Capítulo Dez.

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Não importa quantas vezes você se sinta uma merda, você nunca se acostuma a sensação física de estar uma merda. É sempre ruim.
Quando você é sempre triste; um dia a tristeza será como um colchão duro ao qual você se acostumou, e você não vai se sentir tão mal por estar triste porque é uma coisa sua que já te acompanha à muito tempo. Eu já não me importo com o sentimento triste no meu peito, eu sou mesmo uma merda.
Mas o nosso corpo não é tão volátil quanto nossa mente, ele pode se acostumar com certa quantidade de dor ou esforço, mas ele sempre vai ter um limite. A dor sempre irá ser sentida, não importa o quanto você passe por ela; a dor sempre está lá quando ultrapassamos os limites do corpo.
Olhei para minha camisola agora rasgada e manchada com sangue. Eu sabia que isso acontecia muito em Cane Hill mas havia conseguido chegar até os dias de hoje sem que me tocassem de um jeito sexual e indesejado. A dor no meu ventre me lembrava do óbvio estupro cometido pelos enfermeiros. Ainda sentia o toque grosseiro na minha pele.
Quatro. Quatro enfermeiros me tomaram num banheiro antes de me deixarem na ala hospitalar a qual deviam me levar imediatamente.
Minha cabeça doía pelo despertar em meio a pesadelos. Pouco me lembrava do caminho até a ala hospitalar; eles me sedaram quando terminaram.
Pisquei os olhos para a luz que incomodava e fazia a dor na cabeça maior. O choro não veio e eu me encolhi contra o lençol embaixo de mim. Imagino que minha mente já tenha se acostumado a dor do estupro. Me sentia incomodada por Wilson não estar com os quatro, nenhum estupro acontecia com o enfermeiro chefe por perto.
Ouvi passos adentrarem a ala e franzi o cenho ao perceber que era o Dr.Barry.
"Cass." A voz saiu carregada de preocupação e eu fechei os olhos. Não podia suportar mais nada vindo dele, oque quer que seja.
"Oque houve?" A pergunta foi mais para si mesmo e ele tocou minha camisola, abri os olhos e o vi examinando o sangue vivo no tecido.
"Foi." A palavra curta que soltei com a voz rouca foi suficiente para que ele compreendesse oque acontecerá comigo. Ele é o único ciente de todas as vezes em que alguém me tocará.
O arrepio desceu ao perceber que Barry não sabe do beijo forçado que Niall me dera.
"Quem?" Barry me puxou para os seus braços e eu me afastei. Não preciso de abraços.
"Quem?" Ele repetiu e eu fechei os olhos outra vez.
"Enfermeiros." Sussurrei antes de continuar. "C-culpa sua."
"É, foi minha culpa. Mas você sabe que eu vou resolver, é por isso que você sabe que deve me contar." A voz dele saiu calma e eu me deixei ser abraçada. Não importa quantas vezes ele traia a minha confiança, vou sempre ter essa conexão macabra e fria com o Dr.Barry.
"Ele está aqui." Sussurrei com medo. O corpo que me envolvia enrijeceu e ele me afastou rapidamente.
"Quando você vai entender que ele está morto, Cassandra?"

MAD - n.hOnde histórias criam vida. Descubra agora