Capítulo II - Um Novo Amigo

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Quando a multidão se dissipou por completo ainda estávamos parados um de frente para o outro. Martin estava com uma expressão serena, parecia esperar por algo. Percebi que não tinha falado nada durante todo o acontecimento e saí do transe em que estava.

— Er... ah, sou Henri, obrigado por me ajudar com aqueles caras... — Eu disse, meio cabisbaixo, ignorando o aperto de mão dele.

— Não foi nada. — Respondeu Martin, um pouco tímido.

Ficamos parados sem saber o que dizer, evitando olhares que tornassem tudo mais constrangedor. Juan apareceu na porta do refeitório e quebrou o silêncio que havia se formado, pedindo gentilmente que saíssemos. E foi o que fizemos.

Assim que saímos da escola, Martin tinha me convencido a ir em uma lanchonete próxima ao colégio. Andamos durante quinze minutos sem falar quase nada, uma ou outra vez o garoto soltava um comentário, e eu apenas concordava balançando a cabeça para cima e para baixo lentamente.

Quando chegamos ao local, vi uma placa gigante — e quando digo gigante, quero dizer exatamente essa palavra —, em que se lia "Muchaco's lanchonete". Nunca tinha comido ali, e muito menos ouvido falar do local. Entramos no ambiente, o espaço era bem desgastado. As paredes eram de um amarelo queimado, e vários adesivos de chapéus mexicanos estavam decorando-as. As mesas eram vermelhas e em cima de cada uma delas tinham alguns enfeites de cactos. Escolhemos uma mesa ao fundo do estabelecimento. Quando finalmente nos sentamos, eu relaxei por completo. Martin observou isso, e quis puxar assunto.

— Eu não sei o que dizer, sou péssimo em puxar assunto... Mas vamos lá, vai querer o que pra comer? — Indagou o garoto, tentando miseravelmente ter algo com que pudéssemos conversar, e até que tinha dado certo.

— Um hambúrguer e uma batata. — Respondi, um pouco seco demais.

— Nossa cara, você parece uma montanha, e eu pareço alguém tentando escalar. Você não precisa ser tão duro — Lançou aquelas palavras como se fossem uma bala, e depois soltou uma gargalhada.

Me surpreendi com a facilidade que ele conseguia mudar de humor. Era intrigante a forma como agia, tão calmo e agradável. A cada vez que ele fazia um movimento simples, eu admirava a naturalidade com que exercia, e isso estava me incomodando de certa forma.

— Não tive a intenção de ser frio. Esses dias tem sido muito desagraveis pra mim, foi mal por parecer indiferente — murmurei, colocando a mão sobre a mesa e brincando com os cactos de mentira.

— Entendo. Sem querer ser intrometido, eu ouvi vários boatos sobre você na escola, dizem que você passou por coisas muito ruins, mas ninguém sabe o quê. — Falou o garoto tranquilo, como se aquilo fosse uma frase parecida com "Bom dia". Ele não parava de me surpreender.

— Tipo o quê? Eu nunca falei nada sobre minha vida para ninguém.— Falei abismado. Rolavam comentário soltos a meu respeito e eu não tinha ideia disso. Por um momento me lembrei vagamente de minha avó ter falado algo, e recordei que ela já tinha sido chamada na escola várias vezes. A surpresa desapareceu lentamente de meu rosto.

Martin ainda esperava eu me pronunciar, com aquela expressão estranhamente serena no rosto. Já estava me tirando do sério.

— Eu não sabia que você ficava fofocando feito uma garotinha. — Desembuchei, rispidamente.

A expressão tranquila dele vacilou durante alguns segundos. Pareceu envergonhado por um tempo, mas logo se pronunciou:

— Não quis ser indiscreto, desculpe. E só pra constar, eu apenas ouvi uma conversa... Não tenho nada a ver com isso — Afirmou.

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