Capítulo VI - O curioso caso do garoto que só sabia apanhar

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Acordei com o despertador enfurecido. O tremor na escrivaninha fazia com que minha mente ficasse acordada, mas meu corpo continuava pesado.

Me enrolei entre os lençóis e espreguicei. Levantei lentamente e sentei na beirada da cama. Em meio ao claro-escuro do quarto busquei meus chinelos e um pouco mais rápido me ergui, indo em direção ao banheiro.

Me despi de frente para o espelho. Observei os pequenos detalhes do meu corpo, os sinais quase invisíveis marcados na minha pele branca, as costelas sobressaltas, os bíceps levemente definidos, as pernas também. Ignorei meus pensamentos e passei direto para o chuveiro.

A água fria caiu intensamente sob meu cabelo, levantei a cabeça para que atingisse meu rosto e boca. Saí do banho às pressas. Vesti a primeira roupa que encontrei pela frente e desci as escadas em busca de um lanche rápido.

Elise estava sentada à mesa segurando sua xícara de café e lendo notícias em seu celular.

Que moderno - Pensei.

Cheguei de fininho e beijei sua testa franzida.

- Bom dia - falei.

- Bom dia, meu filho. Dormiu bem? - Perguntou vovó.

- Relativamente bem. - Respondi.

- Acordado tão cedo... Me parece que está com planos pra hoje. - Indagou sigilosamente, tentando tirar algo de mim.

- Planos com uma amiga depois da aula, um trabalho que não terminamos de fazer. Vou chegar depois da seis. Tudo bem? - Disse, levando a mão para pegar uma banana.

- Devia convidá-la para vir aqui. O único amigo seu que conheço não apareceu mais. - Falou e em seguida deu um gole no café.

- Talvez semana que vem. - Rebati e logo fui rumo à saída me despedindo com um aceno distante.

***

As horas passavam devagar como uma lesma. A aula de biologia estava sendo ministrada pelo professor Raphael. Magro, moreno, altura média, óculos de grau e camisa social. Elegante, super gente boa, mas arrogante em certos momentos.Típico professor que é considerado sexy, Laura não me deixa mentir, sempre comentando o quanto gostaria de pegar o professor. A mesma ladainha de toda semana.

O sinal do intervalo de almoço finalmente toca. Os alunos se dissipam e eu os sigo em busca do refeitório. De relance vejo Albert que estava sozinho na fila do almoço. Finjo que não o vi e tento ser o máximo discreto. Desde a festa não havia visto a gangue. Rezo para que continue assim.

Pego minha bandeja e sou servido por um dos responsáveis da cozinha. Sigo e procuro o lugar mais afastado da multidão de alunos esfomeados, me sento em uma mesa redonda com três cadeiras, coloco minha mochila em uma cadeira vazia e pego meus fones, seleciono a primeira música da playlist de favoritos e deixo rolar.

Começo minha refeição e deixo o som me carregar para longe.

***

Por hoje é só. - A professora Maria de inglês dizia, já guardando seus pertences. Todos já estavam indo em direção a saída, 17h43 o relógio marcava.

Joguei meu caderno dentro da mochila e me direcionei até a saída. Puxei o celular do bolso da calça e olhei as notificações. Nada.

Sim, pela primeira vez eu tinha saído de casa com um celular, tudo por causa da irresponsabilidade do Martin.

O céu escurecia aos poucos e o relógio marcava 18h00 em ponto. Eu já estava a dois quarteirões do Banco Vida e não identificava ninguém parecido com Calla me esperando. Como previ, estava sozinho.

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