Capítulo 16 (Lorena)

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-Eu sou sua mãe Lorena -Susi tornou a repetir, após me ver em estado de choque
-Não, isso não é verdade! Nós somoa irmãs! Que brincadeira é essa? -A olhei completamente assustada
-Não é brincadeira nenhuma... Eu sou sua mãe biologica
-O que? -Calmamente ela pegou em meu braço me conduzindo até a cama- Susi, o que está acontecendo?
-Eu estava decidida a não te contar isso nunca, mas eu não suportava mais te ver mal e não poder fazer nada
-Se o que você está dizendo é verdade então, Ester e Olavo...
-São seus avós
-Por que esconderam isso de mim durante tanto tempo? -Me levantei da cama exautada- Eu sempre achei esquisito a nossa grande diferença de idade, mas eu nunca poderia imaginar que a minha irmã é na verdade minha mãe!
-Por favor, tente se acalmar
-Como vou me acalmar com uma coisa dessas!
-Eu sinto muito querida, eu só quis te proteger!
-Me proteger? De que?
-De um escândalo na nossa família! -Susi chorava a todo instante- Quando mais jovem, eu me tornei uma moça rebelde e comecei a sair com um dos sócios do papai, quer dizer, do seu avó. Pouco tempo depois, eu descobri que estava grávida, você era o babê que eu estava esperando Lorena -Ela desabou- Eu não sabia, mas depois descobri que seu pai era casado, quando ele ficou sabendo, ele se mandou do Brasil com a família, nunca mais tive notícias dele.
-E... E o que aconteceu depois?
-Seu avô descobriu e ficou uma fera comigo, não queria uma escândalo na família, mas também não queria abrir mão de você. Por isso nos mudamos para a Espanha e foi lá que eu tive você.
-Pensei que tivesse ido para la pequena
-Nós mentimos, você nasceu em Madri Lorena. Depois disso, a mamãe simulou uma gravidez falsa e apresentamos você a sociedade como filha dos respeitáveis Montillos, como minha irmã.
-Susi, por que esconder algo assim? Isso é serio! Meu Deus, durante toda minha vida eu vivi uma mentira! -Levei as mãos a cabeça irritada
-Entenda, foi pelo bem da nossa família! Eu sempre, sempre te amei filha!
-Não! Você fez isso para o seu bem! Para não ser vista como uma qualquer pela sociedade!
-Por favor, não fale assim
-Isso é demais pra mim. Por favor, sai daqui Susi
-Lorena...
-Sai! -Gritei e ela saiu do quarto chorando. Corri até a porta e a tranquei, deslizando por ela até chegar ao chão. Chorei todas as lágrimas que meu corpo poderia produzir. Durante toda minha vida eu fui enganada! Eles não tinham o direito de ter feito isso comigo. Não tinham! E lá estava eu, sem ninguém para desabafar. Minha melhor amiga estava finalmente ageitando sua vida e tudo que eu menos queria agora era enchê-la com meus problemas, meu namorado tinha um segredo que ninguém podia saber, minha irmã era na verdade minha mãe, meus pais eram meus avós, minha avó, a mulher que eu tanto admirei, era minha bisavó... Céus! Isso alterava toda minha família.
Passei as horas seguintes ali trancada, chorando mesmo sem ter mais lágrimas para derramar. Ouvi uma discussão na sala e minutos depois, meu pai -avô- e minha mãe -avó-, bateram a porta, me implorando para abri-lá, mas tudo que eu fazia, era gritar para que me deixassem em paz.
Tudo se silenciou. Já era tarde da noite e eu ainda permanecia no mesmo estado de mais cedo. Jogada em minha cama, chorando sem parar. Como eu poderia descer e encarar pessoas que antes eu pensava serem algo e agora eram completamente estranhas para mim? Ainda me lamentava, quando ouvi passos virem das escadas:
-Lô? Sou eu -Ao ouvir aquela voz, me levantei correndo e fui até a porta a destrancando
-Manuela! -Pronunciei seu nome, a abraçando com todas as minhas forças
-Já estou sabendo o que aconteceu -Ela sussurrou no meu ouvido
-Eles não deveriam ter mentido pra mim -Murmurei entre lágrimas
-Não, não deveriam. Vem, vamos conversar, você precisa desabafar -Manuela entrou em meu quarto e eu deitei em seu colo, dizendo tudo o que eu estava pensando e sentindo naquele momento, ela apenas me ouvia com atenção:
-Não acredito que você voou do Rio até aqui por causa do meu drama pessoal -Disse enxugando algumas lágrimas
-Imagina! Voar em horários nada convencionais está no manual do melhor amigo -Pela primeira vez naquele dia, alguém havia me feito sorrir. Ainda ríamos, quando alguém bateu a porta:
-Por favor, se forem meus pais ou a Susi não abra -Disse para Manuela, que se levantou para atender. Quando ela a abriu, não acreditei no que meus olhos estavam vendo. Era Luan:
-Luan? -Manuela o encarou surpresa
-Oie, eu gostaria de falar com a Lorena -Manuela virou para poder me olhar e eu fiz sinal para que ela o deixasse entrar:
-Oi -Ele falou dando alguns passos para dentro do quarto, até me ver
-Oi -Respondi encarando minhas mãos
-Vou deixá-los a sós, estarei lá em baixo se precisar -Manuela disse
-Obrigada amiga -Ela se retirou, me deixando com Luan- O que você faz aqui? - O encarei
-Sua mãe me ligou dizendo o que aconteceu
-Qual delas? -Minha pergunta soou em tom de irônia
-Lorena, eu não imagino o que você está passando, mas eu sei que deve ser muito dificil... -E daí que nós tivessemos brigado? Ele havia deixado a família e ido até ali para me ver. Sem pensar duas vezes, me levantei da cama e fui até ele. Entendendo tudo, Luan me envolveu em um abraço bastante acolhedor, enquanto eu chorava desesperadamente em seu peito:
-Por que comigo Luan? -Soluçava
-Ei, estou aqui para ajudá-la -Ele sussurrou, acariciando meus cabelos
-Como você pode me ajudar, se não confia em mim para ajudá-lo? -Murmurei. Ele se afastou um pouco, o bastante para poder me olhar nos olhos
-Sim, eu confio. Confio tanto que agora mesmo irei te contar o meu segredo, claro, se você ainda quiser ouvi-lo -Eu sei que aquilo seria dificil para ele, mas era o nosso amor que estava em jogo.
-Eu quero -Lentamente ele pegou em minha mão e nos sentamos em minha cama
-Espero que depois de tudo que você ouvir, ainda queira ficar comigo, porque eu não quero perde-la -Segurei sua mão, mostrando que estava tudo bem e depois de respirar um pouco, ele começou.


Chuvas de ArrozOnde histórias criam vida. Descubra agora