David pegou em minha mão de forma relutante. A névoa apareceu. Tudo não fazia mais sentido, meus olhos eram cobertos pelo branco e pela sensação de teletransporte para uma outra dimensão.
Tudo se dissipou com o tempo e pude ver as imagens a minha frente. Um quarto escuro e um ponto de luz ao centro. Um homem corpulento se encontrava ao meio da luz. Tombei a cabeça para o lado e me aproximei do homem. Ouvi as rodas da cadeira de David se arrastando atrás de mim. Por que em todos os sonhos David se encontrava na cadeira?
Percebi que o homem ao centro era Tobias. Ele parecia confuso, procurava alguma coisa. Ele procurava a mim.
- Tobias? - chamei-o. Ele me olhou e veio correndo para mim.
Eu corri para Tobias também. O vento batia em meus cabelos, fazia com que se avoassem de uma forma linda. Meus cabelos estavam compridos até a cintura como antes de fugirmos de Chicago, antes de descobrirmos David, antes da minha morte.
Algo prendeu Tobias, algo invisível. Correntes o algemaram, correntes as quais eu não conseguia enxergar. Olhei para David. Seu semblante era vitorioso, estava gostando do estado de Tobias. Observei Quatro se contorcer no chão tentando se livrar das algemas.
"Pare com isso!", gritei mentalmente para David.
"Sério? Acho que não. Estou gostando disso.", um sorriso se formou no rosto de David.
"Desate-o! Faça o que eu mando. Você é o MEU ajudante e não o contrário"
Corri para Tobias e tentei desatar as cordas invisíveis. Olhei para David e dessa vez preferi falar:
- Solte-o! Agora! - ordenei.
David, quase que mecanicamente, olhou para cima e fez o que eu havia acabado de dizer. Tobias começou a se desatar calmamente e se levantou aos poucos. Seus olhos fulminavam e se viraram para David. Tobias correu até David e o jogou no chão. David não fez absolutamente nada, não podia mexer as pernas, isso era estranho. Não fiz absolutamente nada, David poderia interferir no que quisesse.
Tobias avançava sobre David e o mesmo não fazia nada, só apanhava quieto. Tive medo de David estar guardando o pior para o final. Corri e agarrei Tobias pelas costas. Nós rolamos pelo chão e ele parou por cima de mim. Eu arfava e ele também.
Nos levantamos e tiramos a terra de nossas roupas. Terra? Mas estávamos em um quarto escuro, como poderia haver terra por aqui? Olhei em volta buscando explicações. Dei um passo para e esquerda e não senti o chão. Tobias me segurou a tempo para que meu corpo não se esborrachasse naquela cratera.
Cratera. Bom nome para a rachadura que se estendia por muitos quilômetros a minha frente. Atrás de nós havia uma floresta densa e escura. David havia projetado esse cenário.
- Temos que sair daqui. - disse Tobias.
Por um momento não entendi qual o sentido de toda a situação. Não tínhamos saída e nem David por perto. Se ele havia projetado esse ligar, por que não estava nele?
- Tobias - digo. Ele olha para mim. -, preciso te dizer uma coisa.
- Oras - disse ele sorrindo -, diga!
- Me esqueça! Por favor eu...
- Não me fale desse assunto, precisamos sair desse lugar - ele posicionou seus braços em minha cintura fina. Estremeci com seu toque.
- Pare! temos que aproveitar o tempo que temos agora. - ele enrijeceu quando disse essas palavras. Seu rosto se entristeceu e seus braços se apertarem ainda mais em meu corpo.
Alguma coisa se moveu em baixo do meu pé. Terra. Um montinho de terra se desgrudou do pico e escorreguei. Tobias me segurou pelas mãos da mesma forma que na roda gigante. Mais terra desbarrancava e Tobias começava a segurar junto comigo.
- C-Christina - esganicei tentando me desvencilhar de Tobias. Ele continuava me segurando e escorregando em direção ao precipício. - Fale com ela.
As mãos de Tobias suavam e eu sentia que iria cair a qualquer momento. E então minhas mãos se soltaram e eu tentei me agarrar no galho mais próximo. Consegui.
Tobias vinha atrás de mim. Decidi fazer o que era certo o mais rápido que podia. Pulei.
Tudo era escuro até a névoa começar a aparecer. Fechei os olhos e escutei Tobias gritar o meu nome.
Em pouco tempo já estava no quarto dele. Olhei para os lados. Tobias se encontrava sentado na cama, chorando.
- Não. - ele repetia para si mesmo. - Por favor.
"David?", perguntei em minha mente.
"Estou atrás de você.", respondeu ele.
Virei para trás e me deparei com David. Ele estava com olheiras e parecia cansado. Eu agarrei em sua camisa e o coloquei contra parede, a qual ele transpassou com facilidade. A única coisa que poderia machucá-lo seria ele próprio. Eu não poderia feri-lo de alguma forma.
- Por que fez aquilo conosco? - inquiri-o enfurecida.
- Não fiz aquilo. - disse ele desesperado.
- Como não?
- Eu não consegui interferir mais. Eu projetei o quarto, mas não projetei o resto. O subcosciente dele foi mais forte do que eu. Aquilo tinha que acontecer. - aquele testemunho parecia sincero.
- Não consegue interferir nos sonhos de Tobias? - perguntei levantando uma sobrancelha.
- Só por um tempo.
Então David não tinha tanto poder quanto eu imaginára. Não podia interferir nos sonhos de Tobias por muito tempo mas podia fazê-lo no dos outros.
Tobias se levantou e foi tomar um copo d'água. Eu me sentei em sua cama ensopada de suor. Não havia problema, eu nunca sentiria o suor.
Eu fechei os olhos, apesar de não poder dormir, e pensei em Chris e Tobias juntos. A ideia não me assustava tanto quanto antes.
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Autores: Leticia Alves/ Ana Lopes (#Sagnatica)