Distopia

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Lúcifer e seus anjos foram precipitados ao cárcere, e apartados do amor de Deus. Em retaliação, os Infernais decidiram macular a Criação Divina, distanciando a criatura do Criador. Assim começou a distopia da obra.

O plano físico vivia sua alvorada e o pecado original feriu a aliança de Deus com o homem, introduzindo ao mundo, recém-criado, a corrupção universal e seu flagelo.

Deus não coexiste com o pecado, e desta forma, degredou o casal original para além das bordas do Grande Jardim.

Sem um lugar junto a Deus, o casal foi forçado a viver segundo sua sorte, em um mundo ainda em formação. O Jardim estava vazio, então nossa campanha começou.

Lúcifer havia retornado de sua empreitada pessoal com a certeza de quem ainda não havia perdido a guerra. Para ele, o banimento era uma página virada. A conjuntura instituída após sua rebeldia era o que mais importava no momento. De um lado os Celestiais, do outro os Infernais, e no centro desta peleja, a humanidade, o elo vulnerável.

O Senhor do Sheol tinha um plano, e fomos reunidos para deliberar. Lúcifer nos relatou acerca do Jardim, e dentre todas as maravilhas que existiam em seus limites, duas árvores de inigualável esplendor chamaram sua atenção, a "Árvore da Vida" e a "Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal".

O Querubim desejou aquelas árvores. O primeiro anjo iludiu o primeiro homem, e sua queda o precipitou para fora dos limites do Éden, abrindo espaço para o plano nefasto, saquear o santuário.

Coube a mim, monitorar o deslocamento do casal original, e impedir seu regresso. O restante rumou para o oriente, ao encontro da fortaleza verde.

A região apresentava altas temperaturas, mas nada se comparava ao arrojo das labaredas produzidas pelo grande Lago de Fogo. O casal havia se distanciado, e levaria um dia de caminhada para chegar até eles. Os demais não teriam uma tarefa das mais simples, uma vez que as bordas do Jardim estavam protegidas.

O deserto era um local bastante peculiar, e apesar de seu aspecto desolador, a vida se revelava nos pequenos detalhes. Avistei insetos de todos os tipos e tamanhos, aves voando no céu e a vegetação, mesmo que tímida, brotava dos lugares mais improváveis.

Uma serpente cruzou o meu caminho. O réptil deslizava com desenvoltura sobre as areias escaldantes. O animal percebeu minha presença e projetando-se em minha direção, retorceu o corpo sinuoso para o ataque. Um embate silencioso foi conflagrado, e após um breve hiato, a serpente avançou. O meu reflexo sobrenatural me ajudou a interromper sua investida. Mesmo contida, enroscou-se em meu braço, revelando sua força.

Sua impetuosidade me impediu de liberá-la. Se eu o fizesse, certamente arremeteria. Aquela criatura, condenada a comer o pó da terra lembrou-me aquele que nos condenou. Ambos possuíam o seu veneno.

Fiz o que achei mais sensato naquele instante. Estrangulei sua traqueia. Sem vida, tombou sobre as areias quentes do deserto. Uma leve brisa deslocou parte da duna encobrindo seu corpo.

Contemplei o horizonte, evidenciando seus tons alaranjados. O grande luzeiro se despedia mais uma vez, e aquele entardecer me arrebatou com uma placidez há muito esquecida.

Aquela sensação me remeteu aos tempos em que servíamos a Justiça Original. Fui acometido pelo saudosismo, mas lembrei-me que a minha condenação não teria fim. Cruzaria a eternidade pagando o preço pela minha traição.

O sol havia desaparecido, tendo a lua como governante. Sua pálida luz revelou ao longe duas silhuetas.

Os indivíduos aproximaram-se com celeridade. Eram Celestiais.

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⏰ Última atualização: Nov 18, 2019 ⏰

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