Um homem me entrega uma espada em meus sonhos

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Só tinha 5 anos, mas eu me irritava com mais facilidade que tudo. O tempo passou tão rápido, que eu mal pude ver como foi. Só sei de duas coisas: eu estava sentindo algo forte por Alyce a cada dia e, todo o mundo mágico me odiava. Conforme fui crescendo e aprendendo, todos começaram a me evitar mais e mais, falando de mim por todos os cantos. Sempre com piadinhas e indiretas. Realmente estava cheio daquilo, mas eu não tinha pra onde ir.

Estava deitado em minha cama, olhando o teto do quarto enquanto passavam infinitos pensamentos sobre os últimos acontecimentos. Não queria sair. Era véspera de solstício de inverno. Não gostava dele, nem gostava do acampamento. Batidas na porta me arrancaram de meus pensamentos. Estava vestindo meu pijama azul de coalas pequenos e uma touca preta. Meu cabelo estava grande, passando de meus olhos. Levantei-me devagar, colocando os pés em minhas pantufas de elefante e fui andando até a porta. A abri e, me deparei com Alyce sorrindo. Ela vestia o que utilizava de costume: Calças jeans, camiseta do acampamento com umas modificações feitas por ela e uma jaqueta cinza.

-O que foi? - Perguntei, coçando os olhos.

-Quanto mau humor, bochechudo. É véspera de solstício, e, Quíron me pediu pra te tirar daqui. - Disse ela.

-Quíron, Quíron, sempre o Quíron. Eu não gosto do solstício. Nem gosto do acampamento. Eu não vou sair do meu quarto. - Disse irritado, fechando a porta.

-Mas... Isso, muito obrigado. Quíron pediu pra te chamar porque a sua ideia do torneio de lutas foi aprovado, e vai começar agora. - Disse Alyce.

Uma pontada de eletriciade atravessou aquela porta e atingiu meu peito mais rápido que qualquer raio lançado por Zeus. Em questão de segundos, tirei meu pijama e coloquei minhas calças jeans com a camiseta do acampamento e minha jaqueta preta. Olhei pro criado mudo e tinha um bracelete ali. Nunca tinha visto aquele bracelete antes. Mas, algo nele me fazia lembrar alguém importante. Ele era preto com uma pedra branca e escrituras em grego, dizendo: "σεληνιακό προστασία". Peguei o bracele e, coloquei ele em meu pulso esquerdo. Abri a porta e um cajado me acertou na testa.

-Ainda bem que levantou. Ia fazer igual da última vez. Aposto que não iria gostar de acordar com um balde d'água na cara novamente. - Disse Quíron.

-Sim, já levantei. Pra quê isso? Eu já estou indo. - Disse, pouco ligando pra minha testa. Apenas pulei sobre as costas de Quíron.

-As lutas vão começar. A sua luta é a primeira. - Disse o centauro, saindo da casa grande em velocidade, indo a arena.

-O QUÊ? Mas eu nunca disse que iria lutar. - Disse a ele, espantado.

-Relaxe, seu oponente não é alguém tão forte assim. - Prometeu Quíron, chegando a Arena.

Em toda a minha vida, nunca tinha visto tanta gente reunida. A arquibancada da arena estava lotada. Lotada. Era como se todos os filhos de Hermes que já existiram estivessem ali. Quíron me deixou no meio da arena e então foi a um canto.

-Aqui está, o grande gênio por trás desse torneio. Ele quem deu a ideia, palmas a Mason Fox. - Disss Quíron.

Eles até me aplaudiram bastante. Mas eu aposto que era por causa do meu oponente. Aposto que foi porque eles queriam me ver cair perante Peter Wold. Peter era o filho de Ares mais velho que tinha no camp. Ele tinha 16 anos na época, era 3x do meu tamanho. Quíron soou a trompa, dando início a luta.

-Mas que merda... - Disse baixo, a mim mesmo.

Peter apenas olhou pro meu corpo escultural de 5 anos desnutrido e riu, tirando sua espada da bainha. O sol que batia no local fez com que ela brilhasse. Estava sol, mas ainda assim, Dionísio tinha permitido que nevasse na véspera de solstício, já que ele não estava lá. Peter veio pra cima de mim mais rápido do que consegui notar ele, me enfiando um soco no estômago que me fez ser arrastado pra trás e perder todo meu ar. Me debrucei no chão e todos daquela arena riram. Minha raiva sobre eles já era grande. Escutar aquilo, era pior ainda.

-Mas já acabou? Ah, qual é? Achei que você fosse o bicho doido que todos temem nos detruir, mas parece que a minha irmã caçula consegue te bater. - Disse Peter, parando na minha frente e me erguendo pelo pescoço. Ele mantinha um sorriso sádico em meio aos olhos cor de mel e o cabelo loiro, repicado. Eu não conseguia respirar. Eu ia morrer. Todos então começaram a zombar de mim, dizendo: "E eu tinha medo disso?", " Esse carinha é uma piada.", "Até os Myrmekos dão mais trabalho que esse tal filho de Érebo.", " Aposto que a mãe dele não comia proteína." Minha expressão se fechou. De repente, eu não sentia mais a falta de ar.

-Parece que você tem talento pra prender o fôlego, garoto. Mas, vamos ver por quanto tempo. - Disse Peter, sorrindo e apertando mais ainda meu pescoço.

-Pelo tempo que eu quiser. - Disse a ele. Então, um sorriso se abriu em meu rosto. Todos da arena se aquietaram, assistindo. Ergui minhas mãos vazias e sombras começaram a subir do solo, em um vórtice. Peter olhou pro vórtice e me soltou, me dando um soco no rosto. Caí no chão, cuspindo sangue e meus 3 dentes da frente. Me levantei rindo alto e as sombras cresceram, atrás de mim. Peter olhou, sem demonstrar nada e ergueu sua espada.

-Já lutei contra filhos de Hades antes. Sombras não me assustam. - Disse ele, partindo pra cima de mim, em um ataque vertical em meu tórax.

Apenas movi os braços e a escuridão fez seu trabalho. Se jogou frente a espada dele, a fazendo quebrar. Peter olhou pra sua espada quebrada com raiva e seus olhos começaram a pegar fogo.

-EU... EU VOU TE MATAR. ERA UM PRESENTE! - Exclamou Peter, dando um soco na escuridão. Seu braço fora absorvido por elas e prendido as mesmas.

-Sabe, eu mantive raiva de vocês esse tempo todo. Acho que está na hora de mostrar ele pra vocês. - Disse olhando pra ele. Sangue escorria no canto da minha boca. Em um piscar de olhos, o chão da arena havia se tornado totalmente preto, como o vácuo. Milhares de lâminas minúsculas saíram daquele solo, atravessando Peter. Ele gritou de dor e então, um cajado me puxou, me derrubando no chão.

-BASTA! - Exclamou Quíron, me segurando no chão.

-Ainda não acabou. - Disse olhando Quíron e, estalei os dedos. Peter foi engolido pelas sombras. Desapareceu. Quíron olhou perplexo pro meio da arena e eu pude me levantar. Limpei o canto da minha boca e olhei pra cada rosto daquela arena.

-Se mais alguém quiser me insultar e rir de mim em público, a hora é essa. - Disse, confiante. Tinha acabado de derrotar o líder do chalé 5. Nada poderia me parar agora. Nenhum deles se manifestaram. Então, cuspi mais sangue do que dá primeira vez, caindo inconsciente no chão.

Abri os olhos. Estava no topo de uma colina, sentado na grama. Quando percebi, estava no topo da colina Meio-Sangue. Uma brisa leve passava por ali, levando algumas folhas. Era agradável. O sol estava como sempre no céu, com todo o calor de Long Island.

-Parece que você finalmente acordou, irmãozinho. - Disse uma voz grossa e melódica. Virei o rosto e vi um homem de pele branca, cabelos negros e olhos castanhos. Ele era belo, isso era inegável.

-Quem é você? - Perguntei, assustado.

-Você logo vai descobrir. Eles temem a mim. - Disse o homem, apontado o Acampamento Meio-Sangue.

-Por quê alguém iria temer você? - Ergui uma sobrancelha. Ele não parecia assustador ou algo do gênero. O homem riu e me fez um cafuné no cabelo.

-Bem, eu só tive um favor a cumprir. Pegue. - Disse ele, entregando-me uma espada dentro de uma bainha. A peguei e quando fui contestar, ele havia sumido.

Fechei os olhos com força e os abri novamente. Quando abri meus olhos, eu estava em meu quarto. Um corpo estava debruçado sobre minhas pernas. Olhei pra baixo e vi que era Alyce, dormindo. Senti minha mão pesar, e, quando a olhei, lá estava a espada.

-Mas o quê... - Sussurrei a mim mesmo.

"Espero que goste do seu presente."

Uma voz disse em minha mente. Logo após, desmaiei mais uma vez, largando a espada.

The Old DarknessOnde histórias criam vida. Descubra agora