Capítulo 7

35 5 0
                                    




No dia seguinte acordei contrariada, tão mal como se estivesse em uma ressaca. Coloquei o uniforme e desci para o refeitório.
Me sentei ao lado da Mia.
- Bom dia... - disse ela - Você... Está... Horrível.
Dei um sorriso sarcástico.
- Jura?

- Na aula de hoje, aprenderemos sobre os poderes individuais, que foram julgados nos seus testes e começarão a ser treinados na próxima semana. - disse o professor Harold - Acredito que nessa turma não tenha ninguém com nota maior que sete, os poderes mais raros. Uma nota dez é tão rara que apenas um feiticeiro no mundo inteiro a possui: Frost.
Olhei para a Mia. Se um feiticeiro com a nota dez havia sido localizado como não estava na nossa turma? Será que haviam se enganado?
- Cloudy é uma feiticeira de nota 9. Seu poder é persuasão. Ela é capaz de obrigar qualquer um a fazer o que ela mandar e a pessoa sequer perceberá que está sendo controlada...
Talvez a maneira como ela subiu ao poder não tenha sido tão romântica assim.
- Jamais houve outro feiticeiro com a nota dez e por isso Frost é tão admirado. É o feiticeiro mais poderoso do mundo.

- Mia?
Saímos da aula de história e nos dirigíamos a sala 12.
- Como soube que um dez foi localizado?
Ela mordeu os lábios, levemente nervosa.
- Mia...?
Ela olhou para os lados para se certificar de que ninguém estava ouvindo.
- Eu tenho um... Amigo que... Trabalha na Mansão Branca. - sussurrou ela, corando levemente - Ele tem acesso a informações como essa.
- Você... Mas isso deve ser confidencial! E se eu tivesse espalhado por aí?
- É óbvio que por enquanto ele não está aqui ou talvez tenha sido algum erro e mesmo que conte a alguém, ninguém acreditaria. É tão raro que é quase impossível. Um feiticeiro de família humana, então? Nem pensar.
- Mas... Você acha que é verdade.
Ela me olhou com uma longa pausa.
- Sim. Talvez o estejam escondendo, eu não sei. Mas confio no Michael.
- Michael?
- Eu não devia ter dito... - repreendeu a si mesma - Esqueça, tudo bem? Isso não é da nossa conta, de qualquer jeito.

Na aula de Treino dos Poderes Comuns, Dean continuou a nos ensinar Portais Janela. No final, a maioria dos alunos já conseguia criar uma imagem perfeitamente.
As garotas continuavam a se atirar em cima dele e isso me irritava de uma maneira que eu não conseguia entender. Elas eram patéticas, ridículas, insuportáveis, elas...
- Ella?
Eu pisquei e me deparei com Dean parado na minha frente.
- Você está bem?
- Estou... Ótima.
Eu respirei fundo e me sentei. Ele pegou uma cadeira e se sentou ao meu lado.
- Você foi muito bem, sabe... Com os portais. A maioria demorou até a segunda aula, mas você já conseguiu de primeira.
Eu revirei os olhos. Talvez a maioria não tivesse se esforçado tanto assim.
A aula terminou e depois do almoço teríamos mais treino físico. Segundo o professor Jensen: "Poderes exigem preparação. Então estejam preparados, é bom não fazerem nada idiota na minha aula."
Ele encarnava bem o posto de treinador severo. Ninguém podia faltar aos exercícios porque tínhamos que estar com bom condicionamento para começar a treinar nossos poderes individuais. O resultado era que saímos exaustos e doloridos de todos os treinos.
A semana correu como sempre.
Aula de história - estudamos as pesquisas de Daniel Frost. Poderes comuns - começamos a tentar levantar lápis e canetas com a mente. Treino físico - dor, dor, dor.
Quando o final de semana finalmente chegou eu estava exausta, sem um pingo de energia ou motivação e a única coisa que eu queria fazer era dormir.
Pulei o café da manhã e fiquei na cama até a hora do almoço. Tomei uma ducha para acordar e fui para o refeitório.
Mia estava sentada com algumas garotas.
- Ella! Onde você esteve? Não te encontrei no café da manhã.
- Acho que acabei dormindo demais. Quem são...?
- Ah! Ella, estas são Anna, Caroline e Emily.
Reconheci Emily de cara, a garota de cabelos ruivos bem vivos e cacheados. Anna tinha cabelos castanhos bem curtos estilo joãozinho e Caroline tinha cabelos negros longos e lisos.
Eu me sentei na mesa e pedi um bife com purê de batata.
- Vocês estão todas na sala 12? - perguntei.
Elas assentiram enfaticamente.
- Não poderia ter sido melhor! Samantha está morrendo de inveja, ela ficou na sala 13.
- Ele não é um sonho? - divagou Emily - Ele é simplesmente o cara mais lindo que eu já conheci.
- Sim! Ele é simplesmente...
A conversa sobre o Dean estava começando a me irritar de verdade e eu desejei não ter perguntado nada.
- Shh... Ele está entrando. - disse a Anna.
Eu olhei para a porta do refeitório e ele entrava acompanhado de Melody e Matthew. Desviei os olhos e coloquei uma garfada na boca.

A tarde eu decidi caminhar um pouco. Eu tentei não pensar na minha família e nos meus amigos a semana inteira, mas agora que eu estava sozinha, sem nenhuma outra coisa em que pensar, eu me senti extremamente vazia.
Eu comecei a divagar e me perdi nas lembranças de todo o tempo que passamos juntos. Eles nunca me abandonaram, nem enquanto eu estava no hospital. Eu evitava pensar no acidente, em todo o tempo que perdi em coma. Mas desta vez, eu me lembrei.
Estávamos todos no carro, uma tempestade assolava a estrada e a visão era difícil. Meu pai dirigia com a minha mãe no banco do passageiro e eu no banco de trás. O frio e a neblina faziam os vidros do carro embaçarem. Tirei o cinto para alcançar um pano e limpar o vidro quando senti uma batida forte. Fui arremessada para frente e bati a cabeça.
Meus pais não se feriram graças ao cinto de segurança e o air bag, mas eu não tive tanta sorte.
Abracei a pulseira que meu pai encontrou no hospital. Uma sensação ruim se alastrava dentro de mim.
Essa era a primeira vez em que eu me lembrava tão bem do acidente. Pingos de chuva começaram a cair e eu não tinha certeza se era real ou apenas a minha imaginação.
Eu comecei a andar mais rápido, minha visão cegada por lágrimas. Tropecei e cai de joelhos.
Eu sinto tanto a falta de vocês.
Uma tempestade começou a cair e minhas roupas ficaram encharcadas. Eu continuei no chão, sem forças para levantar.
- Ella...?
Alguém se ajoelhou ao meu lado.
- Ella, você está bem? O que houve?
Eu levantei a cabeça e um Dean totalmente encharcado me encarava.
Ele tirou o casaco e colocou sobre os meus ombros para em seguida me pegar no colo. Ele me levou até um dos dormitórios e digitou a senha. Nós entramos e ele tirou o celular do bolso.
- Matt, preciso que pare essa chuva. Agora.
A chuva diminuiu até os pingos cessaram.
- Obrigado.
Ele desligou o telefone e olhou para mim.
- Você está bem?
- Estou. - encontrei voz para dizer - Você não precisava... Ter me carregado.
Eu tirei o casaco e entreguei a ele.
- Tem certeza que está bem?
- Tenho.
Ele afastou os cabelos molhados do meu rosto.
- Aqui é... O seu dormitório? - disse desviando os olhos.
- É... Espere um segundo.
Ele desapareceu no corredor e voltou com duas toalhas. Ele estendeu uma para mim e se enxugou com a outra.
- O poder do Matthew é controlar o clima?
- É. Matt, é bem útil às vezes. É um sete.
Ele tirou a camisa e um calor subiu para o meu rosto. Eu tentei não encara-lo.
- E você? Qual a sua nota?
- Oito. - disse distraidamente - Melody também. Ela fica invisível.
Ele se sentou ao meu lado no sofá.
- Está mesmo bem? Parece até que está corando. - disse sorrindo, travesso.
Eu o empurrei para o lado.
- Cala a boca. - mas tive que conter o riso.
Ele colocou uma camiseta e uma calça seca.
- Obrigada por vestir todas as peças de roupa necessárias.
Ele riu.
- Algumas pessoas acham que fico melhor sem elas.
- É mesmo? Quem? Cegos?
- Você é realmente encantadora, Ella Young. Não devia me elogiar tanto assim.
- Idiota.
Eu olhei para o lado de fora.
- Eu... Acho que devia ir.
- Ah, claro...
Ele me levou até a porta.
- Ah, Ella... - eu me virei - Vamos ter uma festa hoje à noite depois do jantar. No centro de treinamento. Devia ir.
Eu soltei o ar.
- Certo. Talvez eu vá.
Ele sorriu e parecia querer dizer mais alguma coisa, mas simplesmente se despediu.
- Espero te ver lá.
Eu acenei com a cabeça e andei até o meu dormitório.

The White WizardsOnde histórias criam vida. Descubra agora