Entrei no mundo de sonhos de Caleb e uma névoa branca se interpôs sobre uma imagem. Senti medo, agonia, queria ajudar Caleb . Então a imensidão branca se esvaiu e o sonho veio à tona.
Estávamos em algum tipo de estufa, era quente. Havia uma luz que fazia uma grande roda em volta de nós. Não conseguia saber de onde ela vinha. Observei duas imagens perto de mim. Olhei para o lado, Caleb se encontrava a minha direita. Um homem, David, estava sentado serenamente em sua cadeira com uma arma em punho.
Caleb sentia medo, suava, gemia de desespero. Quis desesperadamente que David abaixasse a arma. Caleb parecia estar em choque. Ele não teria coragem de atirar em mim novamente.
David nunca havia aparecido nos sonhos de Caleb. Aliás, ele nunca havia aparecido nos sonhos de ninguém. Algo sempre bloqueava sua intromissão nos sonhos. Eu sabia que ele havia morrido a exatamente um mês, mas ele não tinha assuntos a resolver por aqui. Ou talvez tivesse?
- Por que você acha que eu não teria coragem de atirar em você, mocinha? - perguntou David. Caleb olhou para mim. Eu entendi sua intenção. Deixei que ele fizesse o que tivesse que ser feito para acalmá-lo, mesmo que fosse somente por um sonho.
David apertou o gatilho. Caleb, num movimento rápido, se interpôs entre nós. Vi o sangue sair de Caleb e seu corpo bater contra o chão. O baque me fez vasculhar as lembranças de minha morte. Havia sido praticamente igual. Eu tentei salvar o mundo, e Caleb tentou me salvar. Motivos igualmente nobres com grandiosidades diferentes.Eu não aguentei isso, ele passou pela mesma dor que eu. Sempre me perguntei o motivo de todos se sentirem culpados por mim.
Caleb ainda convulsionava no chão. Contei os buracos em seu corpo. Dois tiros. Levantei a cabeça e vi David me olhar com um rosto frígido. Ele se levantou da cadeira e andou até mim. Estaquei no chão. Caleb já havia morrido, qual o sentido do sonho continuar? Normalmente seria exatamente aqui que a névoa branca apareceria.
David mancava um pouco. Esperei minutos intermináveis até que ele se aproximasse de mim. David chegou exatamente a um metro de mim. Suas narinas dilatavam e seu sorriso ia de orelha a orelha.
- O que está fazendo aqui? - perguntei, confusa.
- Eu voltei. - seu sorriso não cabia no rosto.
A névoa branca começou a aparecer e eu gritava para que ele me explicasse o que estava acontecendo. A névoa era imbatível. Em menos de dois segundos eu já estava sentada outra vez ao lado de Caleb. Ele continuava a dormir tranquilamente. O sonho havia sido bom para ele. Algo me cutucou no ombro. Virei bruscamente para trás. Era David.
Me levantei de um salto e ele sorria com os olhos. Rosnei para ele. David estava em pé, sem a cadeira. Espíritos não levam suas deficiências quando morrem, todas as deficiências são penitências terrestres. Espíritos.
- O que faz aqui? - questionei-o. Seu sorriso se esvaiu.
- Vim resolver algumas pendências.
- Resolva o que tiver que resolver e me deixe em paz. - adverti-o e cerrei os punhos.
- Esse é o problema. - disse ele. Parecia uma cobra prestes a dar o bote. - Eles podem ter apagado minha mente, mas não apagaram meus pecados. Principalmente os meus pecados contra e você e seu namoradinho. Ou seja - ele então levantou os braços e disse: -, minha pendência é você! Tenho que te ajudar a cumprir sua missão. Seja ela qual for.
Não! Ele não! Por que isso estava acontecendo comigo? O que eu havia feito de tão errado para ter que aturar o meu assassino como ajudante? Eu também não sabia qual era minha missão, todos os espíritos são obrigados a descobrir sozinhos as suas missões. Como David sabia exatamente qual era a sua?
- Então - começou David. -, qual é a nossa missão? Vi o seu namoradinho por aí, é algo relacionado com ele?
Percebi que seria uma longa e frustrante parceria.
----------------------------------------------
Gostou do Capítulo? Que tal nos dar um votinho e nos dizer o que achou aí nos comentários?
Obrigada por ler!
Autores: Letícia Alves/ Ana Lopes (Sagnatica)
<3