perigosa. Winter poderia encarnar trinta mulheres diferentes, mas continuaria sendo apenas uma com todas as outras dentro dela.

Essa era, de fato, uma qualidade que ele apreciava.

Um monarca deveria ter quinhentas faces diferentes para situações diferentes; uma face única para todas as outras. Focus Wate notava que essa não era um atributo que ele adquirira ao longo dos anos que reinara. Diferente de Glacia, que estava reinando há apenas um ano, Focus reinara por cinco, desde os 20 anos de idade.

Qual seria então a diferença entre os dois?

A sola da bota pisava no carpete conforme o homem andava pelo quarto, absorto em seus pensamentos, ignorando o crepúsculo que crescia às janelas. Haviam deixado uma jarra de vinho na mesa próxima à cama e algumas uvas. Se a hospitalidade tivesse sido outra no começo, não teria tocado em nada. Porém, comera mais do que deveria, e ainda não havia caído no chão padecendo.

Talvez a temporada que iria passar em Invernum fosse realmente interessante…

Focus se perguntava constantemente como estaria Grimor. Trevor tinha sucedido o trono ainda com o homem na prisão, não zelando em nada pela memória ou honra do irmão mais velho. Quando voltasse, se voltasse, esperava encontrar o reino ainda de pé, resistindo às represálias do destino.

Levou o vinho à boca com rapidez, buscando apagar os devaneios, e exilar o futuro.

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O sol sumia às costas de Rickard, as montanhas e falésias caindo ao horizonte. Os tons laranjas e azuis se transversavam e entrelaçavam, pintando o céu com os mais variados tons.

O castelo brilhava ao longe, as luzes das velas e castiçais adornando as janelas e portas. O símbolo de Invernum voava ao vento, agitando-se em uma dança frenética. Conforme pisava na grama, Rickard segurava o pergaminho com mais força nas mãos; a colina à frente já estava coberta de neve, com plumas brancas ao chão.

Ergueu o papel em mãos, o cabelo ruivo esvoaçando. O símbolo do reino estampava o papel amarelo, guardando informações valiosas no seu interior. Rickard odiava aquele momento, aquela parte do seu trabalho alternativo. Se sentia culpado, um traidor da pior espécie.

Rezava para que os Quatro o perdoassem no futuro, quando chegasse a sua hora. Rezava para qualquer deus na espera de algo que o livrasse. Mas, esse momento ainda não tinha chegado.

O assobio cortou o vento, trazendo um corvo escuro ao horizonte. O animal repousou à mão do homem, que pôs o pergaminho amarrado às patas do pássaro. Os olhos escuros e profundos observavam a face do homem com atenção, quase emitindo desprezo.

Gesticulou com a mão para o corvo ir embora, fazendo-o partir ao céu, levando as informações da corte invernal para o sul; para a boca da cobra.

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Demorou, mas saiu! O que acharam do capítulo? Rickard está mostrando uma face diferente… As tensões estão crescendo! XD. Foi curtinho, mas prepara o terreno para o próximo...

Espero que tenham gostado!

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Até a próxima!

Gelo - Uma Rainha Sem PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora