E lá estavam eles, meus fiéis companheiros me acordando firmemente sempre no mesmo horário. Copper saltou sobre meu peito, me tirando do transe do sono, ao mesmo tempo em que o feixe de luz solar me invadia as pálpebras, atordoando-me por longos segundos. Por um momento, percebi que essa havia sido a primeira noite, depois de meses, em que consegui dormir realmente, sem sonhos estranhos ou pesadelos assustadores, somente mergulhei no mais escuro da minha mente. Um sono tao bom como se estivesse morto. Mas agora, a energia parecia ter sido renovada.
- Bom dia Copper... - balbuciei.
Ele contorceu-se em minhas pernas, girou-se e se acomodou, como se estivesse esperando que acordasse para ter seu tao amado sono.
- Tudo bem amigo, a cama é toda sua. - levantei-me, indo até o banheiro.
Ao dar as costas para a cama, senti uma leve sensação de que algo se mexia. Virei-me e me deparei com a cama agora totalmente arrumada, aninhada, dando inveja à qualquer camareira. O gato mudou-se magicamente para o centro da cama, em cima de uma almofada bordô detalhada em dourado. Ele parecia não ter ao menos sentido o que havia acontecido.. . .
Desci as escadas, me preparando para que Rúbeo aparecesse de repente em algum lugar, mas nada. Por sinal, o lugar todo estava muito quieto, estranhamente quieto.
Já no último degrau, ouço batidas no topo.
- Que bom que já está de pé, Steven. - animou-se uma garota, apressando os passos até me encontrar. Encarei-a para tentar entender de quem se tratava.
Usava uma camisa social branca por dentro de uma saia drapeada azul marinho, junto a uma gravata de mesma cor, com meias de um cinza bem forte que cobriam por completo suas pernas e sapatos sociais negros e bem lustrados. Subindo para seu rosto, me deparei com lindos cabelos loiros presos em um rabo de cavalo por uma fita de seda vermelha.
- Amy?...
- Ora, claro. Quem você esperava? - reclamou ela, ajeitando o uniforme.
- É que você está tão...
- Meiga? Bom, é assim que andamos por aqui... E de certo modo, eu estava vestida para uma missão em campo.
- Missão em campo?
- Desculpe por não explicar antes. Vamos indo... - indicou o caminho com uma das mãos - Aqui n'A Trindade, nossos mentores nos mandam para missões em campo de modo que possamos aprimorar cada vez mais nossos poderes. Te salvar foi a minha missão. - sorriu - E foi um sucesso.
- Quanto a isso, Amy... Não tive oportunidades de lhe agradecer... Hã... Se não fosse por você...
- Se não fosse por mim, você teria virado ração de lobos cinzentos... - indagou - Mas não seria de todo mal, certo? Afinal, você sentiu pena por eles terem explodidos. - gargalhou, abrindo enormes portas de madeira, revelando um enorme salão, repleto de mesas fartas de comidas e adolescentes que pareciam não ter notado o novo integrante - Agora lhe apresento o Refeitório, Steven... E seus novos colegas. - disse, encostando em meu braço - Aliás, de nada.Por mais que tentasse pensar em algo mais, meus olhos eram hipnotizados pela bela aparência de toda aquela fartura, onde muitos eu jamais havia visto antes, muito menos provado.
- Irresistível não é mesmo Steven? - diz a voz, logo atras de nós, me assustando. Era o Sr. Bartos, que parecera se materializar logo que adentramos o refeitório. Por incrível que pareça, não estava tão surpreso - Seria mais que uma tortura imperdoável te impedir de aproveitar esse café da manhã, Steven... Mas preciso falar com vocês por um momento. - disse, dando meia volta e caminhando. Eu e Amy nos entreolhamos e o seguimos sem dar uma palavra - Foi muito bom encontrar com vocês dois juntos. Me poupou um bom tempo de procura... E nesse momento precisamos ser o mais rápido possível.
- Sr. Bartos, o que está havendo? - disse Amy, quebrando o silêncio.
- Recebemos sinais de que novos amuletos nasceram... - Amy pareceu surpreendida, mas como sempre, eu não estava entendendo nada - Amuletos de magia, Steven, assim como seu colar e a fita da Amy, são objetos que conseguem absorver uma aura mágica muito forte, tanto por algum tipo de ritual ou...
- Pela morte de um ente querido. - balbuciou Amy, com a voz falha.
- E esses são os mais perigosos, pois, além de coletar a aura mágica, conseguem também absorver os sentimentos ruins que se passam no momento, tornando a magia ainda mais forte, o que a faz extremamente perigosa e difícil de controlar. - disse ele, pondo a mão no ombro de Amy, acalmando-a - Com o surgimento desses sinais, infelizmente não podemos identificar quais podem ter sido criados por essa tragédia, por tanto, temos que agir rápido, antes que eles caiam em mãos erradas... Não preciso dizer a catástrofe que seria se esse tamanho poder fosse usado para o mal. - não conseguia imaginar a felicidade de Frans encontrando esses amuletos. Talvez a primeira coisa que ele fizesse fosse caçar a cabeça de dois adolescentes como prêmio.
- Sr. Bartos, tem certeza que nós somos as melhores escolhas? - indagou Amy.
- Certamente que não é de nossa índole mandar jovens aprendizes para uma missão deste tamanho. Porém, vocês demonstraram tamanha maestria, agilidade e destreza diante dos desafios, que resolvemos arriscar... - assustou-se pelo uso dessa palavra - Perdão. Resolvemos apostar em vocês dois novamente.
Nós nos entreolhamos, surpresos e animados.
O homem parou, se virando.
- Bom, estamos contando com vocês. - virou-se para Amy - Pode mostrar ao Steven o caminho, Srta. Sheridan?
Concordou ela e então continuamos, só nós dois.
Por alguns corredores, permanecemos em silêncio.
- Amy... Sobre aquilo que aconteceu na floresta ontem... - finalmente perguntei, tentando não encarar a expressão séria da Amy.
- Eu estava fazendo uma oração. Para Houdini, meu protetor. - ela sorriu, vendo minha confusão - A floresta do refúgio é um labirinto criado pelos Três Grandes no intuito de proteger o instituto e seus afilhados que nele habitam. Qualquer um que entra nela será sufocado e destruído. Aquelas vozes que você provavelmente ouviu eram as tentações da floresta, tentando desviar sua atenção do caminho, tentando te engolir.
- Uau... - meus olhos se voltaram à enorme porta de ouro maciço em frente. Possuía conquistas históricas gravadas. Líderes governando, heróis vencendo grandes batalhas, mágicos encantando enormes plateias... Minha boca curvou-se em um sorriso, como se tivesse vontade própria. Uma chama de coragem parecia crescer dentro de mim, me animando só de pensar na missão.
- Se sentiu confiante? - indagou Amy.
Concordei com a cabeça.
- Acho que a missão não será um problema.
Ela solta uma longa gargalhada, me deixando sem jeito.
- Essa é a porta dos heróicos. Ela relata os maiores feitos de todos que fizeram e fazem parte d'A Trindade. É feita toda de um ouro puro, recuperado na primeira missão realizada aqui. Desde então, absorveu toda coragem daqueles que se sacrificaram por ela. - estendeu uma das mãos - E agora ela está aqui, abençoando todos os estudantes. - Amy me olhou, fazendo um sinal para que eu também colocasse a mão na porta. Estendi uma delas, encostando-a na dela, e juntos empurramos. Senti meu corpo estremecer com a enorme onda de energia positiva me percorrendo.
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A Trindade - O Segredo dos Amuletos
FantasySteven vê sua vida virar do avesso após acontecimentos estranhos em sua vida. Ele descobre, então, que não é apenas um jovem órfão morando nas ruas de Nova Iorque, mas sim que sua importância chama atenção de muitas pessoas, boas e ruins. Em quem co...