capítulo 5 - Cherry

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- Cherry - uma voz falava enquanto suas mãos balançavam-me violentamente - Vamos perder o primeiro tempo, faltam apenas 10 minutos para os portões fecharem - e com isso um um clarão preencheu o recinto, abri meus olhos ainda me sentindo aérea sobre a situação.

- O que está acontecendo? - questionei enquanto esfregava meus olhos com as costas das minhas mãos para tentar fazê-los se acostumarem com a recém claridade adquirida.

Poderia ser considerado uma loucura o fato de Eliza fazer questão em dispertar-me toda manhã.

- Esqueceu que o dever nos chama? - Eliza surrou no meu lóbulo, enquanto ainda sacudia meu corpo pre desacordado.

Balbuciei algo inaudível e me levantei do colchão macio onde eu descansava, peguei uma blusa branca que estava jogada em algum canto do meu quarto, provavelmente estava suja, e isso não me impediria de usa-la, botei uma jaqueta de couro por cima para manter meus braços aquecidos, fitei-me no espelho e meus cabelos haviam criado vida própria, com a preguiça e o atraso apenas o amarrei no alto.

- Por que essa carinha triste? - perguntou enquanto deciamos as escadas.

- Você me acordou - sussurrei e ela deu um meio sorriso.

- Aonde vocês vão? - a voz de Amber se fez presente inundando o ambiente.

- Diferente de você que não sabe resolver nem seus próprios draminhas adolescentes, eu tenho coisas a fazer. - falei batendo a porta com o máximo de força possível e ouvindo os resmungos da minha mãe.

Durante os meus vícios enxergava as coisas com clareza fazendo-me uma pessoa pior, talvez esses eram os motivos, outros que foram os deslizes que cometeram na minha criação, mas eu realmente não sei o que me tornou assim, talvez a amargura da vida, talvez o fato de eu ter tido que amadurecer quando a maioria das crianças se preocupavam em qual vestido usariam no dia seguinte. Meus vícios não iriam aperfeiçoar a realidade, meus vícios não fariam a sociedade mais plausível, meus vícios não fariam de você alguém melhor, eles apenas me ajudavam a enxergar o que sóbria eu nunca veria.

- Pensei que fosse boa em memorizar - falei enquanto a observava ir para o caminho oposto - Aonde vai?

- Para o nosso lugar - ela deu um sorriso singelo - Merecemos uma pequena folga - assenti com um balançar de cabeça.

Eu diria que nosso lugar é especial, era um parque de diversões fechado a anos, ninguém se atrevia a vir aqui, exceto por eu e Eliza, esse lugar faz parte da minha história. O céu estava como um pérola suja perdida na imensidão do mar, os brinquedos enferrujados e com camadas sutis de gelo cobrindo a superfície, a grama atingindo a altura dos calcanhares, o silêncio ensurdecedor. Tudo fazia com que o lugar fosse cinematograficamente inesquecível, talvez ate mais inesquecível que assistir a uma aurora austral no Ushuaia, as 5:20 da manhã.

- Acho que não estamos sozinhas - Eliza apontou com a cebeça na direção da entrada que estava sendo preenchida por dois corpos de origem desconhecida até então.

- Posso ajudar? - forcei meu tom de voz para que me escutassem de onde estavam.

- Acho que ultrapassamos os nossos limites enquanto seguimos a trilha - um deles comentou com um pequeno sorriso quando se aproximou.

- São novos aqui? - Eliza se pronunciou.

- Sim, morávamos na Virginia.

- E o que fazem nesse pequeno marco histórico? - perguntei sentando-me em um pedaço de brinquedo.

- Queríamos conhecer a redondeza de onde vamos permanecer por um bom tempo - ele bufou não satisfeito - Sou Gabe, esse é meu irmão Mike.

- Eliza e Cherry - Eliza fez os cumprimentos.

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