EPÍLOGO

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  Depois do velório de Lorena, lembro que tudo o que eu mais queria, era poder parar de pensar tanto nela, o que era impossível para mim. Ficar em nossa casa me sufocava e parecia que todo aquele silêncio e solidão estavam me matando pouco a pouco. Um mês depois, quando voltei a cantar, percebi que havia feito a coisa certa. Minha vida ainda era um vazio imenso, mas o carinho e o amor que meus fãs me davam me faziam sentir um pouco mais confortável. Mesmo depois de tanto tempo afastado, eles ainda estavam lá, torcendo e cantando comigo.
A vida estava voltando ao seu curso normal aos poucos. Bruna e Henrique haviam marcado a data do casamento para o fim do ano, meus pais e os avós de Lorena estavam bem, Susi também estava tentando seguir com a vida, ela havia voltado a trabalhar, como empresária de outras novas atrizes e ela estava muito feliz com essa nova fase, Manuela havia começado a namorar com um produtor musical que ela havia conhecido em minha casa e também estava muito bem. Quanto a minha filha, ela estava bem. Depois de passar três meses na incubadora, Nicole finalmente pôde voltar para casa. Ela ficou na casa dos meus pais, mas todos os dias, Ester, Olavo e Susi estavam por lá para visitá-la, além de claro, Manuela, que eu havia escolhido para ser sua madrinha.
Não quero que pensem que eu não amava minha filha, porque isso não seria verdade. Depois que ela voltou para casa, eu simplesmente aumentei minha agenda de shows, tudo para que eu pudesse ficar o mais longe possível de casa. Repito, não que eu não amasse minha filha, porque tudo o que eu fazia, fazia pensando nela, mas, por outro lado, vê-la me trazia recordações da Lorena e, nesses momentos, eu me sentia péssimo. Apesar dos olhinhos verdes e dos cabelos castanhos como o mel, Nicole se parecia muito com a mãe e, a cada dia que passava, eu tinha mais certeza disso. Não que eu não quisesse recordar, porque as vezes, me pegar pensando nos momentos bons que havia passado ao lado de Lorena eram o meu único refúgio, mas também, minha fraqueza, eu simplesmente não estava pronto para olhar para a minha filha e aceitar tudo o que estava acontecendo, apenas não conseguia.
Depois de quase três meses fora de casa, eu retornei. Não havia ido para minha casa. Ao invés disso, fui para a casa dos meus pais, estava com saudades deles, de todos:
-Luan -Minha mãe me recebeu a porta, me abraçando com força- Como vai meu querido? -Ela sussurrou no meu ouvido
-Oie mãe, eu estou bem
-Filho! Que bom te ver aqui! -Meu pai também chegou me abraçando- Sentimos sua falta...
-Eu também senti pai -Depois que entramos, nos sentamos a mesa para jantar. Eles perguntaram sobre minha turnê, sobre os shows, como haviam sido esses últimos meses, mas eu sabia que lá no fundo, eles só queriam saber se eu realmente estava bem:
-Onde está a Bruna? -Perguntei
-Ela saiu com o Henrique, acho que vão passar a noite fora -Minha mãe comentou, a animação estampada em seus olhos
-O quê? -Disse questionador, encarando os dois
-Porque a surpresa Luan? Lorena sempre me contava que você adorava levá-la para passeios assim, sua irmã já é uma mulher, sabe se cuidar -Minha mãe comentou e eu apenas abaixei minha cabeça em silêncio, levou apenas alguns segundos para que ela percebesse o que havia acontecido- Me desculpe filho, eu falei sem pensar -Ela me encarou sem jeito
-Tudo bem mãe, é que eu me sinto estranho quando ouço alguém falar nela, é como se tudo tivesse acontecido a muito tempo e só fazem três meses -Disse melancólico
-Por falar nisso, não quer ver a Nick, ela está tão linda! -Minha mãe me olhava com um grande sorriso
-Na verdade acho que vou dormir, estou um pouco cansado
-Mas filho, são só alguns minutinhos, não a quer pegar no colo um pouco?
-Talvez amanhã mãe, hoje eu estou muito cansado... Aliás, está faltando alguma coisa pra ela? Sabem que se ela precisar de qualquer coisa, vocês devem procurar a mim
-Na verdade, está sim
-O quê? A Arleidy não passou o dinheiro para vocês no último mês?
-Luan, o que está faltando a sua filha, dinheiro nenhum pode comprar e você sabe muito bem o que é! -Minha mãe se levantou magoada da mesa, subindo para seu quarto
-Do que ela está falando? -Encarei meu pai sem entender
-A Nicole só tem três meses Luan, você acha mesmo que ela se importa com o tanto de dinheiro que você manda pra ela? Falta amor, amor de pai, isso, ninguém nunca vai poder dar a ela, só você mesmo -Meu pai também se levantou, pelo seu silêncio, percebi que ele também estava chateado comigo.
Depois de alguns minutos na cozinha refletindo sobre aquilo, subi para o meu quarto, que ainda estava do jeitinho que eu havia deixado quando me casei com Lorena. Peguei uma toalha e fui para o chuveiro. Enquanto a água caia sobre mim, me peguei pensando no que meus pais haviam me dito. Amor de pai. Aquelas palavras martelavam em minha cabeça, mas de alguma forma, eu não conseguia encontrar um sentido para elas. Depois do banho, peguei uma bermuda no guarda-roupas e me deitei em minha cama. Estava sem sono, então resolvi ficar um pouco no twitter, falando com as minhas neguinhas. Elas sabiam que eu estava em casa e, a maioria me mandava mensagens, me perguntando sobre a Nicole e me implorando para que eu postasse uma foto com ela. Por alguma razão aquilo me deixou um pouco desconfortável, enrolei, dizendo que ela estava sempre dormindo, mas que depois tiraria uma foto dela para que minhas negas pudessem vê-la. Já se passavam das 23:30 quando ouvi minha pequena chorar no quarto ao lado. Esperei, pensando que minha mãe fosse aparecer para levar uma mamadeira para ela ou algo assim, mas vários minutos se passaram e minha pequena ainda continuava a chorar. Respirei fundo, e me levantei da minha cama, destranquei a porta e fui até o quarto de visitas que ficava ao lado do meu, onde agora ficava o quartinho da Nick. Quando abri a porta, a encontrei chorando, mexendo com os bracinhos e as perninhas dentro do berço. Sem pensar duas vezes, a peguei com todo o cuidado do mundo e a abracei junto ao meu corpo, como se tivesse jogado água em uma chama, ela foi se acalmando aos poucos. Me sentei em um sofá que havia ali, com ela ainda em meus braços. Seu rostinho ia se suavizando aos poucos, até ela já estar bem calminha e ficar parada me olhando, com aqueles incríveis olhinhos verdes:
-Tá mais calma pequena? -Perguntei para ela com um timbre de voz engraçado e, por alguma razão, ela sorriu rapidamente para mim. Eu nunca a havia segurado antes, nunca havia parado para a observar direito, mas agora, com ela em meus braços, ela havia ficado mais parecida ainda com a Lorena. Uma lágrima insistiu em rolar por meu rosto- Você se parece tanto com ela, sabia? -Balbuciei, minha voz embargada. Enquanto falava, minha pequena apenas me observava- Eu sei que eu estive ausente, mas não pense que eu não te amo, sua mãe e eu esperamos tanto por você -Meus olhos se encheram de lágrimas- Você me faz pensar nela e esse foi um dos motivos de eu ter me afastado de você, eu sei que não é sua culpa, eu só tenho medo de... de não conseguir fazer nada direito sem ela, de não ser o pai que você precisa que eu seja, de não conseguir suprir a falta da sua mãe -Chorava, Nicole, em toda sua inocência, brincava com sua mãozinha, alheia a tudo o que estava dizendo
-Você vai ser um ótimo pai meu filho, eu não tenho dúvidas disso -Minha mãe disse encostada na porta
-A quanto tempo está ai? -Sequei meu rosto com as costas da mão
-Tempo suficiente para saber que ainda não é tarde pra você -Ela olhou para a Nicole em meu colo- Finalmente você a pegou, em? -Me lançou um sorriso
-Ela estava chorando, não podia deixar. Onde a senhora estava que não ouviu?
-Quem disse que eu não ouvi? -Ela se sentou ao meu lado
-Espera, a senhora...
-Eu escutei a Nick chorar Luan, ela acorda todos os dias a essa hora, só queria saber se você se levantaria e viria até aqui ficar com sua filha
-Eu passei tanto tempo ausente... -Me lamentei, olhando para o anjinho em meus braços
-Isso é verdade, mas ela ainda é uma bebê, não é tarde demais para corrigir os erros
-Eu não acho que tenha forças pra continuar mãe
-Claro que tem! Você tem sua filha, tem a mim e a seu pai, sua irmã, a família da Lorena... todos nós estamos aqui para ajudá-lo!
-Eu sinto tanta falta dela -Voltei a chorar- Eu só queria que ela estivesse aqui para me dizer o que fazer, para que me ajudasse a cuidar da nossa filha, eu a amava mãe! -Olhei para ela com os olhos completamente inundados
-Todos nós a amávamos meu filho, mas você está aqui e tem um filhinha que precisa de você
-Eu sei mãe
-Eu trouxe a mamadeira dela, você gostaria de dar a ela?
-Claro -Minha mãe me entregou a mamadeira e me ajudou a arrumar a Nick direitinho em meus braços. Ela mamou tudo e eu fiquei encantado com aquilo. Depois a coloquei no berço e não demorou muito para que ela adormecesse profundamente. Ela era a coisinha mais linda que eu já havia visto em toda a minha vida:

Chuvas de ArrozOnde histórias criam vida. Descubra agora