Epílogo

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A pergunta perseguiu Dulce durante o resto daquela noite. Christopher não veio para sua cama. Pela primeira vez em seis noites, não esteve a seu lado, tentando-a, excitando-a com seu corpo e sua luxúria. Permaneceu em meio da grande cama, observando silenciosamente o teto, sentindo como se a solidão do quarto a sufocasse. Que Deus a ajudasse, se não podia passar uma só noite sem ele, como poderia fazê-lo durante o resto de sua vida?

O que tinha feito? Seu desejo de experimentar com ele quão mesmo suas outras mulheres tinha provocado sua queda? Seu ciúmes e sua luxúria tinham arruinado a única possibilidade que teve de fazer com que a amasse? Suspirou tentando aliviar o nó de medo que se formou na garganta. Sendo realista, sabia que as possibilidades de capturar seu coração eram minúsculas. Simplesmente não tinha esperado que terminasse assim em tão pouco tempo.

Ao compreender que não poderia dormir, Dulce se levantou, fitando a túnica de seda cor bronze colocada aos pés da cama e vestiu-a, atando-a fortemente. Colocou os pés em umas suaves sapatilhas que faziam jogo e abandonou o quarto. Preferia sentar-se na cozinha afogando as mágoas no sorvete de hortelã e chocolate que seu pai sempre tinha à mão.

Quando entrou no corredor, observou a brilhante luz que se derramava da cozinha. Parou surpreendida na porta. Vestida com uma grossa bata, com seu loiro cabelo atrativamente desordenado e sua surpreendentemente preciosa cara sem maquiagem, estava sentada Missy, comendo uma tigela, sorvete de hortelã condimentado com chocolate, e a tentadora caixa diante dela.

- As grandes mentes pensam o mesmo? - Missy lhe dirigiu um sorriso ao levantar a vista, agitando a colher que tinha na mão, assinalou-lhe o armário. - Pegue uma tigela.

Dulce se aproximou do armário e fez justamente isso, sentando-se depois ao outro lado da mesa oval e pegando uma grande porção.

- Nada relaxa os nervos como Hortelã com Chocolate -suspirou Missy. - E adivinho que hoje as taxas são definitivamente altas.

- Sinto-o - se desculpou Dulce, sinceramente arrependida de lhe haver podido causar alguma dor a sua madrasta. - Não esperava que minha mãe aparecesse.

Missy se deteve, com a colher suspensa por cima da tigela lhe dirigindo um carrancudo olhar.

- Dulce, não estou nervosa por mim - disse sinceramente. - Estou nervosa por Christopher e por você. Suas escolhas privadas não deveriam ser arejadas dessa maneira. Christopher estava furioso, certamente, lhe fez mal. Mas eu estava zangada pelo que afetava a ti.

- Por que? - Dulce franziu o cenho. - Nunca tivemos uma relação muito íntima. Apenas nos damos bem.

Um sorriso conhecedor se desenhou nos pálidos lábios do Missy.

- Dulce, luta com alguém quando se sente ameaçada, e quando se preocupa por alguém sem ter uma rede de segurança que te proteja, um seguro que indique que é igualmente querida. Sei. Estava acostumado a fazer o mesmo, até que encontrei Fernando.

Dulce deixou cair os ombros. A observação de Missy estava muito perto da verdade.

- Assim como eu soube que estava apaixonada por Christopher - Missy deixou cair seu seguinte pensamento. - No princípio foram tiros encobertos, mas quando te provocou, paquerou e te pressionou, colocou-te totalmente a seu lado na luta. Então foi quando soube que seu coração estava envolto.

Dulce quase se afogou com a colherada de sorvete que tentava tragar. Como podia Missy, sobretudo, a parva da Missy, que depois de tudo não era tão tola, conhecê-la melhor do que se conhecia ela mesma?

- Perdi ele? - Dulce não pôde ocultar seu desejo e o medo que refletiu sua voz quando olhou à outra mulher.

- Perder Christopher? - Missy riu com surpreendente diversão. - Dulce, Christopher esteve lutando por sua atenção durante mais de dois anos. Não sei o que acontecerá no futuro. Mas sinceramente, duvido que tenha que preocupar-se com nada por agora.

Rendição - Adaptada VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora