HOLLEN - ANJO CAÍDO (1ª ed -2015 // 2ª ed - 2020) - LIVRO (capítulos iniciais)

Parte Quatro

O Nefilim avançava. Apesar da vagareza, sua envergadura representava uma ameaça. Naquele momento não havia outro propósito, senão, tirar-me a vida. Em um esforço descomunal, o tirano fez uso de sua espada. A lâmina cortou o ar, tentando em vão acertar o meu corpo.

Debilitado por conta dos ferimentos, o Nefilim não tinha mais tamanho vigor. Elevando a espada sobre a cabeça e entoando palavras de ordem em um dialeto ancestral, desferiu o seu golpe derradeiro. A lâmina pendeu em minha direção, e sem acerto, encravou no concreto produzindo um amplo tinido.

Com a espada fincada, utilizei uma parte do concreto liberado com o choque. Desferindo o primeiro golpe ele largou a espada, no segundo, tombou. Projetei-me sobre o gigante e desferi outros sucessivos remates, até consumar sua existência. Seu rosto estava disforme com tamanha agressão. Fiquei parado sobre ele, saboreando tamanha agressividade.

Aquele momento comprovou a minha desordem interior. O Sheol ainda permanecia imerso em minha alma. Subitamente, afastei-me, soltando o pedaço de concreto embebido em sangue.

Os seres angélicos buscam a paz, mas em tempos de contenda, as Hostes Celestes são impiedosas contra os seus inimigos. Sua natureza pacífica não permite que usem suas habilidades sobrenaturais em vão, porque poderiam se valer da superioridade para tirar vantagens e para os celestiais, a vanglória é um pecado gravíssimo. Lúcifer não concordava com isso, pois se um anjo é dotado de tal privilégio, fazer uso de seus dons não poderia ser considerado um erro.

Os anjos caídos acabaram tendo a liberdade de se valer de sua natureza, usando tais habilidades de forma mais instintiva, se aproximando bem mais das feras e distanciando-se dos preceitos originais.

Retornando à razão, voltei minhas atenções para o condutor, que se encontrava no mesmo local, com a espada cravada em seu peito. Aproximei-me de seu corpo e notei a ausência do outro indivíduo. Recuperei a espada, e logo em seguida certifiquei-me que este Nefilim se encontrava morto.

A vítima também estava ausente. Afastei-me do veículo, percebendo um assimétrico rastro de sangue. Segui a trilha e pude encontrar o Nefilim, carregando, ainda que lentamente, a vítima em seu ombro. Avancei a ponto de bloquear o caminho.

— Para onde a está levando? — Interroguei.

O indivíduo nada falou. Estava desarmado e ferido. Seu olhar deslizou até a minha espada, fitando-me logo em seguida.

Com uma expressão carrancuda, tinha pouco mais de 2 metros, não era dos mais robustos. Permanecemos frente a frente por um certo período. O impasse se desfez assim que o tirano puxou do bolso uma corneta. Ela não era muito grande, e levando-a a boca, soprou. Para a minha surpresa nenhum som foi ouvido! Pelo menos, não neste plano.

O Nefilim repetiu o ato. Deveria tomar uma atitude e hipnotizado pela impulsividade, lacerei o seu peito.

Ele tombou diante de mim sem vida.

A mulher despertou de sua inconsciência e quando voltou a si, seu estado de pânico também retornou.

— Estou aqui para te ajudar! — Falei de forma contundente.

Ela me encarou, sem crer no que havia acabado de ouvir. Sua pele estava trêmula e seus olhos cheios de pavor.

Algo poderoso estava a caminho. Intuitivamente, a tomei pelo braço e começamos a correr, em uma vã tentativa de nos livrar daquele local. A energia aumentava rapidamente. Enquanto corria olhava a fim de detectar a presença de tamanho poder.

Uma grande fenda surgiu adiante, nos tragando para o seu interior. Ainda estávamos na cidade, mas certamente invisíveis aos olhos de seus habitantes. Fomos cercados, sem perspectiva alguma nos livrar daquela situação.