Capítulo I - Recomeço

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Acordei com a luz forte do sol em meu rosto. A janela pela qual o raio de sol insuportável entrava estava quebrada. Me sentei na beirada da cama, minhas pernas fracas tremiam. Olhei em volta do quarto já iluminado e vi algumas malas vazias empilhadas num canto. Então lembrei-me do que ocorrerá, do acidente nas escadas, dos gritos de minha avó e de seu corpo cambaleando nos degraus da escada. Por um momento pensei que pudesse perdê-la ali. Caída aos meus pés ela parecia sem vida, gritei tão alto que os vizinhos puderam ouvir. Enquanto os socorristas a acolhiam, só consegui ficar sentado nas escadas congelado, em choque. Ela passou duas semanas internada.

Tenho pesadelos constantes com a morte, por algum motivo ela gosta de me rondar. Talvez seja Karma das vidas passadas. Tudo está se voltando contra mim nessa vida, e mal pude vivê-la.

Levantei da cama às pressas, estava atrasado para escola pela milionésima vez. Sabia que minha avó estaria me esperando na cozinha, com o café da manhã pronto, e frio.

Corri para o banheiro e tomei uma ducha o mais rápido possível. Vesti uma camisa que achei pelo chão, o cheiro estava agradável, mesmo que não precisasse me preocupar com o aroma, até porque provavelmente ninguém iria me cheirar naquele dia, e nem nos próximos.

Desci as escadas e dei de cara com Elise, ela estava com uma expressão de puro estresse. Mesmo que quase nunca demonstre, dessa vez eu tinha certeza que estava quase para explodir.

— Bom dia, Henri. — Ela disse com uma voz cansada.

— Bom dia... — Respondi indo em direção a mesa do café.

— Já conversamos sobre isso... Não quero ter que falar de novo. Henri, é seu futuro! Você não pode chegar atrasado todos os dias. Seus professores já solicitaram minha presença na escola cinco vezes, só essa semana!

Percebi a decepção em sua voz. Eu sabia que ela já estava cansada de minha falta de interesse naquela escola chata, repleta de pessoas azucrinantes... Caramba! Eu não suportava ter que ir todos os dias pro mesmo lugar, fazer as mesmas coisas. Eu não tinha amigos, não falava com ninguém daquela escola. Eu era o invisível, o estranho, o caladão e por aí vai.

— Desculpa, preciso ir. — Disse.

Peguei uma maçã da mesa e acelerei o passo até a porta, quando saí corri o mais rápido que pude dali. No meio do caminho lembrei que tinha esquecido a bicicleta. Iria chegar mais atrasado que o normal.

- Caralho! – Gritei.

E mais uma semana emocionante começa.

***

Meus pais e avô morreram em um acidente a 11 anos atrás. Eu só tinha sete anos quando passei pelo pior dia da minha vida. Estávamos viajando de carro até o sítio do meu avô, iriamos passar uma semana de folga. Lembro de uma melodia no carro e todos cantarolando, fui uma viagem quase feliz. Eu e Elise fomos os únicos sobreviventes daquele brutal acidente. Fiquei em coma durante 1 ano e 3 em tratamento. Quando finalmente despertei enfrentei uma carga enorme de exames, tomografias, fisioterapias, consultas diárias... 3 anos para conseguir voltar a falar normalmente, comer sozinho, andar e correr livre de amarras.

Com 11 anos eu odiava estar vivo.

Após minha recuperação tive grandes dificuldades de aprendizado, e no colégio não foi diferente, não conseguia me comunicar e acabei sendo excluído por todos aos poucos – Malditas crianças do fundamental! - E por fim, mas não menos importante, obviamente para desestruturar qualquer ser humano tentando ter o minimo de dignidade, com 12 anos adquiri depressão, o que foi um grande salto para o meu colapso. E novamente tive que voltar a fazer tratamento, e com ele vieram mais remédios. Os médicos dizem que os medicamentos para tratar depressão não te deixavam dopado, mas esse não foi o meu caso.

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