Segredos da Noite

Encontros desagradáveis

                                                                             ~ Cassidy ~

Acordar cedo para mim já é tão costumeiro que nem mais sinto vontade de quebrar o despertador toda vez que ele avisa-me com seu som estridente que já são seis da manhã. Enquanto a maioria das pessoas da minha idade desfruta de todo o aconchego que uma cama repleta de cobertores felpudos pode proporcionar eu sou uma exceção, sou uma mulher que diz "não" ao sedentarismo por motivos não muito bons. Afinal, quando um alto teor de colesterol se apresenta em proporções inimagináveis é hora de tirar as roupas de ginástica do roupeiro — e estas estavam intactas no fundo de uma gaveta acumulando ácaros, nem lembro a época que as comprei, mas nunca fiz uso destas até ser necessário — e mudar o estilo e vida.

Obviamente sinto falta da bombonier repleta de trufas que mantinha escondida no fundo do armário da cozinha. E por mais que seja triste lembrar-me que não mais poderei desfrutar daqueles deliciosos bombons com licor de cereja vinte e quatro horas por dia é ainda pior recordar que no lugar hoje habita um estoque bem generoso de granola doada pelo meu amador nutricionista particular — também conhecido como "melhor amigo preocupado".

Balanço levemente a cabeça a fim de espantar estes pensamentos deprimentes.

"Você cavou sua própria cova, Cassidy. Agora aguente" Minha consciência condena-me.

Se eu tivesse me cuidado melhor não precisaria cortar de maneira tão radial às guloseimas que antes ficavam aos montes em minha geladeira e também não seria necessário acordar todo dia, às seis da manhã, para correr.

Como estamos no verão às poucas pessoas ao meu redor não vestem cachecóis ou casacos de lã, mas é cedo ainda, então nenhuma delas dispensou um leve casaquinho ou uma blusa com as mangas cumpridas, porem todos serão obrigados a desfazer-se destas vestes mais tarde quando o calor der as caras — ou não já que em Junho o verão não é tão insuportavelmente quente — Eu sobrevivo com minha calça legging preta e minha regata de tecido leve azul-piscina.

Por conta do suor não sinto a dor que o vendo gélido da alvorada pode proporcionar, mas sei que a tremedeira tomará conta de meu corpo quando esta corrida terminar. Ao começar a sentir uma dor latejante em meus pés percebo que já me exercitei o bastante — ou que talvez esteja na hora de comprar um tênis novo — Olho para o relógio dourado que está em meu pulso e constato que já corri o que devia, agora era necessário voltar para casa e agraciar-me com um bom café e um delicioso banho quente para depois seguir a casa de Sebastian e irmos para a faculdade.

Retirei a fina jaqueta que pendia sobre minha cintura, ela não aquecia muito, mas era melhor do que nada.

Já estava a postos para voltar ao meu apartamento, porem uma forte sede impedi-me de concretizar este ato, olho ao meu redor a fim de encontrar um vendedor de água. Felizmente localizo um senhor de idade que acabara de abrir sua pequena barraquinha, sigo até onde ele estava.

— Uma garrafa d'água sem gás, por favor — peso gentilmente e tentando normalizar a situação.

— Desculpa, moça. Mas só tenho com gás — ele informa e eu murcho.

— Ok, desculpa o incomodo — falo já dando as costas.

Por mais que eu sentisse a necessidade de algo para refrescar-me não pagaria por algo que detestava, todas às vezes que botara uma água com gás na boca fora desastroso.

Cruzo os braços a fim de neutralizar mais o frio que a pequena corrente de ar proporcionava, porem isto dar certo não passou de uma ilusão, mas não me importando — e também estava com preguiça de soltar os braços — permaneço naquela posição até chegar ao meu destino.