Andei pelo prédio. Passei por alguns apartamentos. Estiquei os braço para sentir a frieza das paredes em minha pele, mas só senti mais dor. Alguém vinha do corredor. Caminhei mais rápido para ver quem seria, eu ainda tinha esperanças que Tobias corresse atrás de mim. Era Christina.
Ela andava solitariamente, inexpressiva. Gostava tanto do sorriso dela. Por que ela não sorria mais? Seu rosto moreno era refletido pelas luzes das lâmpadas no teto. Suas feições eram tão tristes, tão... Tobias. Ela também havia se machucado quando eu morri.
Chris se aproximava cada vez mais de mim. Seus olhos acastanhados eram vazios, sem vida. Eu havia machucado tantas pessoas. Como não havia me dado conta disso?
Ela me transpassou e eu senti. Christina andava em direção ao apartamento de Tobias. O que se passava na mente dela? Senti um ciúmes incontrolável, mas me lembrei que eu havia dito à Tobias que seguisse a vida. Ela poderia dar uma vida para ele. Talvez ela pudesse ser minha solução, por mais que isso me doesse.
Segui Christina até a porta do apartamento. Ela bateu na porta e eu a observei esperar por Tobias. Eu já sabia que ela sempre o buscava para que pudessem ir trabalhar juntos. Sabia também que eles sempre passavam por onde haviam jogado minhas cinzas. Talvez hoje seria diferente. Tobias abriu a porta com uma cara sonolenta e um grito:
- Caleb, por favor... - ele então percebeu que era Christina e ruborizou. Senti pena dele. - Me perdoe Chris, achei que fosse Caleb.
- Percebi. - respondeu ela, sorrindo. Seus olhos voltaram a ter vida. Cheguei ao lado dos dois, formando uma roda. Tobias também parecia ter mais vida.
- Para onde vamos agora? - perguntou Tobias totalmente desnorteado. Ele passou a mão pelo cabelo, envergonhado. Chris sorriu e colocou a mão em seu braço que estava apoiado no batente da porta. Uma pequena onda de ódio passou pelo meu corpo. Eu tinha que assimilar que Tobias não era mais meu.
- Vamos trabalhar. Temos que ficar na sala de controle. Existem muitos arruaceiros as duas da manhã, não? - ela deu um puxão em Tobias. Ele sorriu. - Vamos, dorminhoco.
Chris arrastou Tobias até o térreo do prédio. Tentei fechar a porta que ele havia esquecido aberta, mas não consegui. Decidi por continuar seguindo Tobias, como sempre fazia. Era um bom passatempo. Eu desci até o hall de entrada antes dos dois chegarem a cumprimentar o porteiro.
O lugar tinha um teto alto e era branco, coberto por janelas. A iluminação era deficiente, poucas lâmpadas se localizavam no teto. Como a noite ainda caia sobre o local, era quase impossível ter uma visão clara de quem se aproximasse. Ouvi alguns tropeções e a luz de uma lanterna seguindo. Era o porteiro. Tobias e Chris haviam chegado ao hall e o porteiro iluminava seu caminho.
Deixe ele trabalhar em paz, pensei. Decidi deixar que eles se fossem e subi até o ultimo andar para ver Caleb. Ele também sofria, até bem mais que Tobias. Caleb trabalhava de tarde. Desde que fui embora ele só fazia trabalhos altruístas, dizia que era em minha memória. Tobias preferia trabalhos noturnos e tecnológicos. Ele odiava trabalhar com pessoas.
Entrei no apartamento de Caleb. Todos os apartamentos eram iguais, uma cozinha, um quarto e um banheiro. Caleb estava deitado e dormia profundamente. Sentei ao lado de sua cama. Ele se debateu. Decidi ver o que Caleb estava sonhando, talvez pudesse ajudá-lo.
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Autores: Letícia Alves / Ana Lopes (Sagnatica)
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