Capítulo 8

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- Uma festa? Nós temos que ir!
Eu revirei os olhos pela milésima vez que Mia fazia essa sugestão.
- Feiticeiros gatos mais velhos, comida, música... Como pode querer ficar no quarto?
Eu resmunguei, deitada na cama.
Estávamos no meu dormitório e infelizmente acabei deixando escapar que Dean tinha me convidado para uma tal festa.
- Mas não conhecemos ninguém! Eu... Não sei se ele estava falando sério quando disse que eu podia ir.
- Bom, não vamos desperdiçar essa oportunidade não é mesmo? - ela piscou os olhos enfaticamente.
- Nesse caso, vamos.
Ela suspirou.
- Ella, eu sei que não se sente em casa aqui. Eu sei que sente falta das pessoas lá de fora. - eu encolhi os ombros - Mas você quer mesmo passar o resto da sua vida se lamentando pelo que deixou para trás? Não acha que está na hora de encarar o presente?
Eu mordi o lábio.
Ela estava certa. Eu estava me prendendo às memórias e estava deixando de viver a minha vida. Mas eu não tinha mais volta.
Essa era quem eu deveria ser a partir daquele momento. Uma feiticeira.
- Tudo bem. Mas o que vamos vestir?
Ela soltou um gritinho de animação que me fez ter que segurar o riso.
Reviramos os armários e encontramos vestidos brancos justos com detalhes prateados. Eu não tinha muita certeza da utilidade deles, mas Mia os considerou perfeitos para a ocasião.
A festa estava lotada quando chegamos. Eram todos mais velhos, com a transformação já completa de cabelos brancos e olhos azuis.
Mia andava animada pela festa, comentado cada detalhe. Eu nem estava prestando atenção, a única coisa que eu podia pensar era que não devíamos estar ali.
- Mia...
- E os copos brilham no escuro! Eu nunca tinha visto...
- Mia...
- E aquele do canto... Ele é lindo! Será que eu tenho coragem de falar com ele?
- Ella!
Eu fechei os olhos e suspirei.
Mas quando abri novamente, ele continuava ali, inacreditavelmente bonito.
- Oi Dean.
- Eu pensei que você não fosse aparecer. - ele olhou para Mia - E essa é...?
- Mia. - ela respondeu prontamente - Sou amiga da Ella.
- É um prazer. - ele sorriu gentilmente.
- Ah, eu não acredito! Quem deixou novatas entrarem?
Melody passou o braço pelos ombros do Dean.
- Por favor me diga que não foi ideia sua.
- Pensei que seria legal elas virem a uma festa, conhecer outras pessoas...
- Dean, isso é ridículo. Você devia zoar os calouros não virar melhor amigo deles...
Ela revirou os olhos e desapareceu.
Literalmente desapareceu.
Levei um susto e quase gritei quando ela reapareceu do meu lado, morrendo de rir.
- Adoro fazer isso. Todos os calouros tem a mesma reação. - ela passou os dedos pelo cabelo - Fico invisível, sabe. É um poder realmente divertido.
Matt apareceu logo depois.
- Melody está infernizando a vida de vocês?
- Ah, por favor Matt. Foi Dean quem quis trazê-las para a festa, eu não tenho culpa.
- Convidou mesmo calouras para uma festa de veteranos?
Dean deu de ombros.
- Talvez a gente devesse ir... - disse para a Mia.
- Ei, não se preocupem. Aproveitem a festa. Prometo que ninguém vai incomodar vocês. - Melody ergueu uma sobrancelha - Exceto a Melody. Não posso prometer nada quanto a ela.
- Por que não vamos dançar? - ela resmungou, puxando Dean.
Seguimos para a pista de dança e Matt começou a dançar com a Mia.
Não pude deixar de pensar no que eu estaria fazendo se esse fosse um sábado à noite normal. Provavelmente em casa, lendo ou estudando. Pedindo uma pizza para o jantar e comendo deitada no sofá.
Dean se desvencilhou da Melody e falou no meu ouvido, para que eu conseguisse escutar com a música alta.
- Por que não vamos lá fora um pouco?
Saímos do dormitório e meus ouvidos deram suspiro de alegria.
- Melody esta certa. Você não precisa ser meu amigo.
Ele sorriu.
- Eu quero ser seu amigo.
- Por que?
- Você é a minha caloura. Quero que se sinta feliz aqui.
- Eu só sinto falta da minha antiga vida.
- Desculpe por ser tão insensível com esse negocio de pais. Mas não é da natureza humana viver em família, sabia? É algo criado pela sua sociedade.
- Sinto que não pertenço a sua sociedade.
- Você pertence. Provou isso quando fez o teste. Você vai se acostumar.
Eu suspirei e senti um pingo escorrer pelo meu braço, seguido de mais dezenas caindo do céu.
- Chuva?
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ouvi a voz do Matthew.
- Ei, vocês dois! Voltem para a festa!
Ele parou a chuva e entrou no refeitório.
- Ele sempre faz isso. - disse Dean passando os dedos pelo cabelo molhado.
Eu ri e balancei os cabelos.
- Vamos voltar para a festa?
- Eu... Acho que vou para o meu dormitório.
- Tem certeza?
- Estou meio cansada.
- Eu vou com você.
- Não precisa. Mesmo. - eu sorri - Eu não vou morrer nem nada parecido.
Ele riu.
- Boa noite.
Ele se virou e entrou. Eu respirei fundo e comecei a andar no escuro.
Mas eu não fui para o dormitório.
Andei até a barreira que cercava Whiteville e toquei com a ponta dos dedos. Era como um muro invisível, que eu não conseguia atravessar.
Dean tinha dito que não havia como quebra-la, mas talvez houvesse.
Eu me concentrei o máximo que pude, reuni o máximo de poder que pude na palma da minha mão e joguei uma bola de fogo na barreira.
Nada aconteceu.
Tentei de novo e de novo, até que ouvi um barulho.
- Atividade suspeita na barreira, aqui é a tropa 01, estamos no local.
Eu arregalei os olhos e o pânico me subiu pela garganta. O que eu ia fazer?
Os passos se aproximavam cada vez mais e faixas de lanternas atravessavam as árvores.
Eu preciso me esconder. Eu preciso desaparecer.
A imagem da Melody veio na minha cabeça, como gostaria de ficar invisível. Ficar invisível como ela.
Eu fechei os olhos e me preparei para o pior.
Os guardas pararam de frente para mim e apontaram as lanternas. Eu abri os olhos tremendo, paralisada demais para dizer qualquer coisa.
Um deles clicou no relógio que usava.
- Ninguém na barreira. Deve ter sido alarme falso.
Não mexi um único músculo até que todos tivessem ido embora. Como eles não tinham me visto?
Ergui a mão na altura do rosto, mas não consegui ver nada. Quase gritei de espanto.
Olhei para baixo e não havia nada, era como se minha cabeça estivesse flutuando no ar.
Chutei as folhas no chão e era como se tivessem se mexido sozinhas.
Eu estava invisível.

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