Prólogo

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St. Jimmy, 1998

Helen Black estava suando frio. Fumaça saía de sua boca a cada respiração. A neve caía fria e sombria, como as lágrimas em seus olhos. Talvez tenha sido um erro, talvez ela não devesse ter deixado que acontecesse. Mas toda a vez que ela olhava para a criança em seus braços, não sentia nenhum remorso. Era sua filha. A filha que não merecia viver como um deles. Isso a dava ainda mais certeza do que estava prestes a fazer. Ninguém procurava Meredith a não ser que realmente precisasse.
Ela correu pelo solo branco, a capa preta voava presa em seus ombros, no ar cortante de inverno. Ela parou em frente a uma pequena casa cinza. A porta se abriu sozinha, como se convidasse-a a entrar. Ela entrou, temerosa.  O marido a esperava ao lado de uma mulher de meia-idade, envolta em um capuz que cobria o rosto.
- Aproxime-se. – disse a mulher.
Helen chegou perto e Meredith estendeu os braços. Seus lábios tremeram quando ela entregou a criança.
- Haverá sequelas? Ela sentirá dor? – perguntou.
- Não se preocupe, Helen. – o marido ofereceu a mão a ela – É a coisa certa a fazer.
- Como ela se chama? – perguntou a mulher encapuzada.
- Jane. – Helen sussurrou com os lábios tremendo.
- Lembre-se... Não há como voltar atrás. A substância branca estará agora no sangue dela. –Meredith olhou para ela, esperando um consentimento - Para sempre.
Helen respirou fundo e assentiu devagar.
Meredith levantou a criança nos braços, derrubando todos os cobertores que a envolviam. Ventos adentraram na casa e pareciam girar tudo ao seu redor. O capuz caiu para trás, revelando cabelos cinzentos e olhos, um negro e outro azul. Seu corpo brilhava, assim como o da criança. Quando ela proferiu o feitiço, sua voz nem parecia humana.

- Luz na escuridão. Sombra prateada, luz dourada. Troque o preto pelo branco, troque as trevas pela luz, troque o negro pelo azul. Troque o feitiço pelo feiticeiro.

Um raio luminoso envolveu a sala, cegando a todos os espectadores. Quando a luz se esvaiu, a mulher entregou a criança aos braços de sua mãe. Os olhos de sua filha não eram mais negros, eram azuis, claros como água. Helen beijou a testa do bebê que veria pela última vez, a filha da qual se afastaria para sempre.
Ela havia feito uma escolha.
Sua filha não era mais das trevas, como ela. Era da luz. E ela agora viveria em Whiteville.
Mas todo feitiço tem um preço. Uma alma, pela outra. E em algum lugar, alguém da luz, nasceu das trevas.

Daylight, 1998

Rose White estava ansiosa. Desde que o marido morrera, ela não tinha certeza se conseguiria cuidar dos filhos. Sua pequena Camille, de apenas um ano, e o bebê que carregava no ventre. E ela o veria hoje.
Camille se sentou na sala de espera do hospital, com a cunhada de Rose, Diane, que cuidava do próprio bebê de apenas alguns meses, Dean.
Rose segurou a mão do irmão, James, que viera de St. Jimmy dar-lhe apoio.
- Não se preocupe, Rose. Vai dar tudo certo.
Assim que nasceu, o bebê foi levado pelo médico para ser pesado, mas quando ele o pegou nos braços, sua expressão assustada, fez James se levantar. Ele foi até perto do médico e arquejou. O bebê não tinha olhos azuis. Eles eram negros, como tinta, se confundindo com as pupilas, sombrios e vazios.
Rose pediu para ver o bebê. James não conseguia acreditar. Como era possível?
O médico colocou o recém-nascido nos braços de Rose. O ar fugiu dos seus pulmões e lágrimas de desceram pelos seus olhos. Ela não sabia o que fazer.
Seu filho era das trevas.
Mas como? Como isso era possível?
Ela o tinha perdido. Ele era um feiticeiro negro e ela não podia ficar com ele. Seu filho, não era seu filho.
Ele não poderia viver com ela e os feiticeiros da luz em Whiteville. Ela teria que se separar dele.
O líder de Whiteville, Frost, levou o menino para Blackville, para ser criado como órfão. Jones, líder dos feiticeiros negros, levou a criança para dentro do castelo.
Ele seria criado por três funcionárias.
- Ele deve ser criado como qualquer outro feiticeiro. Treinará junto com os outros e do mesmo modo.
As criadas assentiram e curvaram-se em respeito.
- O nome dele é Jason. Jason Black.
As criadas o levaram até o quarto do segundo andar e Rose nunca mais o viu.

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