Meu primeiro e estranho amor

8- Desentendimentos

"Ela não é igual a mim, mas é isso que eu amo nela"

Estávamos namorando a quase dois meses e isso não era novidade para ninguém daquele curso.
Mas com o tempo eu e Talita começamos a nos desentender.
Um dia cheguei no curso cansada da escola e fui diretamente a minha namorada. Ela me cumprimentou secamente, perguntei:
- Amor ta tudo bem com você?
- Ta.
- Você ta meio estranha, fiz alguma coisa?
- Não fez nada !
Fiquei meio chateada pelas atitudes dela mas... Fazer o que né?
Ficamos o dia todo assim, secas. Até que na hora da saída conversamos um pouco e fomos para a casa juntas.
Bom, nós sempre falávamos "eu te amo" quando nos despedíamos mas naquele dia foi como uma flecha cravada em meu peito:
-Tchau amor, eu te amo
Disse abraçando a minha amada.
-Tchau...
Eu fiquei sei lá, meio desacorçoada, cheguei em casa cabisbaixa, minha mãe como sempre reparou e disse:
- O que foi menina? Brigou com alguém?
- Não mãe.
Fui tomar banho e pensei na situação, eu sabia o por que ela estava assim, Talita queria que eu contasse para os meus pais que eu gostava de meninas mas... Eu não queria porque isso iria destruir tudo!
Minha família sempre foi muito, mas muito religiosa e preconceituosa com homossexuais, são do tipo "É gay? Que seja longe da minha família, porque aqui dentro NÃO".
E eu sei é claro que tinha que enfrentar meus pais uma hora mas CARA EU TENHO 14 ANOS AINDA, e como sempre fui recorrer a minha linda e amada terapeuta para saber como eu sairia dessa sem perder quem eu amo. Infelizmente... Ela me jogou a real:
- Olha Ana, você tem 14 anos, você está na flor da idade ainda, nem sabe se é isso mesmo que você quer, converse com ela e explique a sua situação, se ela não entender, você tem que rever os seus conceitos.
Ta, o que eu faço?
Não iria para o curso naquele dia mesmo então, aproveitei a tarde para pensar e escrever algo para Talita.
Que sinuca que eu estou ein? Por um lado a boa convivência com a minha família, por outro a mulher que eu amo, o que eu faço?
Tentei conversar com ela por whatsapp e era nítido que ela tinha ficado chateada por essa minha decisão de não me assumir naquele momento da minha vida, mas eu apenas estava tentando proteger o nosso amor, o nosso relacionamento que era a coisa mais importante para mim. Mas ela não enxergava isso...
Tanto não enxergava que nós discutimos.
Neste mesmo dia em que passei a tarde pensando e escrevendo um texto para Talita, foi o dia em que o meu mundo veio a baixo.
Sim, escrevi o texto mais fofo existente para NADA.
Ela dizia que eu estava sufocando ela e que ela não tinha mudado a maneira com que estava me tratando. MAS ELA TINHA MUDADO SIM, onde já se viu uma pessoa que demonstrava um carinho daquela forma mudar da água pro vinho?
Fiquei mal ao ler isso, perguntei o que eu poderia fazer para melhorar e mudar alguns pontos por nós. Ela falou "você não pode fazer nada, é melhor a gente dar um tempo"
OI?
Vi o meu mundo desabar neste momento, senti uma gota de lágrima escorrer em meu rosto e com ela muitas outras que fizeram eu ficar sem chão, sem saber o que fazer!!! Dois meses que mais pareciam uma eternidade sendo jogados assim ao vento??
Eu pedi para que ela não fizesse isso comigo porque eu não iria suportar perdê-la, ela não quis ouvir.
Então eu fiz uma burrada, pedi para que ela me desse um tempo, não ia conseguir digerir aquilo tudo de um dia para o outro e sorrir para ela como se nada tivesse acontecido... Ela concordou.
Passado essa conversa eu chorei horrores, ainda mais porque no dia seguinte dessa discussão nós completaríamos dois meses juntas e eu tinha pedido para um colega fazer um desenho de nós duas para entregar a ela.
Quando fui para a escola não conseguia esconder dos meus colegas, quando minha amiga perguntou sobre a Talita eu não consegui me conter, comecei a chorar desesperadamente como se eu tivesse perdido uma parte de mim.
Meu colega veio, perguntou porque eu estava chorando, eu limpei rapidamente as lágrimas e disse que não era nada, ele me entregou o desenho, me recusei a ver para não chorar na frente dele.
Eu sabia que a tarde seria longa.
Quando cheguei ao meu curso ela já estava lá, fui cumprimenta-la, a abracei e me contive para não chorar. Não foi um abraço breve, foi um abraço longo de saudade e ressentimentos.
Ela me perguntou
-Tudo bem?
-Tudo...
Eu menti, eu não estava bem, tinha acabado de ver o meu coração ser despedaçado pelo meu primeiro amor da forma mais estranha possível que eu nunca entendi.
Quando ela virou as costas para mim, abri a mochila dela devagar, coloquei o desenho dentro e sussurrei no ouvido de Talita "feliz nosso dia".
Me afastei e entrei para dentro da instituição.
(...)

MEU DEUS QUANTO TEMPO PESSOINHAS, para quem ainda usa o app olá, para quem não usa mais vai continuar curioso. Na época eu estava tentando me recuperar porque essa história tem partes verídicas, ou seja, mexia comigo, atualmente estou nos meus dias de glória então COMENTA AE QUEM QUER CONTINUAÇÃO